No dia 11 de fevereiro de 1994, o Notícias de Vizela publicou um entrevista com o presidente do Vitória Sport Club (Guimarães).
Nessa troca de impressões, o NV quis saber o que pensava Pimenta Machado sobre o facto de não encontrar nascidos em Vizela adeptos do Vitória mas sim quase todos simpatizantes dos clubes ditos "três grandes" sendo também muitos destes associados do FC Porto, Sporting e Benfica.
Para Pimenta Machado, que dias antes disponibilizara 17 jogadores ao FC Vizela (para uma espécie de equipa satélite do Vitória, o que foi recusado pela Direcção vizelense), tudo se resumia a uma questão política. Vizela, sabia-se, lutava há um século para se desmembrar de Guimarães, tornar-se independente da administração vimaranense,
saga iniciada ainda antes dos dois clubes nascerem, e foi aí que o presidente do Vitória, com tantas terras à volta no concelho rodeadas de vitorianos (como Moreira de Cónegos, Taipas, Pevidém, S. Paio de Vizela, etc.), encontrou explicação para a onda que arrastou a paixão de muitos adeptos vizelenses para clubes distantes a 50 e a 350 quilómetros mais à frente, para a edificação de casas alusivas a esses clubes no seio da então vila e na reação que alguns vizelenses não conseguem disfarçar mesmo quando o Porto, Benfica ou Sporting defronta o clube da sua própria Terra, que alguns adversos a essas manifestações apelidam de "estarolas".
Leia o que disse Pimenta Machado (atualmente a residir na Capital mas ainda com residência em S. Torcato-Guimarães).
"11/02/1994
Pimenta Machado, presidente do Vitória:
OS VIZELENSES SÃO SIMPATIZANTES DO PORTO E DO BENFICA POR QUESTÕES DE ORDEM POLÍTICA
O Dr. Antonio Alberto Coimbra Pimenta Machado, formado em direito, natural de S.Torcato-Guimarães, presidente do Vitória Sport Club desde 1980, é, talvez, a figura mais idolatrada de Guimarães, ainda que por perro esteja o presidente da câmara ou o governador civil ( o social democrata Ribeiro da Silva), um velho rival que seguindo a velha máxima de dois galos no mesmo poleiro, não vai à bola com Pimenta Machado, nem com molho de tomate.
É amado pela maioria dos vimaranenses, mas também tem no meio destes, inimigos figadais que lhe invejam a sua postura rigida e autoritária apelidando-o de "menino mimado e rico". Seja como for, Pimenta Machado, homem de "mais vale quebrar que torcer" não tem rival para ocupar a cadeira da presidência do Vitória SC (concorreu sózinho às eleições de sábado passado) e esse poder absoluto faz com que seja o fiel da balança nos resultados de quaisquer eleições à presidência da câmara. Tê-lo como adversário político é coisa que nenhum candidato à câmara quer.
Também no dirigismo futebolistico, é figura bastante polémica e se é verdade que o podem acusar desse particular, não nos lembramos de alguém que tenha apontado o dedo acusando-o daquilo de que são apontados muitos dirigentes do nosso futebol: corruptos. Aliás, bem se pode queixar do contrário pois a sua forma de querer mais transparência no futebol têm-lhe ficado cara. Muito recentemente, na visita do Benfica, Pimenta Machado partiu a loiça e acusou o presidente do Conselho Nacional de Arbitragem, Dr Laureano Gonçalves, de ser um domador de feras no meio de um circo, numa alusão clara aos favores" das arbitragens, exigindo ainda que os relatórios dos árbitros e delegados fossem publicados na imprensa. Laureano Gonçalves não gostou e processou Pimenta Machado. No dia em que o presidente do Vitória falava connosco, este tomava conhecimento de que Laureano Gonçalves pedira a demissão do cargo que ocupava. Depois, e até aqui, foi o presidente dos árbitros a dizer uma coisa e depois a dizer outra.
Convidado a falar para o Noticias de Vizela, Pimenta Machado disse ter todo o gosto em fazê-lo, pois considera-se um grande admirador de Vizela e suas gentes. Na curta conversa que com ele estabelecemos, falamos de futebol e política, tanto mais que NV acabara de reproduzir as afirmações do governador civil de Braga ao Toural (dizendo que iria impedir sempre que Vizela fosse concelho).
Nessa entrevista (ver edição antepenúltima do NV) o Dr. Fernando Alberto dizia que em toda a sua vida teria sempre dois objectivos importantissimos: impedir a criação do concelho de Vizela e impedir que Pimenta Machado fosse o presidente da concelhia do Partido Social Democrata e respectivo candidato à câmara pelo PSD.
Antes da politica o desporto, por isso perguntamos ao presidente do Vitória Sport Club (de Guimarães) a que se deveu, no inicio de época, a oferta de 17 jogadores ao Futebol Clube de Vizela
PM-Em primeiro lugar deveu-se a um excelente relacionamento que existe entre estes os dois clubes. O Vitória de Guimarães e o Futebol Club de Vizela são grandes amigos, que ninguém tenha dúvidas sobre isto. Neste sentido, a oferta dos jogadores por mim proposta à direcção do Vizela, tinha como objectivo contribuir para que o Vizela subisse à Divisão de Honra. O Vizela acabaria por não ficar com os jogadores, paciência, estarei disposto a ajudar na próxima época.
NV-Dá a entender que teria muito gosto a promoção divisionária do Vizela?
PM-Concerteza que sim. Para já gostava muito que o Vizela subisse à Divisão de Honra e depois à Primeira Divisão. Naquilo que possamos ajudar a gente ajuda.
NV-Como é que o presidente do Vitória Guimarães, explica o facto dos vizelenses serem simpatizantes do Porto, Benfica e Sporting em lugar de serem adeptos do seu Vitória, já que em Vizela contam-se pelos dedos os adeptos vitorianos?
PM- Deve-se tudo a uma questão de foro político, que tem a ver com a luta pela autodeterminação do povo de Vizela. Como sabe, umas coisas arrastam as outras. Como presidente do Vitória tudo tenho feito para minimizar esta frieza de relacionamento que se reflecte, como disse, no futebol. Para mim é essa a razão que faz com que os vizelenses se apaixonem mais depressa pelo Porto, Benfica ou Sporting do que pelo Vitória de Guimarães. Tudo por uma questão de território administrativo.
NV-Mas tende a diminuir ou a aumentar essa frieza?
PM- A minha preocupção é esbater cada vez mais esse afastamento que eu considero que ja está mais esbatido do que estava.
NV-Graças a quê?
PM- Pela minha parte ao bom relacionamento que há entre o Vizela e o Vitória de Guimarães. Enquanto eu estiver a frente da direcção do Vitória terei sempre a preocupação de ajudar o FC Vizela naquilo que puder.
NV - Há quem argumente que se Vizela fosse concelho, o Vitória de Guimarães poderia receber muitos sócios desta vila. Quer comentar?
PM-Não sei. Está para provar isso, mas...sobre isso não emito opinião.
NV- Mudando para a politica. Como comenta as afirmações do governador civil de Braga que refere ter como cavalo de batalha a inviabilização de Pimenta Machado como cabeça de lista do PSD e a criação do concelho de Vizela?
PM- Eu penso que numa personalidade intrinsecamente política, como é o caso do governador civil, essas manifestações passionais são primárias. E são altamente lamentáveis. Acresce a tristeza dessas afirmações com a cricunstância de nas últimas eleições o próprio governador, a própria pessoa, me ter endereçado convite no sentido de eu poder encabeçar a assembleia municipal ou para número dois do Executivo (da Câmara). Mas como eu disse muitas vezes e continuo cada vez a ter mais aquidade, o que hoje é verdade, amanhá poderá ser mentira. E, realmente, o governador, neste caso concreto e no que concerne a este tipo de afirmações é um paradigma dessas coisas.
NV Sente-se ofendido?
PM-Não, não me sinto minimamente ofendido. Essa é a manifestação minimamente volitiva de uma pessoa como o governador civil e o futuro dirá o resto.
Este foi o curto diálogo possivel com Pimenta Machado. Todavia o presidente do Vitória (de Guimarães) mostrou-se disponivel para novas e mais prolongadas conversas que deixaremos ficar para as próximas edições.
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