Joaquim Pinto
Há homens que passam pela história, sem que esta lhes dê a devida atenção. Por muito que tenham feito em prol de alguma coisa, historia de forma fugaz e muitas vezes, injusta, remete - os para o limbo do esquecimento, para o fundo inerte, vazio e sombrio, dos escombros da memória.
Joaquim Pinto é um destes homens. Não obstante o seu nome figurar na toponímia vizelense, a verdade é que são raros, contam - se pelos dedos de uma única mão, os historiadores ou mesmo simples curiosos, que nos falam de Joaquim Pinto.
Contudo, Joaquim Pinto marcou a era de ouro de Vizela, tendo contribuído, decisivamente, para o desenvolvimento que Vizela teve no declinar do século 19.
O pouco que sabemos vem-nos de algumas notícias breves em alguns jornais da época, alguns pequenos escritos e por história oral que nos vai chegando, mesmo que em pequenos fragmentos ou incertos laivos.
Joaquim Pinto nasceu no dia 12 de Outubro de 1825, como podemos ver no livro de Assentos de Baptismo, da Freguesia de Freamunde: "Joaquim, filho legitimo de Claudino Pinto e sua mulher Joaquina Pacheco, do lugar da Feira, desta freguesia, neto paterno de Bernardino Pinto e Custódia da Costa e materno de Manuel José Pacheco e Ana Maria de Sousa, todos do lugar da Feira, nasceu aos doze dias do mês de Outubro de 1825, foi por mim solenemente baptizado aos quatorze do mesmo e lhe pus os santos óleos. Foram padrinhos Joaquim Pacheco e Maria Pacheco, solteiros tios maternos. Testemunhas Manuel da Costa e seu filho António da Costa, do lugar da Feira e para constar fiz este assento que assino. Era ut supra. O Rº António José dos Guimaraens".
"Joaquim Pinto foi daqueles homens que acreditaram nas potencialidades que o Turismo termal de Vizela poderia oferecer. Era um empresário do Norte que ganhara uma fortuna considerável para época, conseguida numa experiência aturada no intercâmbio comercial que manteve durante anos com América e mormente, com o Brasil", como nos diz a Dra. Maria José Pacheco, no seu das Margens do Vizela - Memórias.
Era homem de negócios, de abastada fortuna, conseguida em arriscados negócios no Brasil, (para onde mais tarde foram os seus filhos Claudino e Luís) e atraído pela possibilidade de investimentos seguros e rentáveis, quer na hotelaria, quer no comércio, que a crescente procura das águas termais garantia, não só pela fidalguia e fortuna dos seus principais frequentadores, mas também pelo franco desenvolvimento que a terra ostentava já, fixou residência em Vizela.
Pode parecer, numa primeira leitura que Joaquim Pinto, tinha vindo para Vizela, na mira de lucro fácil. Porém, desde logo se interessou pelas causas de Vizela, participando em muitas das lutas dos povos de então e, arreigado era já, o desejo de ser concelho. Na altura, chegava a ser escandaloso o número de analfabetos que existiam em Vizela. Havia somente uma escola em S. Miguel e Joaquim Pinto, em comunhão com mais alguns amigos que com ele também vieram para Vizela e que já estavam envolvidos no dia a dia da localidade, apostando fortemente no seu desenvolvimento que dia a dia mais se notava e que contrastava com um atraso significativo na escolaridade dos jovens
A criação da primeira escola primária pública da Freguesia de São João das Caldas, torna-se um dos objetivos principais para colmatar tão grande falha e Joaquim Pinto logo oferece o terreno para a edificação da escola, "mas com a condição de ser frequentada pelas crianças de ambos os sexos, pois era frequentíssimo as raparigas serem descriminadas no século XIX em matéria de educação e cultura".
Como vimos, os seus filhos Claudino e Luís foram para o Brasil, enquanto que o seu filho José Pinto de Sousa e Castro, seguindo as pisadas do seu pai, comprou os terrenos no local onde existia a chamada Villa Maria e aí edificou o que se viria a chamar Hotel Sul Americano, único que durou até aos nossos dias.
A alteração do nome de Travessa de S. João para a Rua Joaquim Pinto, foi deliberada pela Comissão Municipal de Guimarães, na sessão de 15 de Maio de 1895 e registada no livro de sessões: "… Os abaixo assinados, proprietários e habitantes da povoação de Vizela, atendendo as qualidades cívicas que concorrem na pessoa do excelentíssimo Senhor Joaquim Pinto de Sousa e castro, tendo em consideração o seu entranhado amos por esta povoação, de cujos progressos tem sido um dos mais dedicados propagadores, não se esquecendo que á iniciativa do mesmo cavalheiro se deve a abertura da Travessa de S. João, da qual é o único proprietário, aformoseando - a com prédios, de formar a tornar a mesma travessa que assim se intitula indevidamente, uma das principais ruas dessa povoação, tendo em vista das um publico testemunho do devido apreço em que tem o Senhor Joaquim Pinto de Sousa e Castro, vem muito respeitosamente pedir a Vossa Excelência que a denominação «Travessa de S. João», seja substituída pela de «Rua Joaquim Pinto»
Como curiosidade e para terminar, o seu filho Luís casou com uma tia - bisavô de alguém que me é muito próximo, de nome Ana Gomes, conhecida como Ana "Saleira", que foi para o Brasil e que por lá ficou (penso eu!)
Júlio César Ferreira
bormanicus@sapo.pt