A fotografia mostra um carro enfeitado na Batalha das Flores realizada em Vizela, no ano de 1928.
As duas Vizelas!
Tem Vizela, dentro dela, duas Vizelas diferentes: uma feita de memórias, onde o luar bate nas pedras morenas da Ponte Velha.
Nessa Vizela luminosa, não são esquecidas as suas epopeias, porque as águas do rio Vizela, sufocadas de margens esverdeadas por salgueiros, musgos e heras, murmuram as suas lendas ao passar por baixo dos arcos da Ponte Nova e também revelam as juras de amor, feitas em segredo pelos namorados na Ilha dos Amores.
Era a Vizela dos hotéis, dos casinos e dos piqueniques no Penedo da Saudade.
Na romântica Rua Dr.Abílio Torres, desfilava a Batalha das Flores e cantavam boémios trovadores.
Era a rua dos banhistas, dos enxota-moscas e dos carros de bois.
Nela passavam descalças as carquejeiras, os rebanhos de cabras e as caravanas de ciganos.
Era a rua dos pregões das sardinheiras, dos cauteleiros, dos vendedores de lampreias, dos corretores dos hotéis e ouvia-se o inconfundível assobiar do guardasoleiro.
Foi a Vizela do Luar de Prata e do Vizela a Cantar.
Nos caminhos dos tempos percorridos com passos heróicos, aparece a outra Vizela de portas abertas à modernidade, a Vizela da alegria, do bem-estar, do convívio nas esplanadas. Esta é a Vizela dos meus amores.
Para além do Jardim, onde debaixo dos Castanheiros da Índia descansa Camilo Castelo Branco, tem no meio da bonita Lameira, a vaidosa Bica-da-Água-Quente, da lenda de quem lá molhar a mão, fica em Vizela para sempre.
Além do Parque e da Cascalheira, que atravessaram as duas Vizelas, tem também a frescura da Zona Ribeirinha.
É a terra de uns passadiços erguidos ao céu nas margens verdejantes do Rio Vizela e do Ribeiro de Sá.
Agora na romântica Rua Dr Abílio Torres, passam as recordações da outra Vizela, no "Cortejo de Vizela dos Tempos Idos".
O cortejo saturado de poesia, mostra as tradições de um passado que foi grande, que foi belo.
A primeira Vizela é o perfume da segunda.
Texto e foto Facebook de José Videira