Texto do músico e maestro vizelenses Joaquim Ribeiro.
PHILARMÓNICAS EM VIZELA
(Apontamentos para a história)
de António Teixeira Martins da Cunha
Vizela deve orgulhar-se de mais um livro editado por um vizelense.
Essencialmente dedicado à história das bandas de música existentes em Vizela, aprazme parabenizar o seu autor.
Mas não só. Além do trabalho exaustivo de recolha de informação sobre o movimento
filarmónico, António Cunha apresenta um conjunto relevante de apontamentos que nos
dão conta do contexto social, económico e cultural em que as bandas de música se
inseriram, permitindo-nos relembrar as razões da evolução de uma cidade que, de aldeia
passou a vila (1929), e de vila a cidade e sede de concelho (1998).
Se dúvidas existissem da importância da nossa Vizela no desenvolvimento da região,
nomeadamente durante a segunda metade do século dezanove, o trabalho voluntarioso de António Cunha certamente as dissipariam.
Mas centremos a nossa atenção no contributo essencial do livro: o movimento filarmónico.
Embora no livro por mim editado em 2017, inteiramente dedicado a Joaquim da Costa Chicória, me tenha preocupado com a explanação da evolução histórica das filarmónicas e respetiva contextualização, o facto de se tratar assumidamente de um estudo biográfico preliminar, vários temas ficaram por aprofundar, no que ao movimento filarmónico diz diretamente respeito.
Mas este é o verdadeiro encanto da História: o tratar-se de um interminável livro que as diferentes investigações ajudam a compor e ajustar, permitindo-nos tomar contacto com a nossa herança cultural, verdadeiro património comum.
Ainda bem que, com uma grande capacidade de pesquisa e resiliência, António Cunha
disponibilizou tantas centenas de horas de trabalho para que o seu livro pudesse ser
editado e, assim, Vizela contar com uma obra tão útil.
Trata-se de um excelente livro de consulta, que certamente abrirá as portas a muitas outras investigações.
Apenas tomarei a liberdade de apresentar uma pequena ressalva, no que ao número de bandas elencadas pelo meu amigo António Cunha diz respeito.
Isto é, pese embora o rol de diferentes nomes que a denominada 3ª banda, criada a 19 de janeiro de 1905 como “Banda Nova de Vizela, do maestro José Ramos”, foi assumindo até 1961, ano da sua extinção, em boa verdade, houve sempre um mesmo denominador.
Na prática, as diferentes designações, como Banda dos Chicórias, Banda dos Bombeiros
Voluntários de Vizela, Banda dos Machados ou Banda de António Almeida, foram fruto das vicissitudes económicas, sociais e de temperamentos pessoais vividas pelos seus
protagonistas, que todos sabemos terem sido muitas vezes plenas de dramatismo, ressalvando-se sempre a presença da família Chicória no fio condutor do tempo.
Assim sendo, talvez possamos equacionar considerar a Sociedade Filarmónica Vizelense, constituída a 21 de janeiro de 1945, como a 4ª banda de Vizela.
E a História foi acontecendo.
A elevação de Vizela a sede de município alavancou o enriquecimento da vivência musical. A Sociedade Filarmónica Vizelense cresceu, criando a sua academia de música oficializada, reconhecida pelo ministério da educação, na qual a formação musical passou a ser ministrada por professores qualificados, o que potencializou um incremento de quantidade e qualidade da própria banda.
O investimento na divulgação do património musical vizelense, nomeadamente a música de Joaquim da Costa Chicória, tem sido evidente através da gravação de muitas das suas obras mais marcantes.
A consciência de que o património musical e cultural da nossa cidade a todos pertence e que todos ganhamos com o seu estudo, divulgação e conhecimento, ajuda à criação de uma nova imagem de marca para a cidade, que em muito ultrapassa o seu passado secular ligado aos benefícios das águas termais.
Vizela é cultura, desporto, turismo, gastronomia, História e, claro, música.
A prova disto mesmo encontramos no interesse que o nosso património musical vem suscitando para além das fronteiras de Vizela.
Neste momento, a editora AVA, a principal editora musical portuguesa, prepara-se para lançar a edição revista por mim da versão dos “Murmúrios de Vizela” para orquestra sinfónica, realizada pelo compositor Lino Guerreiro, uma encomenda do Sr. Armando Antunes, estreada pela minha batuta, com a orquestra da GNR, a 18 de Março de 2017.
Tratar-se-á, certamente, de mais uma pedra na construção que, juntos, os que amamos a nossa terra, nos propomos fazer, e para o qual gostaríamos de sentir um apoio mais musculado por parte do Município.
Afinal, que maior canal de ligação existe entre as diversas formas de manifestação humana que a música?
Joaquim Ribeiro