POR ANTÓNIO CUNHA
Teria sido a ponte que dava acesso e apoio à FÁBRICA DE PAPEL edificada no início do século XIX na margem esquerda do rio, denominada Real Fábrica de Papel e Tinturaria de Sá. Outros estudos dizem que foi construída entre os proprietários das quintas das duas margens para acesso direto às mesmas propriedades. Pensou-se até que serviria de ponte ferroviária num projeto levado a assembleia municipal de Guimarães, por volta de 1904, que iria ligar as zonas termais do distrito de Braga, incluindo o Gerês. Não passou obviamente de um projeto.
A ideia de que a ponte foi construída pelos proprietários das quintas seria a mais plausível. Decidi, por isso, realizar uma investigação sobre o assunto e as conclusões foram extraordinárias. Concluí que, antes de ser uma ponte, foi um açude idêntico ao que a companhia de banhos construiu um pouco mais a jusante.
E seria certamente o açude construído para apoiar a grande fábrica de Papel da Cascalheira, edificada pelo Sr. Francisco Joaquim Moreira de Sá nos finais do século XVIII. Com a destruição da fábrica, o açude manteve-se pelo menos até 1891, data em que a companhia de banhos pediu a licença, no dia 17-01-1891, à Direção Regional do Ambiente e Recursos Naturais-Norte, para substituir o açude da “Cascalheira” por outro com a mesma altura no coroamento um pouco a jusante do existente e as obras marginais para uma turbina. “… pedindo concessão de licença para substituir o açude denominado da “Cascalheira” situado no rio Vizella, freguesia de S. Miguel e S. João das Caldas, concelho de Guimarães, por outro com a mesma altura no coroamento um pouco a jusante do existente, e bem assim para construir as obras marginaes necessárias para a instalação d´uma turbina…”As laterais do açude não foram demolidas e serviram de suporte à ponte de ferro que ainda existe nos nossos dias e que seria construída pelos proprietários das quintas de ambas as margens. Existem fotos onde se podem ver portões em ambas as extremidades da ponte confirmando o acesso restrito às ditas quintas.
ANTÓNIO CUNHA |
Num contexto arqueológico, os pilares em pedra da ponte serão o que resta da grande fábrica de Papel da Cascalheira, e que seria conveniente preservar para memória futura. Num jornal Vimaranense, de finais do XIX um jornalista alertava para o facto de que se deveria preservar o que restava da fábrica de papel da Cascalheira, para memória futura, confirmando por isso que as ruínas da fábrica ainda permaneceram muitos anos após a destruição ocorrida em 1808.
É possível ver em postais antigos as margens a montante deste açude com um distanciamento muito maior que o restante curso do rio, dando ideia que tiveram águas represadas, que serviram inclusive para os moinhos que se localizavam na zona da Cascalheira. AC