CAMARATE José Borges era amigo do piloto de Sá Carneiro


A 4 de dezembro de 1980 o país recebia a notícia de que Francisco Sá Carneiro, então primeiro-ministro, e Adelino Amaro da Costa, ministro da Defesa, e mais cinco pessoas haviam perdido a vida num acidente de aviação. Ontem passaram 40 anos sobre este terrível momento e o tema voltou às primeiras páginas.

Para além dos dois governantes, no desastre (ou atentado?) aéreo morreram ainda mais cinco pessoas, a tripulação e restante comitiva: Snu Abecassis (companheira de Sá Carneiro), Manuela Amaro da Costa, António Patrício Gouveia o piloto Jorge Manuel Albuquerque (amigo do vizelense José Ribeiro Borges) e o co-piloto Alfredo de Sousa.

José Ribeiro Borges, ex-piloto de aviação da Força Aérea Portuguesa, era amigo pessoal do piloto do fatídico avião. Para este conhecido vizelense não há dúvidas que houve sabotagem do avião ou atentado: «O Albuquerque era um dos pilotos mais experientes e responsáveis que conheci. Antes de levantar voo testou os motores do avião, como é normal, e jamais levantaria voo se sentisse qualquer anomalia por muito pequena que fosse. Era muito rigoroso no trabalho e desempenhava a sua profissão de forma muito cuidadosa».

José Ribeiro Borges, de Vizela e Jorge Manuel Moutinho de Albuquerque, de Cascais, conheceram-se na Força Aérea na Base de S. Jacinto em Aveiro: «Eu fui para a Força Aérea muito novo, quase a fazer 18 anos, e o Albuquerque já lá estava uns cursos à minha frente. Também tinha mais alguns anos do que eu. Depois foi transferido para a Base do Montijo. Ali cheguei a encontrá-lo algumas vezes e a conviver com ele. Era um militar sempre aprumado e um bom amigo. Depois do Montijo saiu para a aviação civil. Desde os 18 anos que ele tinha o brevet e todas as qualificações mesmo para instrutor de voo. No seu currículo tinha quase duas mil horas de voo, cerca de mil em aviões Cessna 400 do mesmo tipo onde encontrou a morte. O avião foi comprado por um empresário aqui do Norte ao ex-presidente da Venezuela e foi o próprio Jorge Albuquerque que o foi buscá-lo à Venezuela exigindo na altura a substituição de todas as peças que fosse necessário para dar garantias de voo seguro. Sei que esteve a trabalhar numa outra empresa antes daquela que alugou a fatídica avioneta a Adelino Amaro da Costa e onde viajou Sá Carneiro e outras pessoas que também morreram. Apesar de todos os seus dotes, estava desempregado e fazia estes serviços de piloto ocasional».

José Ribeiro Borges sentiu com muito pesar morte do amigo mas registou também o pouco relevo que foi dado pela Imprensa a esta perda de vida, "Contrastando com o destaque dado à perda de vida de outros que seguiam no avião. O que ainda hoje acontece. Era todos seres humanos».


O funeral de José Manuel Albuquerque decorreu na Igreja de São Domingos de Rana (Cascais) ou Igreja de São Domingos de Gusmão, destacando-se a presença do Coronel Geraldo Estevens, em representação do presidente da República.

Tinha 26 anos de idade,  era casado há sete anos, pai de uma filha de 21 meses e estava a três meses de ser pai de novo.


CAMARATE

Na noite de 4 de dezembro de 1980, durante a campanha presidencial do general Soares Carneiro, candidato pela Aliança Democrática (AD), o ministro da Defesa português, Adelino Amaro da Costa tinha disponível uma aeronave Cessna a fim de deslocar-se ao Porto, onde iria assistir ao encerramento da campanha. Tendo Soares Carneiro alterado o local de encerramento da campanha para Setúbal, para onde se dirigiu acompanhado de Freitas do Amaral.

O então primeiro-ministro português Francisco Sá Carneiro, que também se dirigia para o Porto acompanhado da sua companheira Snu Abecassis, desmarcou os bilhetes da TAP que tinha reservado e aceitou o convite de Amaro da Costa, embarcando a bordo do Cessna juntamente com este, sua mulher Maria Manuel Simões Vaz da Silva Pires, o chefe de gabinete do primeiro-ministro, António Patrício Gouveia, e os pilotos do aparelho, Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa. Pouco depois de levantar voo, o avião incendiou-se e despenhou-se sobre o bairro das Fontaínhas, zona residencial vizinha da pista do Aeroporto da Portela, calculando-se que o impacto no solo ocorreu 26 segundos depois da descolagem.

O avião Cessna tinha entretanto embatido em cabos de alta-tensão, perdendo velocidade e acabando por se despenhar e incendiar sobre uma casa do bairro das Fontaínhas. Testemunhos contraditórios colocam em cima da mesa a hipótese de atentado, alegando algumas testemunhas oculares terem visto o Cessna a incendiar-se aquando do impacto final contra as habitações e outras testemunhas que o aparelho já se encontrava em chamas durante o voo, antes ainda do primeiro embate contra os cabos de alta-tensão. Morreram os sete ocupantes do aparelho, não se tendo registado vítimas entre os moradores do bairro, apesar de cinco habitações e três automóveis terem sido danificados. Wikipédia

 Da internet

 Homenagem devida ao piloto Albuquerque. 

À luz dos muitos factos apurados ao longo das dez Comissões de Inquérito à tragédia de Camarate, torna-se imprescindível repor agora a verdade no que toca à actuação e profissionalismo do Cte do Cessna 421, Jorge Albuquerque, cuja memória foi ao longo dos últimos 35 anos, inúmeras vezes injusta e maldosamente ofendida, na sua honra e profissionalismo, através de acusações infundadas e tendenciosas, visando unicamente desacreditá-lo como piloto e pondo em causa a sua real competência. Com base na minha experiência como Piloto de Linha Aérea e de instrutor de Voo de Acrobacia, tentarei, de uma forma sucinta, dar-vos conta de uma manobra de invulgar perícia, levada a efeito com grande auto-domínio, apesar de ter ocorrido em circunstâncias particularmente críticas. Assim, do que me foi dado ler nas sucessivas declarações de um atento Controlador da Torre a (folhas-1618 a1623-), podemos concluir com segurança, que a actuação do Cte Albuquerque possibilitou, na verdade, que o avião não se tivesse despenhado de imediato na pista. O facto de ter conseguido manter o avião a voar por mais alguns segundos, permitiu não apenas tornar o incêndio a bordo visível a inúmeras testemunhas oculares, como também deixar um rasto no terreno, à vertical da sua trajectória de voo, rasto esse, que viria a funcionar como uma verdadeira " Caixa Negra", contribuindo, decisivamente, para restabelecer as verdadeiras causas que estiveram na origem da tragédia. 

Com efeito, a deflagração dum engenho explosivo colocado a bordo, terá danificado alguns cabos dos comandos (ailerons), tendo a ruptura desses cabos provocado, por momentos, uma perigosa atitude descendente e com um pranchamento pronunciado (inclinação das asas), para o lado direito - situação que obrigou o controlador, que acompanhava visualmente a descolagem, a acionar de imediato o sistema de alarme dos Bombeiros do Aeroporto e direccioná-los para o final da pista 36.(folhas 1634), pois só poderia ser essa a trajectória expectável após a atitude observada nesse primeiro momento. A não ter havido mais nenhum input por parte do Cte. Albuquerque, teria ocorrido o inevitável despenhamento imediato da aeronave na pista. 

Não surpreende, portanto, que tenha sido sobre o Comandante do Cessna, que se abateram as mais absurdas acusações, que foram desde o estar alcoolizado, à ameaça de ser julgado por homicídio por negligência, não tivesse ele sucumbido na tragédia, o que não deixa de ser de um insuportável cinismo. Essa manobra exímia de recuperação da situação crítica inicial, executada com os comandos ainda efectivos (rudder e elevator) e nos seus derradeiros segundos de consciência, em que o Jorge Albuquerque, já muito ferido com estilhaços nos membros inferiores e enfrentando um incêndio no cockpit com temperaturas da ordem dos 500 graus, terá sido a última efectuada por ele, dado que terá ficado logo de imediato incapacitado, mas dado que o avião estaria compensado para a atitude de descolagem, o avião manteve-se ainda num voo cego e fatal, apontado a CAMARATE.

 Tive acesso a vários testemunhos das capacidades impares do Cte.Albuquerque como piloto, além de algumas situações de emergência em voo vividas ao longo da sua carreira profissional, dos quais se depreende, sem sombra de duvida, que ele era de facto aquele tipo de piloto em que o avião não passa de uma extensão de si próprio, com uma excepcional capacidade de adaptação e reacção a situações inesperadas, mantendo sempre uma enorme calma e presença de espírito. 

Foram essas características, demonstradas tantas vezes no passado noutras situações menos infelizes, que contribuiram, de forma decisiva, para se contrariar um "exército" de vontades de que Camarate não passasse de um mero acidente !

 Luis Garção. Piloto de Linha Aérea. 

Representante dos familiares de Francisco Sá Carneiro . 

Luis Filipe Rocha e Augusto Cid, ambos representantes dos familiares do piloto.


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