A minha juventude em Vizela passou muito apressada, era a fase em que a felicidade não acabava, era feliz de manhã até à noite.
Aos domingos passeava na Rua Dr. Abílio Torres ou no parque. Por vezes as tardes de domingo no café a ver televisão, ou ia até ao Campo Agostinho de Lima ver o Vizela.
Foram tempos loucos de felicidade com o Twist, os Beatles, os Bee Gees, Tom Jones, Elvis, Adamo, Gianni Morandi e muitos mais. Sem esquecer o grupo de Vizela a Cantar e os Kings.
Era o tempo dos amores adolescentes à procura de namorada nos bailes da Casa da Povo ou nos Bombeiros, quando encontrada e nos sorria era o limite da felicidade.
Os rapazes deixaram crescer os cabelos e usavam calças à boca-de-sino.
Ah! E as raparigas! Eram uma loucura as minissais que usavam!!!
"A Banda" foi um sucesso musical de Chico Buarque, todos a sabiam de cor e com esta canção nasceu a moda de se perguntar a alguém aonde ia, sempre respondia: "Vou ver a banda passar".
Aos domingos no fim da missa do meio-dia em S.João, os cinéfilos de Vilarinho e Barrosas, iniciavam a fila em frente à bilheteira do Cine-Parque, e todos assistimos a filmes inesquecíveis, como o Ben-Hur, E tudo o vento levou, Música no coração, Os dez mandamentos, O direito de nascer, "O Dr. Givago, Casablanca, Aconteceu no oeste, Rio Bravo e tantos outros que nos fizeram chorar de alegria e outras vezes de tristeza.
Habitualmente, quem não sabia ler levava consigo um amigo para lhe ler as legendas.
A seguir à moda dos filmes musicais, chegaram os filmes indianos e a assistência chorava com eles.
Nos intervalos do cinema aos domingos à noite, comia-se uma sande e bebia-se um sumol e chupavam-se rebuçados peitorais, vendidos pelo Martinho e esposa Belém. Também se lia "O Norte Desportivo", comprado ao Chico dos Jornais, à Alexandrina ou ao filho António.
E chegou "O último tango em Paris", que esgotou a lotação do Cine-Parque por várias sessões.
Com o vinte e cinco de abril de 1974 e o advento da democracia e da liberdade, foi um carnaval de alegria durante trinta dias. Já éramos todos democratas e grandes entendedores de política.
Aqui deixo a minha homenagem aos antifascistas de Vizela ao recordar o nome de alguns; a minha avó Emília peixeira, o sapateiro Chico Panoia, o Dr. Rómulo Campante, o Arlindo Cunha, o Zé Gordo, o Dr. Eugénio Silva, o Dr. António Pacheco...
Acabada a censura a liberdade de expressão encheu o Cine-Parque de filmes pornográficos.
Concluindo, penso que se pode afirmar, que na juventude, era feliz com dois tostões no bolso.
José Videira.