"Verifico que Vizela é um meio pequeno face a tantas dissensões políticas e de poder.
Quando ainda não era concelho todos lutavam com uma certa harmonia no mesmo sentido."
Dizia um político amigo meu, deputado por muitos anos, que havia os adversários políticos (pertenciam a partidos diferentes) que se respeitavam mas os inimigos estavam ou no mesmo partido ou na mesma zona doutrinal.
Verifico que a CM Vizela tem agora a preocupação de, através do seu Gabinete de Imprensa, informar os munícipes sobre as resoluções tomadas e que dizem respeito às suas preocupações.
Não ficam assim estas resoluções no silêncio dos gabinetes dando origem a ditos que se propagam e a tentativas de explicação que passam pela mente dos vizelenses.
Não é minha intenção falar sobre estes problemas. Não vivo atualmente em Vizela e este distanciamento permite-me, longe do nevoeiro local, ver com alguma nitidez e constatar factos sem qualquer tipo de paixões.
No passado grande parte da economia vizelense baseava-se no turismo termal. Verifico através de postais antigos de Vizela que aqui ocorriam pacientes de todos os lados do país e até muitos brasileiros. Além dos hotéis e pensões havia muitas casas particulares que alugavam quartos. Hoje, os agora chamados aquistas, são essencialmente de arredores não mais distantes que 50 km . Vem e vão de automóvel no dia dos tratamentos. Daí a dificuldade para a indústria hoteleira e do negócio do aluguer de quartos. A economia de origem termal, com o surgimento industrial, tem agora um menor peso na economia vizelense.
Verifica-se contudo que apesar da grande vitória com a conquista do concelho houve objetivos que não foram conseguidos. O Concelho só surgiu quando grande parte dos dinheiros europeus já estava distribuída. Passou assim a Auto Estrada, importante para a chegada de investimento estrangeiro (tudo o que ficar a mais de meia hora do aeroporto e dificultar os transportes, é longe) na periferia do concelho sem que houvesse uma saída dedicada. Aquelas saídas que existem ficam longe e estão mal sinalizadas. A qualquer turista de passagem nem lhe ocorre vir a Vizela.
Quanto à instalação de indústria verifica-se que o nosso território ficou escasso, por estratégia dos concelhos vizinhos, sendo difícil conseguir terrenos e não havendo ainda parques industriais. Assim grande parte das fábricas pertencentes a industriais vizelenses ou que cá moram estão em concelhos limítrofes. Não venha alguém considerar que isto é uma critica. É apenas uma constatação.
Não estou preocupado com o passado, com opções menos acertadas que foram tomadas.
A preocupação deve ser com o futuro
Preocupo-me com as Mortes Anunciadas que, se não forem tomadas medidas, virão mesmo a acontecer. O edifício do Castelo é um dos casos em evolução e cujo incêndio me levou a escrever esta série de artigos. Se vier a ser demolido, por falta de segurança, já nem ficarei surpreendido.
A rua Dr. Armindo Ribeiro de Freitas Faria está agora interrompida (Informação de ontem na ddV).
As opções do passado têm consequências no futuro.
A Companhia dos Banhos, mais exatamente, os tratamentos termais em Vizela estão em fase de morte lenta. Já soube, no dia 18 de Junho, que vão abrir dentro de um mês. Entretanto vejo a publicidade das outras Termas que já abriram. Corre-se o risco de não sobrar nada para as Termas de Vizela.
Mas pretendo falar de outra Morte que deve merecer a atenção de todos.
Trata-se da desertificação crescente do centro antigo de Vizela
Os centros antigos das cidades tem tendência a perder habitantes pois os prédios não dispõe de condições de conforto e habitabilidade. Os residentes vão envelhecendo e as gerações novas procuram habitações modernas e confortáveis. Mudam até para outras terras onde se ofereçam melhores condições de trabalho e de vivência.
Vizela não tem conseguido oferecer condições à quantidade crescente de jovens que obtém cursos superiores. Vizela é dos concelhos que ainda não conseguiu criar uma escola com um qualquer curso superior ou técnico profissional, que atraísse estudantes, como tem acontecido nos concelhos limítrofes. Não conseguiu atrair um qualquer Instituto ou Parque relacionado com a UM (ver caso da AvePark nas Taipas, nota no final). Não tem empresa suficientes nem de ponta (tecnológica) que fixem jovens pesquisadores, cientistas, técnicos que estão a sair das escolas. Não criou um parque industrial, não atraiu investimento externo que possibilite maior oferta de emprego. Uma região que não fixe e atraia habitantes, as pessoas é que são a alma e força da terra, vai-se apagando. É um fenómeno que acontece em algumas zonas de Portugal.
Mas vou limitar-me ao núcleo central de Vizela que é constituído por construções dos séculos XIX e princípios do XX.
A CMV até tem feito um trabalho meritórios de recuperação nas ruas do centro da cidade e na Praça da República.
Mas em relação aos edifícios que poderá fazer? Até agora os serviços públicos, que poderiam aí ser instalados e dar vida aos antigos edifícios tem ido para prédios nas zonas novas.
A reinstalação desses serviços poderia ser uma solução paras as casas do centro e até para o Castelo.
Em edifício antigo, pertencente à Santa Casa da Misericórdia, mais precisamente na casa que foi do Dr. Abílio Torres, estavam instalados os Serviços Sociais. Ao que li, uma canalização antiga provocou uma inundação e os Serviços tiveram que ser transferidos de urgência para outro edifício. É importante que retornem para o local.
Que é de esperar nos próximos anos em relação ao centro de Vizela? A população aí residente está numa fase etária avançada. Não há nascimentos. Se for feito um estudo sociológico (ficaria barato se por estudante do ramo como trabalho de curso) poderá ser avaliada a respetiva evolução e fazer projeções.
O fenómeno é lento mas visível para quem não está em Vizela todos os dias. Será saudosismo do passado, “bairrismo doentio”?
Muitos dos edifícios estão vazios. Noutros, embora com comércio, já não reside ninguém nos andares superiores.
Não é minha preocupação o passado. Não é possível alterá-lo. Mas pergunto o que irá acontecer nos próximos 5, 10, 20 anos no centro antigo de Vizela?
Houve quem não entendesse a preocupação. Trata-se certamente de uma questão de crescimento da cidade mas, é minha pretensão focar o problema na lenta desertificação do centro e que se verifica ser mais grave do Jardim para sul.
É este o desafio que é lançado aos atuais e futuros dirigentes e que interessa aos jovens de Vizela,
A vida é curta e a morte garantida
Abraço para todos
A. Campante
Nota:
Avepark – Parque de Ciência e Tecnologia, SA é uma associação de direito privado, constituído em 2004 e que tem como sócios a Câmara Municipal de Guimarães (51%), Associação Parque C&T do Porto (15%), Universidade do Minho (15%), Associação Industrial do Minho (15%) e Associação Comercial de Guimarães (4%).