Manhã em Vizela é um celebre quadro de valor incalculável do pintor Silva Porto (1850-1893). Está exposto no Museu Nacional Grão Vasco em Viseu onde é muito visitado. A foto foi-nos gentilmente enviada por Eduardo Guimarães.
Na tela é visível um imóvel sobre o rio Vizela (Silva Porto pintou muitas paisagens, rios, natureza, etc), podendo ser a azenha do moleiro Malaquias junto ao pavilhão termal (o nome do moleiro foi reduzido para Maquias).
SILVA PORTO
No jornal ETC. e TAL pode-se ler sobre o pintor.
Era natural do Porto, da freguesia da Sé, onde nasceu a 11 de Novembro de 1850. Filho de um latoeiro e cinzelador, António da Silva Carvalho e de uma bordadeira (premiada pela Associação Industrial do Porto), Margarida de Silva Carvalho, viveu com a sua família no mais antigo bairro da cidade. Primeiro, habitaram na Rua da Ponte Nova e, depois, na Rua de Santo António do Penedo. Ao seu nome, o jovem recatado e pouco exuberante, acabaria por anexar o cognome “Porto”, dizem, que por bairrismo, como homenagem à sua cidade natal.
Silva Porto, depois de ter frequentado a Instrução Primária, ingressou na Escola Industrial, onde depressa sobressaíram a sua sensibilidade para a arte e o seu talento, sobretudo no desenho. Mas, dessa época, conhecem-se-lhe outros trabalhos artísticos, nomeadamente, aguarelas e numerosas esculturas miniaturais, sobre caroços de fruta.
Em 1865, iniciou a frequência na Academia Portuense de Belas Artes, na aula de Desenho Histórico. Nesta instituição, frequentou vários cursos (Escultura, Arquitectura), obtendo sempre as mais altas classificações.
Com vinte e três anos de idade (1873) inscreveu-se no Concurso de Pintura de Paisagem e, depois de ter sido seleccionado, partiu para Paris, a fim de frequentar a Escola Nacional e Especial de Belas Artes, onde foi discípulo de mestres insignes. Durante esse tempo, teve possibilidade de conviver com outros grandes pintores. Entre 1877 e 1878, desenvolveu a sua aprendizagem com uma estada em Itália e com viagens, pela Bélgica, Holanda, Inglaterra e Espanha, no sentido de completar a sua formação artística e sempre empenhado em saber mais e fazer melhor.
Quando em 1879 regressou a Portugal, foi proposto, pelo vice-inspector da Academia de Belas Artes de Lisboa, para reger a cadeira de Pintura de Paisagem, daquela instituição. Foi aceite por unanimidade sendo, depois, nomeado “Académico de Mérito”, pela Academia Portuense de Belas Artes.
Em Lisboa, foi frequentador do Café Leão d’Ouro, onde se constituiu o “Grupo do Leão”, uma tertúlia de artistas e escritores portugueses, de que fizeram parte, entre outros, os irmãos Rafael e Columbano Bordalo Pinheiro, o pintor José Malhoa e o próprio Silva Porto.
Em 1885 o “Grupo do Leão” foi imortalizado num óleo sobre tela com o mesmo nome, da autoria do pintor Columbano Bordalo Pinheiro, onde Silva Porto também se encontra representado.
Entre meados do século XIX e inícios do século XX, a Europa viveu um tempo de enormes transformações, em diversos domínios e a pintura não fugiu a essas mudanças, pois surgiram várias correntes artísticas e criam-se novas técnicas de pintura.
Silva Porto foi seguidor das correntes artísticas, em voga na época, expressas numa pintura com características naturalistas e realistas. Sobressaía um gosto pela natureza observável, de preferência in loco (árvores, animais, pastos, rios,…), representando-a com a maior fidelidade e minúcia e um realismo plasmado nas cenas pintadas que deveriam mostrar a vida tal como ela era, tanto na vida citadina, como nas temáticas rurais. Para ser o mais fiel possível a estas tendências, Silva Porto deslocava-se com os seus cavaletes para o campo e pintava os motivos ao natural. Foi considerado, pela crítica da época, como o mestre do Naturalismo e o renovador da pintura de paisagem, em Portugal. Este portuense, desempenhou um papel relevante no meio artístico português, distinguindo-se a sua pintura pela luminosidade e cor.
Silva Porto, representante do Naturalismo em Portugal, ficou sobretudo conhecido como pintor de paisagens, colhidas principalmente nos meios rurais, paisagens povoadas de animais e de pessoas, desempenhando tarefas do quotidiano.
O escritor Ramalho Ortigão chamou-lhe o “Corot português” e sobre ele escreveu: “[…] “foi ele o primeiro dos nossos pintores que, frente a frente com a natureza, humildemente, pacientemente e apaixonadamente a inquiriu nos seus múltiplos aspectos, fugidios como o dia que corre e o sol que passa […]”.
Silva Porto deixou uma obra onde o Homem e a Natureza se encontram em harmonia, numa relação marcada pelo sentimentalismo e pela fidelidade à realidade do campo.
Participou em múltiplas exposições de pintura, quer em Portugal, quer no estrangeiro e foi admirado e aclamado como “Divino Mestre” pelos companheiros, como um dos melhores valores da nova geração, da segunda metade do século XIX.
Foi casado com D. Adelaide Torres que quem teve vários filhos. A sua vida foi breve, mas intensa. Faleceu em Lisboa, a 1 de Junho de 1893, com 43 anos, legando-nos uma vasta e valiosa obra pictórica, amplamente representada no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto e no Museu do Chiado, em Lisboa.
Texto: Maximina Girão Ribeiro