Já são poucos os “jovens” que restam daqueles que aprenderam a nadar no rio Vizela.
Texto de ADELINO CAMPANTE
Naqueles tempos, até ao final da década de 60, as águas eram límpidas e não estavam poluídas pelos efluentes das têxteis e “bloqueiras” que se foram instalando ao longo do rio.
A prancha mais alta de salto ficava na plataforma que se segue às escadas. Sobre o açude estão ainda 3 (uma incompleta) das 4 pranchas que existiam. Normalmente os barcos não andavam nesta zona que era destinada aos nadadores. Quatro barcos a pairar à vista, cada um com uma pessoa, foi nitidamente uma encenação para uma foto de propaganda turística. Postal ed. CBV
Muito menos são agora aqueles que restam dos que no Parque, da prancha mais alta
existente na torre das comportas, saltavam acrobaticamente para o rio. Não era arte que a todos tocasse porque, para fazê-lo, era necessária flexibilidade e coragem para enfrentar o fundo do rio que se encontrava a cerca de 2, 5 metros da superfície. Quando se entrava na água já se estava a pensar na manobra a efetuar para não bater com a cabeça no fundo. Não era só coragem para enfrentar o fundo do rio mas também para saltar pois que, aos menos afoitos, as pernas tremiam em cima da prancha e, para não passar vergonhas, nem se aproximavam.
Naquele clima de emulação saiam desde simples mergulhos de pé ou de cabeça, à morto de frente e costas, até aos saltos de carpa, à anjo, mortais e mortais e meio de frente e de costas.
Por isso, quando começava a época, os saltadores, dos quais fazia parte, tinham o cuidado de ir falar com o Sr. Torres (pai), sempre presente na Companhia (CBV), para que diligenciasse o
desassoreamento do rio. Na época, as licenças oficiais eram simples, se é que as havia e a CBV “encaixava” o valor da areia.
Aqueles decímetros que se iam ganhar, pela retirada da areia por baixo das pranchas instaladas, eram importantíssimos para que não se batesse no fundo e se partisse o pescoço.
Bons tempos esses. Nos anos 70 já o rio estava poluído para a natação mas os barcos ainda navegavam até à Ilha dos Amores.
A última vez que a CBV desassoreou o rio foi em 2005 ou 2006.
Estes tempos de ingenuidade em que a juventude passava os tempos de forma simples já não voltam.
AC