Mosaico Romano de Vizela

 


Foto do "Mosaico dos Banhos Romanos em Vizella" e uma descrição feita por Cesário Augusto Pinto, (1825-1896)

que para além deste mosaico e respetiva descrição, foi o arquiteto do Estabelecimento Termal de Vizela, quer na primeira, quer na segunda versão ( pois houve duas versões, tendo a primeira sido alterada por causa da construção da Estrada Nova (até Entre os Rios) e que até aí se chamava Estrada Real 36. (*)

 TEXTO DE CESÁRIO AUGUSTO PINTO

"Quando em outubro de 1877 a Camara Municipal de Guimarães justou a reconstrução de uma rua com aqueduto no centro, no sítio da Lameira, nas Caldas de Vizella, descobriu o empreiteiro, ao abrir o cavouco para o aqueduto, uma porção de mosaico pertencente a uma piscina das antigas termas romanas. Várias descobertas têm sido feitas neste género em diversas escavações praticadas por particulares e operários do Município, porém, que me conste, nenhuma tão interessante como esta. 

Os diferentes espécimes de mosaico que ali têm aparecido, são apenas de duas cores, branca e preta, enquanto que este ultimo apresenta, além de um desenho mais apurado e variado, três cores que em nenhum dos outros se encontra, que são: o roxo terra, o amarelo, e um azul muito esvaído. 

Dá-se na construção deste mosaico uma singularidade digna de reparo. À primeira vista a ideia que ocorre a quem o vê, é que ele é formado de basalto, calcário, sanguinha e ocre; quanto ao azul esvaído fica-se em dúvida, porque essa cor só aparece estando a superfície molhada, de contrário apenas se descobre um tom de carne tão claro que mal distingue. Examinando porém cada uma das formas de que se compõe o mosaico, depois de bem humedecidas, descobre-se que o branco é uma composição que tem por base o gesso, o preto é feito com terra preta e a mesma composição de gesso, e o roxo terra é tijolo moído misturado com a composição que lhe dá a consistência, e o amarelo é a ocre no seu estado natural. 

Qualquer destas composições deixa-se raspar por um canivete com a maior facilidade - estando bem húmida - o que por certo não aconteceria ao basalto, nem mesmo ao calcário, ainda que a acção da água sulfúrea lhes alterasse a textura, o que se limitaria a uma ténue camada de sulfureto, que geralmente se forma em todos os revestimentos das piscinas antigas; pelo contrário disso, todos os quadrados de que se compõe o mosaico estão mais gastos que o cimento que lhos rodeia as juntas, dando-se ainda a particularidade de que a ocre, que me pareceu estar no estado simples, e por tanto mais solúvel, é justamente a que menos tem sido atacada pela acção corrosiva da água, e que ainda conserva o maior relevo. As cores que o desenho representa, são aquelas que apareceram no mosaico depois de lavado, e se conservaram em quanto húmido; depois de seco tornou-se de cor cinzenta tão opaca, que se confundia quase com os espaços deteriorados, que copiei fielmente. 

O mosaico é assente sobre uma camada de cimento grosseiramente manipulado composto de tijolo mal moído, cal e areia, com proximamente dois centímetros de espessura, e esta assente sobre outra camada de argamassa, mais tosca ainda, fabricada com cal e detritos de granito, com três centímetros de altura.

 Cesário Augusto Pinto Caldas de Vizella, 27 de Abril de 1882 

 

(*) Enviado ao ddV por Júlio César Ferreira.

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