SAMU: À medida que se sobe de patamar o erro paga-se mais caro.


Por cortesia e parceria do Flashscore, reproduzimos uma entrevista ao capitão do FC Vizela, Samu Silva publicada ontem pelo site de resultados e classificações desportivas nacionais e internacionais. 

"É um dos principais rostos do Vizela e agora o único resistente da equipa que fez a ascensão meteórica do Campeonato de Portugal à Liga. Em conversa com o Flashscore, Samu Silva abordou a carreira, a época do Vizela e o futuro com o contrato a acabar no próximo verão.

Aos 27 anos, Samu é o principal rosto do Vizela. A cumprir a quinta temporada no clube, o médio tem sido um esteio no meio-campo minhoto por entre os três escalões onde jogou e esta época é mesmo ele quem enverga a braçadeira de capitão.

Com a carreira iniciada no FC Porto, mas a formação completada no Boavista, soma já quase 150 jogos (141) pelo conjunto nortenho. Acedeu falar ao Flashscore, onde passou em revista a temporada, os primódios enquanto jogador e a convivência com Álvaro Pacheco e Petit.


- Samu associa-se ao Vizela, mas também o inverso é realidade. Quando chegaste há quatro anos, pensaste que ia ser uma ligação duradoura?

- Sinceramente, na altura não pensei muito nisso. Vinha de uma fase complicada, em que estava a jogar menos no Boavista e o projeto do Vizela aliciou-me, ia ao encontro das minhas ambições, mas não estava à espera de uma ligação tão forte.

- É uma carreira de avanços e recuos. Chegas cedo ao FC Porto, mas acabas por sair quatro anos depois, ainda sub-15, para o Boavista. Sentiste algum impacto emocional nessa troca?

- Na altura não senti esse impacto. Nos sub-14 existiam duas equipas, nos sub-15 passa para uma e eles tomaram opções. Quando somos jovens queremos é jogar, não interessa muito onde o fazemos. Claro que se sente as diferenças, eu queria era jogar à bola e o maior número de tempo possível.


- Curiosamente no Boavista chegas rapidamente à equipa principal e nessa altura o clube acaba por ser colocado de novo na Liga. Acabou por ser prejudicial para a tua carreira?

- Não sei, poderia ter sido diferente se continuasse no Campeonato de Portugal. Eu ainda nem era sénior quando me estreei, depois no primeiro ano na Liga não faço a pré-época, só duas semanas, porque vinha de uma lesão no ano anterior e também poderá ter tido influência. Mas ainda tinha o ano de júnior e acabei por alternar entre as equipas.

- Somas, também, três jogos com a camisola da seleção (sub-19). É sempre especial...

- São momentos que ficam para a vida, que nos marcam muito e nos enchem de orgulho. É muito bom.

- É sempre uma carreira a pulso, com empréstimos a Fafe e Espinho. Foi bom sair da zona de conforto que era o Boavista?

- Na altura são opções que temos de tomar, porque a realidade é que eu não estava a estar espaço e o jogador gosta de jogar, precisa disso, é assim que evolui. Por isso acredito que esses dois empréstimos foram bons para mim.

- Acabaste por te ir moldando enquanto jogador ou o Samu foi sempre assim desde a formação? 

- Obviamente que nos vamos moldando, sobretudo aqui no Vizela. O jogador que sou hoje não é mesmo que cá chegou. Fomos subindo degraus, tivemos de adquirir coisas diferentes e acabo por concordar. Tenho de moldar ao que me vão exigindo ao longo dos anos.

- Chegas a Vizela e nos dois primeiros anos tens logo sucesso individual e coletivo. Acabou por alavancar o clube para uma realidade diferente. Este crescimento do Vizela também é um bocadinho o do Samu?

-Sim, sinto isso, que faço parte desse crescimento, como o Kiko Bondoso e o Kiki, que viemos do Campeonato de Portugal à Liga. Sentimos que é também o nosso sucesso, juntamente com o clube, e em campo demonstrámos essa qualidade.

- Sentiste diferença em saltar do Campeonato de Portugal para a Liga?

- Há diferenças grandes. A maior passa muito pelo erro. À medida que sobes de patamar o erro paga-se mais caro. Essa é a grande diferença. Em termos de qualidade, existe muita qualidade nos campeonatos inferiores, não existe é a visibilidade. Obviamente que a intensidade é mais forte, mas o erro paga-se mais caro e sente-se mais na pele- Daquele trio que falámos (Kiki e Kiko Bondoso) restas tu, até quando?

- Tenho contrato até ao fim da época. Vou honrar todos os dias, fazer o melhor para poder ajudar em todos aspetos.

- Quando olhas para trás e vês os teus colegas do FC Porto, em que alguns chegaram à Liga 2, foram campeões no segundo escalão antes de ti, mas não conseguiram dar o salto que tu deste. És uma espécie de exemplo para quem vem de baixo para perceber que nem tudo é assim tão linear?

- Às vezes não temos de ter medo de dar um passo atrás, ficar chateados ou desistir. O meu exemplo é bom nesse sentido, porque devemos acreditar sempre em nós e que é possível, mesmo estando em clubes de menor dimensão.

- É o exemplo que dás ao teu irmão (Roberto)?

Sim, tento passar essa mensagem para ele. Porque é importante, principalmente acreditar em nós, porque quando temos de dar o passo atrás existem dúvidas, que são completamente normais, mas o mais importante é trabalhar todos os dias e acreditar muito em nós.

- O facto de teres trabalhado com treinadores com personalidades diferentes, como o Petit ou o Álvaro Pacheco, ajuda também a crescer?

Isso faz com o que o jogador cresça e é aquilo que falámos, o jogador tem de se moldar. Treinador diferente, ideias diferentes e o jogador tem de estar apto para contarem sempre com ele. É o segredo, por exemplo, uma situação que acho que em Vizela ganhei foi a intensidade de jogo, os duelos, as agressividades. Eu era um jogador mais passivo nesse aspeto e consegui adquirir aqui, com o mister Álvaro Pacheco.

- Como foi essa relação com o Álvaro Pacheco?

Para mim foi fácil porque acredito que se formos melhores todos os dias vamos ser melhores no jogo. E acho que essa exigência é positiva e faz com que consigamos ser competitivos em todos os jogos.

- O Vizela já não é novidade, os adversários olham com respeito, mas o clube vive uma fase de transformação. Como está a ser a nova vida do clube?

Acho que acabou por se notar um bocadinho na fase inicial. Foram várias mudanças, o entrosamento não é igual ao do ano anterior. Mas nestes últimos dois jogos conseguimos mostrar uma organização diferente, todos a perceber como o colega pensa e a pensar praticamente todos da mesma forma e com o decorrer dos jogos vai-se notando ainda mais.

- O facto de seres dos mais experientes da equipa, apesar de longe da veterania, leva a dois papéis: a integração do novo treinador, mas também a ambientação de um treinador novo que chega uma realidade diferente.

- Nisso tenho ajuda dos outros capitães que estão aqui há dois, três anos. Isso permite que quem chega seja bem recebido e todos remamos para o mesmo lado. É um dos segredos que temos aqui: acolhemos todos bem.

- Há pouco dizia que o contrato dura até junho, mas também quer dizer que a partir de janeiro já está livre para assinar por outro clube. Já existe proposta de renovação?

- No ano passado perguntaram isso. Existe o interessa, mas não estamos focados nisso neste momento, sim em conquistar o máximo de pontos possível para o Vizela conseguir o objetivo o mais rápido possível.

- Quando olha para trás, nestes quatro anos, que diferenças é que nota no crescimento do clube, no envolvimento da massa adepto. Há cada vez mais adeptos no estádio?

- Felizmente foi um clube onde senti o apoio desde o Campeonato de Portugal. Obviamente na Liga mete mais gente, mas sempre sentimos o apoio e o calor do publico e acho que isso também fez com que o clube conseguisse crescer de uma forma sustentável, porque a ligação do clube com os adeptos é fantástica e em muitos jogos ajudam-nos.

- O Vizela fica aqui emparedado por outros emblemas importantes. Este é o limite do Vizela ou pode almejar um patamar mais elevado?

- Acredito que o clube consiga almejar um patamar mais elevado porque é o que eu penso para mim e para a vida em geral. Se fizermos as coisas bem feitos e quisermos melhorar todos os dias, no futuro vamos sempres melhor, por isso acredito que se pode almejar sempre patamares superiores.

- Olhando para a época transata, o Vizela tem apenas menos dois pontos na mesma jornada. Acaba por ser positivo conseguir ultrapassar esta fase de ambientação da nova realidade sem que exista esse prejuízo?

- Não é negativo, como também não é positivo. Podíamos ter mais pontos, mas já enfrentámos equipas grandes e isso agora permite, com a equipa mais entrosada, começar a conquistar mais pontos com maior frequência. 

- Quem é que são para o Samu os principais adversários nesta luta pela manutenção?

- Para nós não existem adversários. Competimos todos no mesmo campeonato. E como já aconteceu em épocas anteriores, nesta fase houve equipas em 14.º e acabaram em sétimo. É um campeonato muito equilibrado.

- Treinadores que mais marcaram e que irmãos é que o futebol te deu.

- Os que mais marcaram acaba por ser o Petito porque me lança e o Álvaro Pacheco em Vizela porque tivemos um crescimento muito grande do Campeonato de Portugal até à Liga e sempre com a valorização de muita gente, que é importante. Em termos de irmãos, em Vizela ganhei muitos porque o sentimento de família era mesmo muito grande e tenho o Kiki e Kiko Bondoso que vieram desde o Campeonato de Portugal, na Liga 2 apareceu o Guzzo e agora mais recente o Tomás Silva. Mesmo no Boavista tive pessoas que me ajudaram bastante como o Mika, o Edu Machado, o próprio Talocha. São pessoas que levo para a vida.


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