Comendador Bernardino Monteiro de Abreu, nasceu na freguesia de S. João das Caldas de Vizela, no dia 30 de novembro de 1838. Filho legitimo de Francisco António e de Ana Pereira.
Foram padrinhos Bernardino de Abreu e Maria Rosa de Abreu. Faleceu no dia 10 de março de 1908.
Exerceu o cargo, primeiro de vice-cônsul, nomeado em 1888, e em 1900 é elevado a cônsul de Portugal na Cidade de S. Paulo (Brasil).
Revista “Occidente” de 01 de janeiro de 1893.
“Bernardino Monteiro de Abreu (Vice-Cônsul de Portugal na cidade de S. Paulo (Brasil).
Há nomes que têm direito à consagração pública. Servem de lição e de exemplo. São o melhor estímulo para os que trabalham e o mais seguro esteio da nacionalidade a que pertencem Bernardino Monteiro d´Abreu, actual vice-consul portuguez em S. Paulo, capital do respectivo estado na grande república brazileira, é um d´estes nomes. Humilde no berço, enobreceu-se pelo esforço e pelo coração. Sem pergaminhos, que o tempo poderia ter já desfeito, abriu perdurável registo na história da colónia portugueza, que tão dignamente representa, considerado e estimado por todos sem excepção de nacionalidade ou de procedência.
Portuguez de lei, nascido de pais portuguezes, perto de Guimarães, foi para o Brazil tendo apenas quatorze anos de idade, continuando na vida de commercio, que já encetara em Portugal. Casado mais tarde com uma excelente senhora, sua compatriota, infelizmente falecida há pouco, mas sempre viva na memória de seu esposo e de seus filhos, conserva ainda hoje a robustez de um moço, apesar dos seus 55 anos, quase todos volvidos no mourejar incessante de um propósito firme e de uma consciência segura, criando, por uma complexa e incessante actividade, a solida fortuna que hoje possui, e em que se não esconde um remorso nem se açoita o mais leve arrependimento.
Tendo aportado ao Rio de janeiro, ali se conservou Bernardino de Abreu, entrando para o serviço de uma firma de sólidos créditos, até que, em 1855, foi para S. Paulo estabelecer-se n´uma filial da mesma casa, considerando, porém como sócio, tal era o conceito que já então merecia de seus chefes e patrões. Extinta mais tarde esta filial, passou a negociar de contra própria intervindo em vária empresas e dando sociedade no primeiro estabelecimento, que organizara na capital do Estado, a seu filho mais velho, Daniel Monteiro d´Abreu, fiel e escrupuloso respeitador das tradições e exemplos paternos.
Pertencendo à grande firma importadora de S. Paulo, Costa & C.ª, firma respeitada em todas as praças do mudo e cujo comercio anual se eleva a muitas centenas de milhares de libras esterlinas, foi um dos mais importantes directores da companhia União do Comercio de S. Paulo. Entidade financeira de subida importância e de copiosíssimos lucros. Não admira, portanto, que Bernardino de Abreu seja um homem rico; mais e muito mais deve admirar sem dúvida, nos tempos que vão correndo, o uso beneficente e generoso que este benemérito faz de haveres tão honrada e a porfiadamente adquiridos.
É assim que, apenas encetada a sua vida comercial em S. Paulo, foi um dos principais promotores e fundadores da sociedade de beneficência portugueza d´esta cidade, sociedade que dispõe hoje de perto de 600 contos de valores brazileiros e possui um magnifico hospital, que pode dar guarida e conforto a numerosos doentes e desvalidos, recebendo também pensionista e levando a sua caridosa tutela ao ponto de agasalhar estranhos como a nacionais, sempre que lhe é possível fazê-lo.
Este facto, todavia, não é o único que, na vida do actual vice-cônsul portuguez em S. Paulo dê largo testemunho da generosa bondade do seu espírito. No próprio consulado está a melhor demonstração d´esta, cada vez mais real qualidade. Custando-lhe anualmente muito mais do que lhe rende, não há quem ignore que os batentes da sua porta estão sempre largamente abertos a todos os desconfortos e dificuldades dos portuguezes que d´ella se lembram. Sob a expressão mais severa das suas indignações consulares, perante um desacerto de um emigrante infeliz por exemplo, há sempre um estremecimento de comovida piedade, que é o refúgio do misero que sabe ou que adivinha, que a desgraça e o desterro são o caminho mais curto para a esmola ou para a tutela d´este benfazejo funcionário.
Chefe de uma numerosa família, no lar doméstico afirma e como que dá novo realce às prendas do seu caracter e às finas qualidades do seu espírito. Extremoso por todos os seus, é por todos adorado, tutelando e confortando a todos com o exemplo e com a palavra e presidindo a tudo com a mais previdente e amorável solicitude. Caridoso sempre, o seu desforço perante a fatalidade que, pela morte ou pela doença, lhe tem, por vezes já, cruelmente anuviado o coração, tem sido o de servir de para alguns inocentes, que a impiedade do destino tem ferido subitamente roubando-lhe os carinhos maternos ou cerceando-lhe os necessários confortos de vida ou de educação.”
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Jornal “O Commercio de São Paulo”, quarta-feira, 11 de março de 1908.
“Necrologia.
Faleceu ontem, nesta capital, o sr. Comendador Bernardino Monteiro de Abreu, cônsul de Portugal.
Há meses que um atroz padecimento o prendera ao leito; ultimamente, porém, o seu estado agravou-se e nestes últimos dias começou a ser previsto o terrível desenlace que lançou na dôr e no luto os seus filhos, parentes e inúmeros amigos.
O comendador Bernardino Monteiro de Abreu, que era o decáno do corpo consular em São Paulo, contava 70 anos de idade. Nascido em Vizella, a interessante e conhecida thermas de Portugal, veio para o Brasil, contando cerca de quatorze annos de idade. Apenas chegado ao nosso país, dedicou-se á carreira comercial, empregando-se em uma casa de São João da Barra, de onde, anos depois, com a sua actividade e honestidade, conseguiu encontrar melhoria de posição no Rio de Janeiro. Ahí, o Sr. Bernardino de Abreu, em campo mais vasto, pôde dar um largo realce às suas qualidades de trabalho, creando relações e nome, que em breve o salientaram nas rodas comerciais e da colónia. Ali vivendo cerca de nove anos, rodeado de todo o conceito, o Sr. Bernardino Monteiro de Abreu veio para esta capital, aqui se colocando numa das principais casas comerciais e dando continuidade brilhante à suas qualidades de trabalho. Anos depois estabeleceu-se e foi durante trinta anos comerciante em nossa praça, sempre muito considerado. Espírito magnânimo e generoso, estava sempre pronto a colaborar em todas as obras de filantropia, que tornaram o seu nome querido e acatado, tanto da colónia em que com grande realce se destacava, como em nosso meio social.
Em recompensa a seus serviços, o governo português distinguiu-o com a nomeação de vice-cônsul, em 1888. Nesse cargo oficial salientou-se com os serviços prestados à colónia, sempre evidenciando o seu espírito em harmonia com os poderes públicos e os seus jurisdicionados. Tanto isso calou no animo do governo, doze anos depois, em 1900, o Sr. Bernardino de Abreu era elevado a cônsul. Foi durante o exercício dessas funções que o governo de sua majestade filelissima, em reconhecimento pelos altos serviços prestados, o agraciou com as comendas de Villa Viçosa e de Cristo.
O comendador Bernardino de Abreu era viúvo, há vinte e sete anos, de D. Amélia Augusta de Abreu, irmã do nosso venerado colega do Popular, sr. José Maria Lisboa, e deixa seis filhos: D. Maria Teresa, esposa do sr. João Coelho da Costa; D. Amélia de Abreu Lisboa, esposa do dr. José Maria Lisboa Júnior, redator do Popular; senhorita Eustachia Abreu, solteira; o comendador Daniel Monteiro de Abreu, cônsul do Paraguay; Carlos de Abreu, distinto empregado do comercio de Santos, e Augusto de Abreu, quartanista de direito e nosso confrade de imprensa.
O saudoso extinto era também cunhado dos snr. Urbano de Macedo e Hilário Magro. O comendador Bernardino de Abreu foi um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Beneficência e da Sociedade Protectora dos Portugueses Desvalidos, duas agremiações que lhe devem grandes serviços.
O enterro do estimado representante consular de Portugal, realizou-se ontem mesmo, às 04:30 da tarde, saindo da residência do extinto, á rua Senador Queirós nº 32, com enorme acompanhamento.
O Sr. Presidente do Estado fez-se representar no enterro pelo seu ajudante de ordens, tenente Arthur Godoy. Estiveram igualmente representados todos os secretários de Estado, o corpo consular, todas as associações portuguesas e muitas nacionais e de outras nacionalidades (…).
PESQUISA DO VIZELENSE colaborador do ddV, ANTÓNIO TEIXEIRA DA CUNHA