Como era expectável, as redes sociais não tardaram a ficar bastante preenchidas com mensagens de pesar face à morte do padre Adelino Rosas, pároco de Infias, Vizela e Conde S. Martinho, Guimarães.
Desde organismos oficiais, associações, clubes, pessoas diversas, foram imensas as mensagens publicadas.
As notícias do Digital de Vizela sobre o infausto acontecimento foram imensamente partilhadas e comentadas por várias centenas de pessoas em solidariedade com um sacerdote que tão cedo não será esquecido.
E desde então e depois de cada um ter ido para seu lado, sempre se manteve a amizade solidária que nos unia e nos reunia pelo menos uma vez por ano.
Desde há três décadas, como passámos a ser quase vizinhos, sempre nos íamos vendo mais vezes. E em muito me ajudou o P. Rosas por alturas da criação do orfeão “Laudate Dominum”, cujos ensaios começaram a sério na sua igreja, com disponibilização do espaço necessário e até com dispensa da chave da igreja. Ele tinha uma confiança absoluta na minha pessoa e isso lhe devo em agradecimento.
E sempre que me via, exclamava, na sua voz de trovão que até se ouvia na distância: “Oh Marques! O Vosso coro é a melhor medicação que me apareceu para as minhas insónias! Quando me deito e vos oiço a cantar, é como se estivesse a caminho do céu! Adormeço feliz! Estou sempre à espera das noites dos vossos ensaios!”
Com ele, em comum, foi a preparação da nossa reunião de curso académico, ocorrida em 05.10.2010, cuja Eucaristia foi na sua igreja de Infias, em concelebração presidida por ele. Com visita, depois, à capelinha de S.ta Ana. E almoço no então restaurante “Xisto”, na encosta de S. Bento.
E como ele era um sacerdote sempre disponível para tudo e para todos e nunca dizia não a ninguém, nem se escusava com desculpas, não tinha horário de trabalho e de atendimento. E até de longe pessoas feridas na alma vinham à procura da sua disponibilidade de samaritano, pois o P. Rosas tinha um dom muito especial de acolhimento.
E a todos atendia. Fosse dia, fosse noite.
E quando foi o almoço do nosso convívio, até desse almoço teve de se ausentar, pois alguém precisava dele. E ele lá foi.
Dizia-me ele: o Senhor chamou-me para servir o meu Povo. Dia e noite. E por isso, estou disponível as 24.00horas do dia. O meu cartório não tem horário de atendimento – é sempre em função das suas necessidades e das suas aflições! Do meu Povo e de quantos me procuram!
Caiu, de pé, no seu posto!
Conversávamos até bastante, de vez em quando, embora nestes últimos tempos isso não tenha acontecido com essa regularidade. E falávamos de tudo um pouco. E do que falávamos, as nódoas da igreja católica, já nesse tempo, eram também assunto.
Uns bons tempos antes, o P. Eduardo Abreu, condiscípulo também, inconformado e triste e também já falecido, e um dos concelebrantes na Eucaristia daquele nossa reunião-convívio, tinha-me dito, pesaroso, que esta igreja católica de hoje não era já a Igreja de Jesus Cristo que lhe haviam ensinado. E pouco depois, este condiscípulo P. Rosas, numa dessas nossas conversas, o mesmo disse também, desabafando: estou triste com a Igreja que sirvo, pois cada vez mais ela é menos a Igreja de Jesus Cristo...
Tenho isto escrito nas minhas memórias.
Fiquei emocionado, ontem à noite, pouco antes de me deitar, quando soube do seu falecimento, não obstante ele ser esperado, pois, no sábado anterior, foi transportado para o Hospital de Braga, com doença grave fulminante.
Agora, o mais provável é irem ser mais duas igrejas a ficar sem padre residente e a serem assistidas pelos da periferia. E por esta andar, infelizmente não tardará muito, as igrejas católicas nas aldeias passarão a estar encerradas até aos domingos.
E neste âmbito de abandono e solidão, tenho na memória a igrejinha pequenina, de presépio, onde em criança aprendi a doutrina e onde, por ocasião de umas férias de Natal, aí se mudou o futuro de uma vida. Para sempre. Afinal, o começo de mais uma etapa de tantas pelo futuro adiante e sempre a sermos por esse Futuro empurrados até ao nosso fim terreno.
A ti, P. Rosas, o futuro empurrou-te até aos 85 anos. Sempre no activo! Com a solidez dos ciprestes do Líbano "plantados na Casa do Senhor, nos átrios do nosso Deus (" ou das sequoias do parque! - Salmo 92: "os justos florescerão como a palmeira, crescerão altaneiros como o cedro do Líbano; plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso Deus. Mesmo na velhice, cheios de seiva e viço produzirão muitos frutos(...)".
Caíste de pé, amigo P. Rosas!
Descansa em paz. Com o meu abraço. Daqui até ao céu onde já estás.