O nosso colaborador António Cunha, dado a inúmeras investigações sobre publicações com referência direta a Vizela, descobriu esta pérola com quase 107 anos, sobre uma conferência do ministro (vizelense) dos Negócios Estrangeiros, Augusto Soares, inserta no periódico brasileiro A Noite, de 12 de Setembro de 1915: "O Dr. Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, que se acha veraneando em Vizella, foi chamado hontem com urgência a esta capital (Lisboa), afim de tomar parte na reunião do conselho do gabinete, que se realizou á noite.
Terminada a reunião o Dr. Augusto Soares conferenciou com o ministro da Inglaterra.
Hoje de manhã o titular com a pasta dos Negócios Estrangeiros regressou para Vizella".
A biografia de Augusto Soares (genro do Dr. Abílio Torres) pode ser lida mais abaixo. O seu apelido (e da benemérita esposa Elisa Torres) está ligado ao lar da Santa Casa da Misericórdia de Vizela, Lar Torres Soares.
Uma das mais proeminentes figuras de Estado da Primeira República, a par com Afonso Costa, Bernardino Machado, Sidónio Pais ou António José de Almeida, foi sem dúvida, o Dr. Augusto Soares.
Bracarense de nascimento e vizelense de adoção e coração, por casamento com D. Elisa Alice de Freitas Torres, filha primogénita do ilustre médico hidrologista, Dr. Abílio Torres, era um homem de fino trato e elevada cultura, devotando-se à política e à diplomacia, tornando-se conhecido e respeitado internacionalmente.
Augusto Luís Vieira Soares, filho de João Pedro Soares e D. Maria Madalena Vieira, nasceu na freguesia de S. João do Souto, concelho de Braga, no dia 5 de Outubro de 1873.
Acabado o ensino liceal, parte para Coimbra, formando-se em Direito, com apenas 24 anos.
A nível profissional exerceu os cargos de presidente do Banco Industrial Português; administrador da Caixa Geral de Depósitos, administrador da Companhia de Moçambique (criada em 1891, com delegações em Zambézia e Sofala); administrador delegado da Companhia de Boror (Empresa Colonial criada em 1899, na Zambézia).
A nível político, o Dr. Augusto Soares foi filiado no PRP, Partido Republicano Português, exercendo diversos cargos de elevada responsabilidade política, como procurador-geral da República, ministro da Justiça e ministro dos Negócios Estrangeiros.
Numa fase bastante conturbada da nossa incipiente República, Augusto Soares foi ministro dos Negócios Estrangeiros, em diversos e distintos governos: de 12.12.1914 a 25.01.1915, de 19.06.1915 a 26.10.1915, de 29.11.1915 a 12.06.1916 e de 19.11.1917 até ao golpe “Sidonista” do dia 5 de Dezembro.
É como ministro dos Negócios Estrageiros que Augusto Luís Vieira Soares, recebe a Declaração de Guerra, que a Alemanha fez a Portugal, a 9 de Março de 1916.
A presença de Portugal na Grande Guerra, há muito que se adivinhava, fruto da insistência da Inglaterra e do interesse do governo, como se depreende da leitura de Augusto Soares, vertida no Diário do Congresso, Sessão nº 9, de 10 de Março de 1916: “Logo no inicio da Guerra, em 7 de Agosto de 1914, com o aplauso unanime deste parlamento, que em circunstância alguma faltaríamos aos deveres da aliança que, livremente, contraímos com a Inglaterra. Também no mesmo ano em 25 de Novembro e com o mesmo aplauso, novamente o Governo da Republica, assegurou o firme propósito de manter até aos últimos sacrifícios, a solidariedade secular entre Portugal e a Inglaterra, base imprescindível da nossa progressiva valorização mundial”.
E continua: “…em momentos houve que a nossa cooperação nos campos de batalha da Europa esteve iminente e seguramente se teria efetuado, se não tivesse derivado o nosso esforço para outros lugares, onde surpresa nos chamara um ataque traiçoeiro das forças alemãs….”
Refere-se Augusto Soares ao ataque das forças germânicas, ao Posto de Maziua em 24 de Agosto e pela calada da noite, onde assassinaram a sangue frio os responsáveis pelo posto.
No dia 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal. Esse facto tem antecedentes e consequentes.
Na nota entregue ao Dr. Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Português, por ordem do Governo Imperial, pelo seu representante em Lisboa, Sr. Rosen, os motivos dessa resolução são extremamente alegados, ofendendo-se umas vezes propositadamente a verdade dos factos, desnaturando-se noutras a sua precisa e correta significação. A atitude da Alemanha para com Portugal foi durante muito tempo enigmática, dúbia e desleal. A atitude de Portugal com a Alemanha foi sempre clara, franca e insofismável.
Há, erroneamente, quem pense que a guerra se desenrolou somente em França, contudo para além dos constantes ataques a Angola e Moçambique, territórios cobiçados pelo imperialismo alemão, na costa portuguesa os ataques, a partir dos submarinos alemães eram constantes, nomeadamente a norte ao largo de Esposende e Viana do Castelo.
Vimos já que Augusto Soares era homem de fino trato, elevada cultura e superior inteligência.
Assim o reconhece João de Barros, director da Revista Atlântida, nº11 de 15 de Setembro de 1916, pág. 1004 a 1008. “… O ministro acolheu-me sorrindo. É o «charmer» de sempre. Num silêncio que não sei quebrar, imagino por instantes o quanto deve ter sido útil ao prestigio da Pátria e da República, a presença deste diplomata cativante e subtil, em meios de vasta civilização e elevada cultura, como são os de Londres e Paris. Nas duas prodigiosas Metrópoles, entre os mais celebres representantes da politica e da sociedade, o nosso ministro não pode senão ter sobressaído e onde outros se apagariam, ele encontrou sem dúvida alguma, mil possibilidades de brilhar e triunfar…”
Noutro âmbito, o Dr. Augusto Soares, esteve ligado ao Banco Industrial Português, que tinha sede em Lisboa na Rua Augusta, sendo seu presidente desde a sua fundação em 1920 até à sua extinção em 1924. O período conturbado da Primeira República (que acabou por conduzir pronunciamento militar de 28 de Maio de 1926), não augurava boa oportunidade para o Banco e Augusto Soares e Júlio Martins, ministro em várias pastas e governos, adquirem a Companhia de Cerâmica Lusitana, que teve uma monumental encomenda de tijolos para a construção da Praça de Toiros do Campo Pequeno.
A grande dedicação pública e política colocada em prática por Augusto Luís Vieira Soares valeram-lhe as seguintes condecorações: “Grã-Cruz da Torre e Espada”, “Grã-Cruz de Isabel a Católica” e “Legião de Honra”.
Falecido a 7 de Junho de 1954, com 81 anos, Augusto Luís Vieira Soares repousa em jazigo de família, no Cemitério de Barrosas.
AUGUSTO SOARES
(Texto Júlio César Ferreira)
Uma das mais proeminentes figuras de Estado da Primeira República, a par com Afonso Costa, Bernardino Machado, Sidónio Pais ou António José de Almeida, foi sem dúvida, o Dr. Augusto Soares.
Bracarense de nascimento e vizelense de adoção e coração, por casamento com D. Elisa Alice de Freitas Torres, filha primogénita do ilustre médico hidrologista, Dr. Abílio Torres, era um homem de fino trato e elevada cultura, devotando-se à política e à diplomacia, tornando-se conhecido e respeitado internacionalmente.
Augusto Luís Vieira Soares, filho de João Pedro Soares e D. Maria Madalena Vieira, nasceu na freguesia de S. João do Souto, concelho de Braga, no dia 5 de Outubro de 1873.
Acabado o ensino liceal, parte para Coimbra, formando-se em Direito, com apenas 24 anos.
A nível profissional exerceu os cargos de presidente do Banco Industrial Português; administrador da Caixa Geral de Depósitos, administrador da Companhia de Moçambique (criada em 1891, com delegações em Zambézia e Sofala); administrador delegado da Companhia de Boror (Empresa Colonial criada em 1899, na Zambézia).
A nível político, o Dr. Augusto Soares foi filiado no PRP, Partido Republicano Português, exercendo diversos cargos de elevada responsabilidade política, como procurador-geral da República, ministro da Justiça e ministro dos Negócios Estrangeiros.
Numa fase bastante conturbada da nossa incipiente República, Augusto Soares foi ministro dos Negócios Estrangeiros, em diversos e distintos governos: de 12.12.1914 a 25.01.1915, de 19.06.1915 a 26.10.1915, de 29.11.1915 a 12.06.1916 e de 19.11.1917 até ao golpe “Sidonista” do dia 5 de Dezembro.
É como ministro dos Negócios Estrageiros que Augusto Luís Vieira Soares, recebe a Declaração de Guerra, que a Alemanha fez a Portugal, a 9 de Março de 1916.
A presença de Portugal na Grande Guerra, há muito que se adivinhava, fruto da insistência da Inglaterra e do interesse do governo, como se depreende da leitura de Augusto Soares, vertida no Diário do Congresso, Sessão nº 9, de 10 de Março de 1916: “Logo no inicio da Guerra, em 7 de Agosto de 1914, com o aplauso unanime deste parlamento, que em circunstância alguma faltaríamos aos deveres da aliança que, livremente, contraímos com a Inglaterra. Também no mesmo ano em 25 de Novembro e com o mesmo aplauso, novamente o Governo da Republica, assegurou o firme propósito de manter até aos últimos sacrifícios, a solidariedade secular entre Portugal e a Inglaterra, base imprescindível da nossa progressiva valorização mundial”.
E continua: “…em momentos houve que a nossa cooperação nos campos de batalha da Europa esteve iminente e seguramente se teria efetuado, se não tivesse derivado o nosso esforço para outros lugares, onde surpresa nos chamara um ataque traiçoeiro das forças alemãs….”
Refere-se Augusto Soares ao ataque das forças germânicas, ao Posto de Maziua em 24 de Agosto e pela calada da noite, onde assassinaram a sangue frio os responsáveis pelo posto.
No dia 9 de Março de 1916, a Alemanha declarou guerra a Portugal. Esse facto tem antecedentes e consequentes.
Na nota entregue ao Dr. Augusto Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo Português, por ordem do Governo Imperial, pelo seu representante em Lisboa, Sr. Rosen, os motivos dessa resolução são extremamente alegados, ofendendo-se umas vezes propositadamente a verdade dos factos, desnaturando-se noutras a sua precisa e correta significação. A atitude da Alemanha para com Portugal foi durante muito tempo enigmática, dúbia e desleal. A atitude de Portugal com a Alemanha foi sempre clara, franca e insofismável.
Há, erroneamente, quem pense que a guerra se desenrolou somente em França, contudo para além dos constantes ataques a Angola e Moçambique, territórios cobiçados pelo imperialismo alemão, na costa portuguesa os ataques, a partir dos submarinos alemães eram constantes, nomeadamente a norte ao largo de Esposende e Viana do Castelo.
Vimos já que Augusto Soares era homem de fino trato, elevada cultura e superior inteligência.
Assim o reconhece João de Barros, director da Revista Atlântida, nº11 de 15 de Setembro de 1916, pág. 1004 a 1008. “… O ministro acolheu-me sorrindo. É o «charmer» de sempre. Num silêncio que não sei quebrar, imagino por instantes o quanto deve ter sido útil ao prestigio da Pátria e da República, a presença deste diplomata cativante e subtil, em meios de vasta civilização e elevada cultura, como são os de Londres e Paris. Nas duas prodigiosas Metrópoles, entre os mais celebres representantes da politica e da sociedade, o nosso ministro não pode senão ter sobressaído e onde outros se apagariam, ele encontrou sem dúvida alguma, mil possibilidades de brilhar e triunfar…”
Noutro âmbito, o Dr. Augusto Soares, esteve ligado ao Banco Industrial Português, que tinha sede em Lisboa na Rua Augusta, sendo seu presidente desde a sua fundação em 1920 até à sua extinção em 1924. O período conturbado da Primeira República (que acabou por conduzir pronunciamento militar de 28 de Maio de 1926), não augurava boa oportunidade para o Banco e Augusto Soares e Júlio Martins, ministro em várias pastas e governos, adquirem a Companhia de Cerâmica Lusitana, que teve uma monumental encomenda de tijolos para a construção da Praça de Toiros do Campo Pequeno.
A grande dedicação pública e política colocada em prática por Augusto Luís Vieira Soares valeram-lhe as seguintes condecorações: “Grã-Cruz da Torre e Espada”, “Grã-Cruz de Isabel a Católica” e “Legião de Honra”.
Falecido a 7 de Junho de 1954, com 81 anos, Augusto Luís Vieira Soares repousa em jazigo de família, no Cemitério de Barrosas.