Sacerdote deve viver em pobreza evangélica mas com direito a viver com dignidade


O Monsenhor Mário Rui de Oliveira (ex pároco de Tagilde/S. Paio de Vizela na foto) defendeu ontem no Conselho Presbiteral de Braga que os sacerdotes devem viver em pobreza evangélica, mas com direito a viver com dignidade.

Depois de ter apresentado a sua tese neste órgão consultivo, representante do Presbitério Arquidiocesano, presidido pelo Arcebispo Metropolita de Braga, o Monsenhor Mário Rui de Oliveira explicou que, desde o Antigo Testamento, é sublinhado que o sacerdote deve viver das coisas de Deus, tendo sempre sido considerado um “pobre de Deus”. Segundo ele, o fundamento de que os bens da Igreja devem ser sempre destinados para a caridade, o culto e o clero vem desde o início da tradição cristã e remonta até à tradição judaica da sustentação do sacerdote. 

“Por isso, o sacerdote, enquanto pobre, que dedica toda a sua vida exclusivamente a Deus, ao Altar, ele merece uma sustentação que seja digna com a sua condição, sempre no contexto de simplicidade, de pobreza evangélica, para dar testemunho, para que faça refletir o esplendor de Deus na sua vida”, disse. Assim, acrescentou, “o sacerdote tem direito a uma remuneração, a uma sustentação, e que a comunidade cristã, toda a Igreja, se sinta responsável e chamada a sustentar os seus ministros, vendo neles o rosto de Deus, o rosto de quem anuncia para eles qualquer coisa que é muito superior aos bens materiais”.

Na comunicação que proferiu, o sacerdote defendeu ainda que este viver em pobreza evangélica deve ser transmitido desde o seminário. “Uma das bases de reflexão é precisamente educar os jovens seminaristas para esta sensibilidade, para a pobreza evangélica, que nos é transmitida e proposta por Jesus, não como uma exigência, mas como exemplo da sua liberdade espiritual, que fazem uma opção livre e responsável por viver na simplicidade do Evangelho que nos é proposto por Jesus”, disse. Por isso, salientou, entrar na dinâmica da revisão do estatuto económico do clero é algo que também tem de nascer dos bancos do Seminário. “Na formação é preciso que isto seja perfeitamente transmitido aos jovens, para que eles saibam que, quando sairão dos Seminários, integrarão um sistema de sustentação que lhes dará toda a dignidade, mas dentro do espírito evangélico da simplicidade, da pobreza”, salientou.

Também falando à margem do Conselho Presbiteral, que se realizou nesta Semana de Oração pelos Seminários, o Arcebispo Metropolita de Braga, explicou que este órgão tem vindo a percorrer o ciclo de vida do presbítero. Nesta reunião, acrescentou, a incidência foi sobre o exercício do Ministério, o estilo de vida e o direito a viver do Altar e do Evangelho, nas questões práticas da vida das comunidades e o estatuto económico do clero. “Já várias vezes foram tentadas algumas soluções e, queremos ver se, no fundamento que é aqui apresentado, conversado, debatido, encontramos novas formas de viver sempre essa harmonia entre a gratuidade do dom recebido e a vida concreta naquilo que é o quotidiano na relação com as outras pessoas, com o mundo, com a história, no anúncio do Evangelho”, disse D. José Cordeiro. Neste encontro foi também abordado o manual de boas práticas na transição dos párocos e o perfil do moderador pastoral para os padres nos primeiros cinco anos de exercício do Ministério.

Por fim, o Cónego Manuel Joaquim Fernandes da Costa sublinhou que a missão essencial do Conselho Presbiteral é, precisamente, refletir e aprofundar “o que é o viver, sentir, o estar na vida ao serviço da Igreja” do sacerdote.


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