" A SAD do FC Vizela é um feliz exemplo e que assim continue" - José Borges

José Joaquim Vilela Borges assumiu há três mandatos o cargo de Presidente da Assembleia Geral do Futebol Clube de Vizela. Tem muitos anos de ligação ao Clube onde já foi também vice-presidente da direção e ocupou outros cargos diretivos.




- O Futebol Clube de Vizela, fundado em 1939 é um clube moderno ou envelhecido?
- Colocar a questão assim, não se torna fácil responder de forma objetiva. O índice de modernidade dos clubes, mede-se pela capacidade dos seus dirigentes em promover uma gestão, a todos os níveis consentânea com as exigências dos tempos que vivemos. Aí, julgo que o Clube, se soube adaptar à nova realidade, ultrapassou dificuldades decorrentes de atos administrativos (comprovadamente injustos), reabilitou-se financeiramente, agregou a si uma SAD - Sociedade Anónima Desportiva, que felizmente está a cumprir cabalmente os seus objetivos. Se modernidade também significa eficácia, o Clube e a sua gestão são isso mesmo.

- Se fosse possível fazer uma síntese destes 81 anos o que seria dito?
- Que os seus fundadores, e todos aqueles que trouxeram o FCV até aqui, estarão felizes pelo caminho percorrido, mas sobretudo pelo papel, que tem tido na construção duma comunidade feliz, orgulhosa de si e das bandeiras que a representam. É óbvio que as questões mais mediáticas, têm a ver com as vitórias nas competições, e aí, o historial, fala por si. Contudo, o que registo com mais agrado, tem a ver com a imagem, que marca o Clube na sua história. Cumpridor, protetor e promotor de todos aqueles que o serviram e defensor do espírito da ética e da verdade na competição. O apoio à formação desportiva e intelectual, mormente dos mais jovens, é um motivo que marca em relevo a sua existência.


- Que pessoas terão mais vincado a sua passem por este clube como dirigentes e atletas?
- Atletas, todos sem exceção. Não conheço nenhum, que não tenha defendido com dignidade a camisola da Rainha. Se foi mais ou menos competente, isso é outra coisa. Sem destacar individualmente alguém, aquela equipa que ascendeu à Primeira Divisão, tinha atletas de grande categoria e capacidade, e maioritariamente de Vizela. Quanto a dirigentes, nota para o facto de o Vizela ter tido a felicidade de ver a sua bandeira defendida por pessoas de elevado espírito e dedicação, a quem aqui deixo uma merecida homenagem. Foi para mim, uma honra, ter trabalhado com o saudoso Sérgio Capela e com o Sr Manuel Machado, atual presidente da AFB, que me trouxe para o Clube e a quem aproveito para desejar rápida e eficaz recuperação do problema com que se confrontou.

- Os títulos conquistados pelo FC Vizela estão de acordo com os seus pergaminhos?
- Sim. Já disse atrás, que o historial fala por si. Três títulos nacionais falando de futebol, participação na primeira divisão e em fases adiantadas na taça de Portugal, são naturalmente motivo de orgulho para os seus associados.

- O que representa para si presidir à Assembleia Geral do FC Vizela?
- Naturalmente, um orgulho enorme. Reconhecido pelo convite do Presidente da Direção Eduardo Guimarães e consciente das minhas responsabilidades. Muito bem apoiado pelos meus colegas da Mesa, Manuel Marques e Dr. André Castro, que teve um papel relevante no processo de renovação dos Estatutos e Regulamentos do Clube, agora concluídos.

- O número de associados do Clube, pouco mais de mil, é condizente com a grandeza do clube?
- Nem de longe nem de perto. A massa associativa, caracteriza-se pela qualidade e não pela quantidade. É uma pena! O incremento da macrocefalia em Portugal e a proliferação de Clubes, contribui para que sejamos muitos, mas corremos o risco de ser pequenos e pouco representativos, mas fica a nota, de que todos têm direito à vida e um especial cumprimento aos meus colegas dirigentes de todos os Clubes, e de todas as freguesias.

- Está em curso uma campanha de novos associados, o que espera dela?
- Grande esperança, de que tenha o efeito, que os seus dedicados promotores, a quem aproveito para felicitar, desejam. Deixo aqui o apelo, para que cada associado, no âmbito das suas relações, angarie um outro sócio. E já agora, que associados das Casas do Benfica e do Porto em Vizela, se mobilizem também na defesa da bandeira do Clube da sua terra.

- É dos que pensa que o lugar do FC Vizela nem é mais abaixo nem mais acima do que a II Liga?
- Sim, entendo que sim. Contudo, e porque a equipa profissional de futebol está agora sob a gestão directa da SAD, admito e faço votos, para que se concretizem os seus objetivos ou seja colocar o Clube no escalão máximo do futebol português. Feliz ou infelizmente, o futebol transformou-se num negócio, e é de todo compreensível, que dos investimentos se retire o devido retorno.

 "Suspensão da subida? Nada de especial, que possa prejudicar o Vizela e a SAD. A decisão está tomada e só resta à Federação defender a lógica das coisas, que no fundo, 
tem a ver com a lógica da verdade e da justiça".
 
- Como reagiu à passagem da equipa principal (e juniores) para as mãos de uma SAD?
- De forma muito positiva. Era a única alternativa. Até hoje só motivos para estar feliz. Uma felicitação aos seus administradores Diogo Godinho e Gonçalo Moreira pelo empenho, que têm dedicado à sua / nossa causa.

- O Tribunal Administrativo do Desporto suspendeu as subidas do Vizela e do Arouca por recurso apresentado pelo Olhanense. O que espera daqui?
- Nada de especial, que possa prejudicar o Clube e a SAD. A decisão está tomada e só resta à Federação defender a lógica das coisas, que no fundo, tem a ver com a lógica da verdade e da justiça. O Sr presidente Fernando Gomes tem deixado transparecer a ideia que está no futebol para contrariar a tese de que os seus dirigentes se deixam contaminar pelo espírito do “vale tudo”, contrariando o sentido da ética e da verdade. A única dúvida, tem a ver com a o facto de termos um campeonato a dezoito ou a vinte equipas em função dum eventual alargamento (recomendado pelos senhores juízes, os tais sábios da bola, sempre dispostos a contrariar as decisões dos órgãos, mas nunca por unanimidade vamos lá saber porquê).


- Como analisa o trabalho da SAD presidida por Diogo Godinho?
- Já o disse atrás. Já agora, aproveito para desmistificar o conceito, que se está a construir acerca das sociedades desportivas. Temos dentro de casa um feliz exemplo. Que assim continue, obviamente com o apoio de todos nós e dos vizelenses em particular.

- No cômputo geral como avalia o atual estado do futebol português?
- O futebol em si, enquanto modalidade, será pelos seus encantos e pelas emoções que suscita, um fenómeno eterno. No entanto, os seus dirigentes, aqueles que sobrevivem à custa do fenómeno, terão a responsabilidade de o defender perante a tal sociedade do conhecimento. A sociedade, cada vez mais informada e com outro tipo de alternativas. O futebol em si, é hoje em dia é alimentado pela clubite, ou seja: defender a bandeira a qualquer custo, mesmo que da verdade desportiva. Em suma, o futebol, será aquilo, que nós enquanto dirigentes, queiramos que ele seja.
José Borges na equipa de desporto da Rádio Vizela (foto de arquivo)

- Acha que no futebol nada será como dantes no pós coronavírus ou volta tudo ao normal?
- Infelizmente, e ao nível das condutas, tudo vai regressar ao seu normal. Vejam-se os exemplos, que no quotidiano nos são dados a conhecer. Imaginava que sim, mas cheguei à conclusão que estava a cavalgar a onda do romantismo.

- A nova época deve começar com espetadores nas bancadas?
- É claro que sim. O futebol, só assim faz sentido. Pela dimensão do espaço das plateias, e desde que se respeitem as normas, é perfeitamente plausível que o público regresse às bancadas. Assim se deseja e seria muito bom sinal. Resta agora saber se os consumidores do futebol, sabem estar à altura dos acontecimentos.

- Enquanto presidente da Assembleia do FC Vizela qual acha que era a melhor prenda que os sócios deste clube deviam (e mereciam) receber?
- Poder regressar às bancadas do nosso Clube, para o apoiar de forma massiva, agora na Segunda Liga. Continuar a demonstrar de que massa os vizelenses são feitos, na hora de apoiar Vizela nas suas nobres causas. E o FC de Vizela é uma nobre causa para todos nós enquanto coletivo. Por último, um desejo, que também é um reconhecimento. Que o poder constituído e responsável pela administração do território (Câmara), continue a ver os Clubes e neste caso o Vizela em particular como elemento fundamental ao desenvolvimento social, económico e cultural da comunidade.

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