Gosto de falar de coisas esquecidas, para as manter vivas.
Algumas memórias da minha meninice estão atadas nesta argola na rua da Rainha.
Quando a pé saía de casa, no Hotel do Padre, em direção da escola na "Feira dos Porcos", passava por esta argola na Rua da Rainha, nela estava presa por uma correia a mula do Azeiteiro enquanto o Gualter carregava a carroça com mercearia para a vender por casas em Vizela e principalmente nas freguesias vizinhas.
Nos dias em que o Gualter azeiteiro ía vender para Moreira de Cónegos, ao passar pela Rua Dr. Braúlio Caldas (atual Avenida dos Bombeiros), a mula puxava a carroça aos zigue-zagues para assim chegar com menos esforço até à Ponte de Pau.
No fim de cada dia de trabalho a mula e a carroça eram guardadas na viela da Rua da Rainha por baixo da casa do Chico Cunha funileiro, onde atualmente mora o Ângelo Cereja com a esposa Maria.
Por vezes, no inverno, a altas horas da noite, quando o Ribeiro de Passos transbordava em consequência de chuvas intensas, e enchia de água a Rua da Rainha, a mula e a carroça eram retiradas para local seguro.
O Gualter azeiteiro era bastante conhecido em Vizela, devido ao seu trabalho, que era o negócio dos pais, mas também, porque era sócio do Centro de Recreio Popular das Caldas de Vizela, associação que realizou as primeiras 'Festas da Vila", nos dias 28 e 29 de agosto de 1954.
Além disso, também era motorista dos bombeiros de Vizela.
Quando o Gualter transportava um sinistrado na ambulância Ford de caixa alta, com a sirene sempre a tocar, e em grande aceleração, passava nos paralelepípedos da Rua Dr. Abílio Torres, entrava na rua em terra da Braúlio Caldas (atual Avenida dos Bombeiros Voluntários e o hospital era onde está hoje a Unidade de Cuidados Continuados de Vizela) em direção ao hospital, fazia-o com tanta velocidade, que, por vezes, parecia que a ambulância ía tombar.
Nessas ocasiões as pessoas até diziam:
"Fujam que vem aí o Gualter".