Paróquias e Abades - Parte 1
Cada Diocese deve dividir-se em paróquias, que são comunidades de fiéis constituídas de forma
estável e confiadas a um pároco como seu pastor.
As paróquias normalmente são constituídas pelos fiéis dum determinado território.
Livros que devem ser escriturados na paróquia:
§ 1. Em cada paróquia haja os livros paroquiais, a saber: o livro dos batismos, dos matrimônios, dos
óbitos e outros, de acordo com as determinações da Conferência episcopal ou do Bispo diocesano; procure
o pároco que estes mesmos livros sejam cuidadosamente preenchidos e diligentemente guardados.
§ 2. No livro dos batismos, averbem-se também a confirmação e aquelas circunstâncias que
acompanham o estado canônico dos fiéis, em razão do matrimônio, bem como a recepção de ordens sacras,
a profissão perpétua emitida num instituto religioso e ainda a mudança de rito; e refiram-se sempre estes
averbamentos nas certidões do batismo.
Abades de S. João das Caldas
No conhecido Dicionário Portugal Antigo e Moderno, de todas as cidades, vilas e freguesias de
Portugal, de Pinho Leal, no seu decimo segundo volume, terminado já após a sua morte, por Pedro Augusto Ferreira, mais conhecido como Abade de Miragaia, em 1880, no tópico referente à freguesia de S. João das Caldas, lê - se que D. Theotónio ou Teodósio de Bragança (1530-1602), filho de D. Jayme, 1º Duque de Bragança e que em 1578 foi elevado a Arcebispo de Évora, foi abade nesta Freguesia.
Não querendo colocar em dúvida tão requintada afirmação, mais ainda porque as notas que a
sustentam, foram coligidas por ilustres investigadores e historiadores, como o Pedro Augusto Ferreira ou João de Oliveira Guimarães, a verdade é que, em mais lugar algum, vemos testemunhos que atestem a sua veracidade.
encomendado o padre António Salgado e coadjutores Ferreira Vaz e José Pinheiro em 1588 e 1592.
Francisco Ribeiro, foi cura em 1617 e Pero Ribeiro, Abade de 1622 A 1652, após o que foi
substituído pelo Abade António da Fonseca. Este António da Fonseca, legou 200.000 reis à Junta da
Paróquia, com a obrigação de por sua alma se celebrar um terno de missas de Natal nesta Igreja e uma
outra na Igreja de S. Domingos, em Guimarães.
Em 1668, o encomendado Joseph de Castro, foi substituído no ano seguinte pelo Abade Ruy Mendes
de Vasconcelos, cujo se manteve nesta paróquia até 1672, após a sua substituição pelo Abade Francisco
Gomes Correa.
Durante o sacerdócio deste abade, até 1756, temos diversos assentos, quer de batismo, casamento ou
óbito, assinados por diversos curas ou encomendados: Manuel Vaz, cura em 1718, Martinho lopes e Sousa, Manuel Ribeiro Cardoso em 1724; Ignacio Marques ou Manoel Pinheiro Sousa, encomendados em 1730;
Francisco Ribeiro da Silva, António Rodrigues Cerqueira, em 1733, Francisco Alvares, coadjutor em 1736, Domingos Francisco da Silva, Bernardes de Azevedo e Francisco Ribeiro da Silva, de 1736 até 1754.
Em meados de 1754, chega a esta freguesia o Abade João Vellozo da Praça. É este João Vellozo da
Praça, que recebe a incumbência de elaborar as "Memórias Paroquiais de 1758", que se pretendia fossem uma leitura o mais fidedigna possível do "Estado do Reino", três anos após o terrível terramoto de 1755.
Assim, podemos dizer que os Inquéritos Paroquiais de 1758, são uma consequência direta do
terramoto de 1755.
João Ribeiro de Sam Payo, cura na freguesia de S. Miguel das Caldas, também prestava serviço nesta
freguesia ao tempo de João Vellozo da Praça, além de outros, encomendados, curas e coadjutores, como
Valério José d'Almeida em 1770, José Vaz em 1771, António Manoel Pinheiro de Magalhães, Luís
António de Sousa, António José Ferreira ou Francisco Lopes e Sousa, até 1798.
A partir desta data e até 1855, foi abade desta freguesia Francisco de Araújo, a quem coube
responder ao inquérito histórico - geográfico que foi enviado a todos os párocos e que conhecemos como Inquéritos Paroquiais de 1842. Este Inquérito, igual para todas as freguesias ou paróquias, constava de 17 parâmetros e é, ainda, uma fonte importantíssima, para o conhecimento histórico - geográfico de cada uma das freguesias envolvidas.
A 9 de Setembro de 1855, tomou posse desta Igreja António José Félix Gomes (que em 1888 fazia
parte da Comissão nomeada pela Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, para proceder à escolha do terreno para a edificação de um hospital de 1ª ordem, em satisfação do legado do benemérito António
Francisco Guimarães) e que aqui se manteve até 1904. Félix Gomes, nasceu na Freguesia de Espinho,
Concelho e Diocese de Braga, filho de Francisco José Esteves e de D. António Maria Gomes, em 10 de
Janeiro de 1829, tendo-se tornado presbítero em Braga. Foi durante a sua função espiritual que se deu
inicio à construção da actual Igreja, que foi solenemente inaugurada e benzida, a 7 de Novembro de 1909, embora ainda não estivesse totalmente concluída, faltando construir a capela-mor e alguns altares.
No dia 14 do mesmo mês, celebrou - se a festividade do Coração de Jesus e as cerimónia da primeira
comunhão, como nos relata o jornal Independente, no seu numero 415, de 29 de Novembro de 1909.
António José Correa, do qual não se conhecem grandes atributos ou grandes menções, foi o pároco
seguinte e que aqui se manteve até 1941, sendo o seu lugar ocupado pelo Padre João Gonçalves que se
manteve ao leme desta freguesia por mais seis anos, até meados de 1947.
Este pároco não se limitou aos assuntos da paróquia e embrenhou - se a fundo, no dia a dia da
comunidade, daí não estranhar de o vermos como Assistente Espiritual, na 1ª direcção da recém-formada Sociedade Filarmónica Vizelense, em Janeiro de 1945. (continua)
Júlio César Ferreira
31/Maio/2020
Párocos de S. Miguel
1888 - Abbade João Evangelista da C. Veiga
SANTA EULÁLIA
1891 - José Maria da Costa Dias
SANTO ADRIÃO
P. José Sampaio Machado Bastos (faleceu em março de 1932 fora de atividade)
NB - Listagem muito incompleta. As datas não significam a entrada nem a saída de qualquer dos párocos das respetivas paróquias mas tão só uma determinada altura em que exerceram sacerdócio nas mesmas.
Paróquias e Abades - Parte 2
Cada Diocese deve dividir-se em paróquias, que são comunidades de fiéis constituídas de forma
estável e confiadas a um pároco como seu pastor.
Cónego Albano da Silva Freitas
A 30 de Junho de 1947, D. António Bento Martins Júnior (Arcebispo de Braga de 28 de Setembro de
1932 a 119 de Agosto de 1963) assina o decreto da nomeação para a Freguesia de S. João das Caldas, do Padre Albano da Silva Freitas, decreto tornado publico a 24 de Julho de 1947.
A 6 de Agosto de 1947, chegava a Vizela aquele que se tornaria numa das figuras mais emblemáticas
da segunda metade do século vinte, numa altura em que na, então, Vila de Vizela, se vivia uma vida
alicerçada em duas facetas bem distintas. Por um lado, o modo de vida faustuoso dos banhistas ou simples veraneantes e a vida simples dos operários fabris, ou dos trabalhadores agrícolas.
Albano da Silva Freitas, nasceu na freguesia de S. Lourenço de Golães, Concelho de Fafe, no 20 de
Fevereiro de 1921, filho de Florêncio da Silva Freitas e de Albertina de Freitas e foi ordenado sacerdote a 18 de Setembro de 1943.
Inaugurada que tinha sido em 1909, a igreja de S. João, apresentava, neste verão de 1948, algumas
vicissitudes próprias do tempo. 40 anos de vida fazem mossa e eram notórias algumas das mazelas que a vetusta igreja já ostentava. Sem receio, com ousadia e força de querer lança - se num arrojado e vultoso restauro, que devolveu a este belo tempo a nobreza que merecia.
Mas nova obra esperava pela sua indómita vontade de modernizar a sua freguesia e assim, nos
meados dos anos 50, novo projecto ganha forma na sua mente: a construção de uma das mais emblemáticas obras da freguesia e que ainda hoje, não tem paralelo em todo o distrito e diocese. Foi durante anos palco de imensas actividades lúdicas, recreativas e culturais, como o ensino infantil e primário, para além de das actividades próprias da igreja, nomeadamente catequese e outras.
Concluído que ficou o Patronato, novo sonho o alimentou e a necessidade de uma nova casa
paroquial e um adro condigno, levaram - no a mais uma tarefa árdua mas que alimentava o seu lema de
vida. Elevar cada vez mais alto, a Igreja e os paroquianos que lhe foram confiados. Andava eu nas matas da Guiné, nos anos de 1970, quando sonha em dotar a velhinha Igreja com um soalho novo, vitrais resplandecentes, telhado novo, bancadas novas e novos sinos.
Concluído que estava este segundo restauro, foi ele solenemente inaugurado a 18 de Junho de 1972,
no mesmo dia em que se celebravam as cerimónias da Primeira Comunhão e da Comunhão Solene de
muitos jovens de então.
Neste mesmo dia um pavoroso incêndio destruiu a completamente o Altar - Mor e os altares laterais,
tendo a igreja ficado muito danificada quer pelo fumo, quer pelo combate ao incêndio, mas o querer, a
força de vontade e o carinho de muitos benfeitores, amigos e demais paroquianos, levou a novo restauro.
Determinado e sabendo que na Igreja de Cedofeita, estava armazenado o Altar - Mor que fora do
Convento de S. Bento de Ave - Maria, no Porto, que no Séc. XVIII foi demolido para dar lugar à Estação de S. Bento, logo o incansável Padre Albano tratou de o comprar para embelezar a sua Igreja.
Nesse mesmo ano, por decreto do Arcebispo D. Francisco Maria da Silva, é nomeado Cónego
honorário, ficando a pertencer à Corporação de Cónegos da Sé de Braga.
1996 |
Foi, durante os anos 50 e 60, professor e mentor religioso no Externato de Vizela. No final do ano
lectivo de 1951, os alunos fizerem uma procissão e na gruta do colégio, foi colocada uma imagem da
Senhora de Fátima.
Por estes anos, em meados dos anos 50, em todos os 12 de Maio e durante vários anos seguidos, saía
uma lindíssima procissão de velas, que vinda da Igreja, "descia a rua da companhia, atravessava a ponte
velha e dava a volta pela ponte nova até à igreja".
As pessoas compravam velas que eram cortadas e colocadas nas janelas e nas guardas da ponte. Nas
marcas dos "forfex", os jovens naturais da ponte velha, com muito esforço e risco, colocavam cotos de velas acesos, que davam à velha ponte um "aspecto lindíssimo"-
Durante uma boa parte do seu ministério, teve como coadjutor o seu irmão João, que mais tarde foi
pároco da Freguesia do Divino Salvador de Tagilde e a quem se deve, juntamente com o Monsenhor José de Sousa Monteiro, pároco de S. Miguel das Caldas, a construção da Capela Nova de S. Bento, com inicio a 1 de Agosto de 1966 e que teve a sua inauguração e bênção, numa cerimónia presidida pelo Sr. Arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, a 10 de Julho de 1971.
Com o desaparecimento, por morte, do Monsenhor José de Sousa Monteiro, a 3 de Setembro de
1979, assume o cargo de Capelão da Real Associação dos Bombeiros Voluntários de Vizela, cargo que manteve até à sua morte, em 1997. Durante os cerca de 20 anos que exerceu este nobre cargo e que em grande parte, coincidiu com a "luta" pelo quartel novo dos bombeiros, a sua voz eloquente, o seu espírito divertido e ao mesmo tempo humilde e solene, fez com que muita gente, volvesse os olhos para a nobre missão de salvar vidas, contribuindo de forma decisiva para o "aligeirar" de algumas mentes e...bolsas.
Acompanhei (era diretor da mui nobre corporação dos "nossos" bombeiros, durante todo este
tempo) de muito perto a sua movimentação em prol dessa obra que hoje nos orgulhamos. Vi a sua
humildade e verve carismática, a acalmar a ira do saudoso Sr. Luís "Perú", quando as noticias vindas de Lisboa, envenenadas pela "dor de cotovelo" e pela inveja, nos roíam a alma. Vi e ouvi - na cantina, da qual fui responsável - aquando almoços de aniversário, a sua voz sofrida, humilde, mas quente e sentida, fazer com que a pequena esmola pedida, fosse entendida com um grande óbolo.
Padre José Marques Machado
Actual pároco de S. João das Caldas, José Marques Machado, nasceu a 5 de Março de 1960, em
Guimarães.
Seguiu a carreira eclesiástica, tendo -se ordenado sacerdote em 23 de Dezembro de 1984.
Esteve como coadjutor em santa Eulália de Nespereira, S. Miguel das Caldas e como pároco em
Moreira de Rei, freguesia do Concelho de Fafe, onde deixou obra e muitas saudades.
Foi coadjutor do saudoso Cónego Albano da Silva Freitas, após o falecimento deste em 16 de
Dezembro de 1997, assume o cargo de Pároco desta freguesia de S. João das Caldas de Vizela.
Professor na EB 2/3 de Caldas de Vizela, na disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica
(EMRC), alia a esta função que adora, o gosto pela música, tendo um DVD gravado com musicas de teor sacro, alicerçado no escutismo religioso, melodias que compões à viola, que dedilha sempre que a ocasião se propicie.
Não nos admiremos, nem nos surpreendamos, portanto, de o ver como responsável pelo Grupo Coral
da Paróquia " Canto et Laboro".
E se, como dissemos, na paróquia de Moreira de Rei, em Fafe, deixou obra notória, notável e
reconhecida, nestes pouco mais de 23 anos que leva de vida na paróquia de S. João, a sua obra é já por
todos reconhecida como considerável, marcante, respeitável, importante e relevante.
A alteração de toda a nave principal da Igreja, aproveitando os corredores laterais que se sentiam
desaproveitados, aumentando o espaço e, logo a lotação da mesma para o triplo, veio dar á igreja um
aspecto airoso, moderno, com maior comodidade para os muitos naturais e outros frequentadores desta
igreja de S. João.
Foi uma decisão intrépida, repleta de audácia e afoiteza, determinação e coragem, que teve como
momento mais alto na sua inauguração, a presença do Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, presença que se transformou num momento emocionante, de alto significado. O inicio destas grandiosas obras tiveram lugar a 13 de Dezembro de 2002 e seria benzida e inaugurada, como dissemos pelo Sr. Arcebispo, D. Jorge Ortiga, a 21 de Setembro de 2003.
Muito mais haverá para dizer, mas este texto já vai longo e oportunidades não nos faltarão para
falarmos deste nosso amigo.
Resta - me dizer que no texto anterior, punha em duvida a presença nesta paróquia de D. Theotónio
de Bragança. Hoje posso dizer que D. Theotónio de Bragança, esteve como pároco nesta Igreja, conforme "assento de propriedades, sendo abade D. Theotónio de Bragança, no ano do nascimento de Nossos Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos e sessenta e três"
Júlio César Ferreira
11.06.2020