O Altar Mor de S. João das Caldas (I)

As voltas da História, o eng. Adelino Campante conta o percurso do atual Altar Mor da igreja de S. João das Caldas desde o Porto, de onde veio, até Vizela, onde está.


O Mosteiro de S. Bento de Ave-Maria foi construído no tempo do rei D. Manuel I, a expensas da sua Fazenda. Em 1518, início da construção, o comércio com a India estava no seu auge. As especiarias chegavam da India e eram depois comercializadas a peso de ouro nas feitorias da Flandres.

O rei pretendeu que os mosteiros construídos na idade média, nos montes e nos campos como focos civilizadores, fossem transferidos para as cidades.

O mosteiro de S. Bento recebeu assim, a partir de 1535, as monjas de diversos conventos da zona do Douro Litoral.

Em 1738, após um incêndio, foi feita uma remodelação. Era o reinado D. João V, época do ouro e diamantes do Brasil.

Com o Liberalismo as ordens religiosas foram extintas e os bens confiscados por decretos de 1832 e 1834. Contudo houve uma salvaguarda para os conventos de religiosas, só após a morte da última se daria cumprimentos aos mesmos.

Em 1892 terá morrido a última freirinha no convento.

A Ligação ferroviária Lisboa Porto
A ligação ferroviária entre Lisboa e Porto tinha inicialmente ficado em Gaia


Só com a inauguração da Ponte D. Maria Pia, em 4 de novembro de 1877, ficou a ligação estabelecida em definitivo.


Contudo a estação no Porto ficava longe em Campanhã. Havia que construir uma Estação Terminal no centro da cidade.

O local escolhido foi o do convento de S. Bento.

A Câmara aprovou o projeto e em Janeiro de 1888 a Direção dos Caminhos de Ferro foi autorizada a estudar o prolongamento.

Foi necessária a abertura de 3 túneis, Quinta da China, Monte do Seminário e das Fontaínhas.

A demolição do edifício do mosteiro começou em 1894 e em 7 de novembro de 1896 chegou o primeiro comboio.


A demolição da Igreja começou em outubro de 1900 e durou até outubro de 1901.



Aurélio Paz dos Reis (Porto, 28 de Julho de 1862 — Porto, 18 de setembro de 1931) foi um comerciante floricultor, fotógrafo amador que deixou um valioso acervo fotográfico, considerado o pioneiro do cinema em Portugal por ter realizado e produzido os primeiros filmes portugueses como a A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, era frequentador das Termas de Vizela.

No Livro do Dr. Jaime de Oliveira, Vizela- À Procura de Uma Memória, 2ºed. pág 13, aparece uma foto da autoria de Aurélio Paz do Reis. Por esses dias do ano de 1900 ou 1901, havia um evento tauromáquico na Praça de Touros da Cascalheira. Na foto um conjunto de pessoas à porta do Café Elite, na rua Dr. Abílio Torres, onde se vê a demonstração de um aficionado.
Paz dos Reis é a personagem no lado direito da foto.

O espólio foi distribuído por diferentes locais. O orgão foi comprado para a Igreja do Bonfim, o sino maior foi para a Capela dos Franciscanos na rua dos Bragas. Há trabalhos de talha no Museu do Seminário do Porto, na Igreja de Cedofeita, no Paço de S. Cipriano em Guimarães (azulejos do claustro), no Museu de Arte Antiga em Lisboa (báculo da Abadessa) e no Mosteiro de Singeverga (Cibório).

Veremos que a obra da demolição do Mosteiro de S. Bento estava cruzada com a construção da nova Igreja de Cedofeita.

Em 1894 já a Confraria do Santíssimo Sacramento de Cedofeita tinha contactado Marques da Silva para fazer um levantamento da planta de S. Bento de Ave-Maria.

A maior parte do espólio, alfaias, mobiliário e objetos de talha, foi para a Igreja de Cedofeita porque a respetiva confraria, por Portaria de 1896, procedeu à gestão da demolição da parte restante do Convento e da Igreja de S. Bento de Ave- Maria.

Uma parte importante desse espólio encontra-se agora em Vizela e é essa a razão deste trabalho.

O Projeto da Estação de S. Bento foi entregue ao arquiteto José Marques da Silva (o mesmo do antigo edifício da Santa Casa da Misericórdia de Vizela, do Museu Martins Sarmento, do antigo Mercado e da Igreja da Penha em Guimarães

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A Igreja de Cedofeita

Entretanto o mesmo arquiteto era já o responsável pela construção da nova Igreja de Cedofeita que substituiria no culto a antiga Igreja Românica, cuja origem remontaria ao tempo de Teodomiro, rei dos Suevos. O mesmo rei que ordenou o Concílio de Lugo (569 AD) de onde resultou o Paroquial Suevo em que é referida a freguesia de S. Miguel Oculis Calidarum.

Os apontamentos sobre Cedofeita foram baseados em

CARDOSO, António - O arquitecto José Marques da Silva e a arquitectura no Norte do País na primeira metade do séc. XX. Porto: Faup-publicações, 1997, pp. 105-108; 431-439; 467.

CUNHA, Maria José e Rui – Porto de Agostinho Rebelo da Costa aos nossos dias- A Colegiada de Cedofeita (Blog)

MOTA e COSTA, Orlando – Igreja Paroquial de S. Martinho de Cedofeita. Porto: Igreja Paroquial de S. Martinho de Cedofeita, 2007, pp. 22-26.

Publicação da Fundação Marques da Silva

O projecto da nova Igreja era demasiado ambicioso, edifício de grande volumetria e todo em pedra trabalhada.

Era a bem dizer um projeto faraónico que prometia ser um sorvedouro de dinheiro.


Em 1 de outubro de 1899, com a bênção do Bispo do Porto, D. António Barroso (visita habitual de Vizela), é promovido o assentamento da primeira pedra da nova igreja de Cedofeita.


Em 1906 o mesmo Bispo celebra a 1ª missa.

Quando a capela mor ficou concluída, em 1929, foi montado o Altar Mor da antiga Igreja do Convento de S. Bento de Ave-Maria.


A cronologia das obras foi a seguinte:

Início de projeto [1895] | Início de obra 1899 | 1ª suspensão das obras 1911 Reinício da construção 1923 | Reformulação do projeto 1924 | 2ª suspensão das obras 1932 Pedido de simplificação de planta 1941 | Abandono definitivo da construção 1962

O Bispo D. Manuel Martins, homem muito realista, quando pároco de Cedofeita (1959-1969) tomou a difícil mas lógica decisão de não dar continuidade à obra.

Foi então concebido um novo projeto (1963) pelo arquiteto Eugénio Alves de Sousa. Nele constava a demolição de parte do construído e a atribuição de novas funções aos espaços que se mantinham.

A nova Igreja romperia completamente com o passado. Estilo muito funcional e moderno, denominado “Brutalista”, em que a cofragem é muito cuidada e o betão aparece à vista sem que seja necessário acabamento.

As obras começaram em 1966


Ao Prior, entretanto nomeado Bispo de Setúbal, sucede em 1969, o novo pároco Orlando Mota e Costa

O Prior de Cedofeita Orlando Mota e Costa (na foto)


Na decoração do interior trabalhou o a equipa de Mestre Júlio Resende.

Com o estilo da Igreja e a sua decoração interior não era possível conciliar o velho altar mor do Convento de S. Bento de Ave-Maria. Ficou de fora a hipótese da sua montagem no novo Templo.

E o antigo altar mor lá ficaria arrecadado não fossem as ironias do destino.

As obras da Igreja continuavam e havia que enfrentar as despesas da Obra.

A Igreja só seria inaugurada em 1974.

Residi na freguesia de Cedofeita entre 1967 e 1980. O Prior de Cedofeita contou-me, um dia, que tinha andado no seminário com o Cónego Albano da Silva Freitas e que tinham ficado amigos. Quando em 19 de Junho de 1972 leu os jornais e soube do incêndio na Igreja de S. João das Caldas e do estado do sacerdote seu amigo, recebeu como que uma inspiração. Tinha que intervir …

(continua)

Julho 01 de 2020

A. Campante

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