Recordando um Herói Nacional vizelense


O soldado vizelense Abel Araújo Bastos, morreu em 1961, quando lutava praticamente só (apenas um Tenente ao seu lado) na India, a proteger a retirada dos seus companheiros. 

O saudoso vizelense Salvador Caeiro Bráz, recordou o herói vizelense num artigo publicado no Notícias de Vizela em 1993 e já nessa altura reclavama uma justa homenagem para o herói soldado português natural de Vizela. 


"O 18 de Dezembro de 1961 foi dia fatídico. Após vários avisos de Nerhu ao também ditador Oliveira Salazar, no sentido de entregar pacificamente à união indiana, a então província ou colónia portuguesa da India. 

Distritos de Goa, Damão e Dio-após ter sido invadido o enclave de Nagaraveli sem possibilidade da mínima resistência, o teimoso Oliveira Salazar continuava a impor, desumanamente, a Vassalo e Silva, governador, resistia até ao último dos soldados portugueses ali destacados.

A 18 de Dezembro de 1961, Nehru mandou avançar as suas tropas com a firme decisão de tomar Goa, Damão e Dio.

Por terra, as forças mediam-se de um português para 100 indianos. Por ar, os terríveis pássaros de ferro indianos, carregados de bombas ensombravam o solo.

Vassalo e Silva faz o último apelo a Oliveira Salazar no sentido de obter ordens de total rendição das tropas portuguesas afim de evitar uma autêntica chacina.

Salazar sempre teimoso e desumano, repete a ordem determinante "resistir até ao último soldado português".

Vassalo e Silva, pensando possivelmente (estou perante um louco), como homem determinado no sentido humanístico sem se importar com as consequências, desobedece a Salazar e ordena às tropas portuguesas a total e incondicional rendição com a entrega a Nerhu de Goa, Damão e Dio.

Esta ordem chegou mais rapidamente a Goa e Dig e com algum atraso a Damão que continuava a resistir.

Em Damão, na frente da batalha, devidamente entrincheirado, de metralhadora em punho encontrava-se o soldado vizelense ABEL de ARAÚJO BASTOS, conjuntamente com um seu colega de armas com a patente de Tenente.

Chegada a ordem de rendição e dada a fúria dos soldados indianos, havia que proteger a retirada dos colegas.

Abel de Araújo Bastos e seu tenente, colocados na linha da frente, tomaram a iniciativa com inegável coragem e abnegação, já completamente isolados heroicamente conseguiram deter o avanço do inimigo e só as bombas lançadas pela aviação sobre o seu refúgio conseguiram calar as suas armas e fazer tombar a vida destes dois jovens combatentes. No cumprimento disciplinado de ordens superiores.

Abel de Araújo Bastos tombou no cumprimento do seu dever, honrando a Pátria e a sua terra. 

Vizela pode e deve considerar este seu filho como um Herói Nacional. 


Abel de Araújo Bastos e seu camarada Tenente foram os únicos soldados portugueses que morreram em combate na guerra da India graças à oferta das suas vidas pelas de centenas de colegas e a Vassalo e Silva pela corajosa desobediência ao ditador Salazar.

A desumanidade deste ignobil ditador (para além da fome que durante cerca de 40 anos deu aos portugueses) chegou ao ponto de não cumprir o dever de "mandar que os corpos destes dois heróis fossem transladados para as sua terras natal".

Em nosso entender, é sempre tempo de corrigir os erros de um ditador e este dever cabe e assenta bem aos vizelenses, uma vez que nem as suas cinzas se misturaram com o solo da terra que o viu nascer, que não existe publicamente uma letra que perpetue a memória deste herói vizelense.

Dizemos que é sempre tempo porque entendemos por justo perpetuar o nome de Abel de Araújo Bastos, uma vez que só no coração dos seus familiares reside a saudade e no Ad Perpetuam este herói é lembrado por Francisco Armindo Pereira da Costa. 

Também para lembrar nos propusemos meditar na fatídica data de 18 de Dezembro de 1961, trinta e dois anos volvidos, com algumas singelas palavras de homenagem ao herói vizelense ABEL DE ARAÚJO BASTOS.

Salvador Caeiro Bráz, Notícias de Vizela 1993

O arquivo do extinto Notícias de Vizela pode ser consultado na Biblioteca Municipal de Vizela 

Entrevista de Susana Ribeiro, Notícias de Vizela. 

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