O António da AIREV escreveu uma carta ao Pai Natal

 

Querido Pai Natal,

O meu nome é António e sei que já não tenho idade para te escrever...

... mas este Natal preciso, mais do que nunca, de abrir o meu coração, já que percebo que não sou a única pessoa nesta situação e talvez tu nos possas ajudar. Raras vezes sou visto pelos outros, mas sei que tu viajas muito, Pai Natal, e acredito que nas tuas expedições, com a tua visão privilegiada, consigas entender que não é justo, para mim, terminar a escolaridade obrigatória e ficar fechado dentro de quatro paredes, simplesmente porque não há uma solução pensada para mim. 

Não é justo para os meus pais, trocarem sucessivamente de turnos para que eu esteja acompanhado. Não é justo para a minha avó, já bastante debilitada, ser o plano B, quando os meus pais não conseguem completar o puzzle dos horários e recorrem a ela, para garantirem que alguém fique comigo. Mas volto a repetir, não é justo para mim, Pai Natal.

Eu também sou uma pessoa. Tenho deficiência, mas sou uma pessoa, que gosta de ter rotinas, de conviver com outras pessoas e de se sentir realizada. Porque dentro das minhas limitações, existem infinitas possibilidades e dentro do meu coração existem vontades, anseios e sonhos.

Sabes, Pai Natal, com tanto tempo livre, todos os dias vejo as publicações nas redes sociais da AIREV e imagino-me ali, a fazer parte, a ser proativo e a mostrar ao mundo tudo aquilo de que sou capaz!

Um dia, insisti com a minha avó e telefonamos para lá. Explicamos o quanto eu queria ter a oportunidade de integrar esta associação. Do outro lado, disseram-nos que compreendiam, mas a lista de espera era extensa e sem a nova casa, não podiam fazer nada, porque não tinham vaga para mim... Vaga... Não terei eu direito a ter uma vaga na sociedade? As lágrimas apareceram e com o desespero implorei 'por favor'. Chorei muito. 

A minha avó chorou e a senhora, que carinhosamente falava do outro lado da linha, chorou também e desdobrou-se em desculpas por não ter o poder de fazer mais.

Pediu-me paciência e disse-me que fariam de tudo para avançar com a construção da Nova Casa em breve.

Por isso, Pai Natal, hoje fiquei contente por ter descoberto a tua morada e saber que tens a chave para me ajudar a abrir a porta da minha nova casa.

O sapatinho já está pendurado na chaminé e a esperança já embrulhou o meu coração, porque sei que não te vais esquecer de mim.. .

Muito obrigada!

Com carinho,

António



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