Guitarrista Mendes deixou-nos há 25 anos


 

Foi o último guitarrista (de fado) de Vizela instrumento que aprendeu a tocar com José Seixas antigo guarda-zelador do Jardim Manuel Faria na altura jardim Maria do Resgate Salazar. 

Mendes da Costa e a sua guitarra eram inseparáveis dando a Vizela e arredores inúmeros momentos de alegria. Era um filantropo, gostava de ajudar através do fado pessoas e instituições, mas não só pois também foi dirigente associativo.

Um acidente de viação na vida militar (o jipe onde seguia com mais camaradas caiu de uma ravina e uma roda atingiu-o na queda) deram-lhe limitações físicas mas nunca psicológicas, daí que continuou com a sua guitarra a alegrar o mundo e a divulgar o fado do qual era especial conhecedor enquanto lhe foi possível.

Daí para cá, depois da sua partida, Vizela, onde há excelentes fadistas e um Festival de Fado todos os anos e escolas de música e até uma Academia de Música, não mais ensinou ninguém a tocar a guitarra portuguesa. O que não deixa de ser uma grande lacuna cultural.
José Mendes tocava bem o fado de Lisboa como o de Coimbra. Dizer que não há pessoas insubstituíveis é, vendo a ausência que o guitarrista Mendes fez ao fado, um eufemismo grande. 


LUTADOR
José Maria Mendes da Costa era um lutador pelas causas em que acreditava. Dizer que foi um dos feridos do 5 de agosto de 1982,  transportado ao hospital numa ambulância dos bombeiros de Vizela, por se encontrar na cabeça da luta pela criação do concelho diz tudo.

A sua morte ocorreu há 25 anos, no dia 15 de Agosto  de 1997 (um ano antes da criação do Concelho que ele anto gostaria de ver realidade) depois de vários dias internado no Hospital de São João no Porto, internamento ainda em sequência do acidente militar sofrido 23 anos antes.
O corpo do Mendes encontrava-se deposto na capela funerária de S. Miguel das Caldas a escassa distância do Estádio do Vizela onde Dulce Pontes se preparava para dar um concerto. E foi dali que a famosa fadista dedicou o tema de Amália Rodrigues, LÁGRIMA, ao último guitarrista de Vizela aquele que mais divulgou o fado e as vozes que expadem graciosamente o património imaterial da humanidade.
Surgir um jovem guitarrista em Vizela era a melhor prenda que se podia oferecer postumamente Mendes da Costa. 
Na véspera de cada 25 de Abril, o Grupo Os Amigos do Fado, leva cravos à sepultura de José Maria Mendes da Costa num roteiro de eterna saudade. 




Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de te querer tanto
Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Não te quero
E eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo
Se considero
Que um dia hei de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que a alegria
Me deixaria matar
Uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que a alegria
Me deixaria matar.

Partilhar