Um ano e dois meses depois de ter sido reconduzido para um terceiro mandato, o presidente vitoriano anunciou a saída. A demissão foi comunicada ao presidente da Mesa da Assembleia Geral, Isidro Lobo, que irá agora conduzir o processo que levará ao agendamento do novo acto eleitoral.
Divergências com o modelo da SAD e da falta de investidores está na origem do pedido de demissão apresentado.
Numa conferência de imprensa que teve lugar na Academia do Vitória, Júlio Mendes teve a companhia dos vice-presidentes Armando Marques, Hugo Freitas, Pedro Coelho Lima e Francisco Príncipe, além de outros elementos dos Órgãos Sociais, como o Presidente do Conselho Fiscal, Eduardo Leite, e o Presidente do Conselho de Jurisdição, Pedro Vilhena Roque. E foi no final de uma longa declaração, sem direito a questões, que anunciou a demissão, apontando as suas motivações. Garantiu, no entanto, que a Administração da SAD vai continuar a preparar a próxima época. E, segundo apurou a Rádio santiago Júlio mendes não vai recandidatar-se a novo mandato à frente do Vitória Sport Clube (Guimarães).
O COMUNICADO LIDO POR JÚLIO MENDES
“Há pouco mais de um ano, no dia 24 de Março de 2018, realizaram-se eleições para os órgãos sociais do Vitória Sport Clube.
Estas eleições visavam eleger os membros dos Órgãos Sociais do Vitória SC para o triénio 2018/2021.
Desta eleição, saiu vencedora a então lista B, por mim liderada, que apresentou a sufrágio um projecto bem definido.
Ao fim de seis anos na liderança deste Clube, o início de um novo ciclo de mais três anos assentou no desenvolvimento de um projecto de crescimento do Vitória, alicerçado na melhoria das suas infraestruturas, por um lado, e no alcançar, na Vitória Sport Clube – Futebol, SAD, de resultados desportivos cada vez mais sólidos e capazes de nos aproximar dos clubes que, tradicionalmente, ocupam os lugares de maior destaque no futebol português.
Este projecto, para ser implementado, não podia ser de um grupo de sócios ou da Direcção do Clube apenas. Um tal projecto precisava e precisa do empenhamento de todo o universo vitoriano.
Sucede, no entanto, que parte dos sócios do Vitória Sport Clube não conseguiu, até hoje, ultrapassar os resultados da referida eleição de Março de 2018 e não foi capaz, nunca, de aceitar verdadeiramente os resultados dessa eleição, conforme aliás declaração surpreendente feita no próprio dia das eleições, depois de conhecidos os resultados.
Da realização de qualquer eleição não têm que resultar unanimismos ou consensos artificiais, mas o que não pode suceder é que se instale um ambiente permanente de insulto, de injúria e de indisfarçável desejo de fracasso do Vitória Sport Clube.
O último ano de vida do Vitória foi pautado por um conjunto de acontecimentos que apenas tiveram por consequência cindir os seus sócios e adeptos em dois grupos: os que estão a favor da Direcção do Clube e os que estão contra a Direcção do Clube.
Isto é inaceitável!
Somos todos sócios e adeptos do Vitória Sport Clube e não podemos almejar o crescimento do Clube se, internamente, não nos conseguirmos unir, apesar das nossas diferenças.
Os vitorianos nunca serão suficientes para que possamos prescindir de quem quer que seja.
Quando, há sete anos, tomamos as rédeas deste Clube, a situação era de todos bem conhecida: mais de 5 meses de salário em atraso, milhões de euros em dívidas a terceiros, há muito vencidas e por pagar.
O Clube estava na iminência de fechar as suas portas.
Avançamos e, apesar da desconfiança de muitos, trilhamos um caminho bem-sucedido.
Hoje, a Vitória Sport Clube – Futebol, SAD é vista como uma extensão natural do Vitória Sport Clube e cumprimos integralmente o que sempre prometemos aos sócios do Vitória Sport Clube:
1º ) que o Clube teria sempre uma participação não inferior a 40% do capital social da SAD;
2º ) que o Vitória Sport Clube, através dos seus representantes, não poderia, nunca, ser afastado da tomada de qualquer decisão na SAD;
3º ) que seriam lançadas as bases que permitiriam angariar investidores, com o objetivo de, em primeira linha, salvar o nosso Vitória da bancarrota e, de seguida, catapultá-lo para os lugares cimeiros do futebol português e, por conseguinte, apurar a nossa equipa, de forma consistente, para as competições europeias.
E se aqueles dois primeiros objetivos estão, de há muito, completamente assegurados, faltava encontrar quem quisesse e pudesse investir na Vitória Sport Clube – Futebol, SAD de forma a tornar realidade aquele último objetivo.
Foi, pois, animados por este projeto, que nos propusemos a um terceiro mandato, depois de explicar em detalhe aos sócios quais os objetivos e os caminhos para os atingir.
Tudo isto foi sufragado nas últimas eleições, das quais, é bom lembrar, saímos vitoriosos.
E tais caminhos passariam por alterações cirúrgicas no modelo da SAD, visando seduzir terceiros a investir na Vitória Sport Clube – Futebol, SAD, de forma continuada e consistente com tais objetivos, sem que a sociedade perdesse a matriz vitoriana.
É, para nós, inquestionável que só assim será possível assumir a implementação de um projecto desportivo que vise, não só garantir anualmente o acesso às competições europeias, como também competir, em cada época desportiva, com legítimas aspirações por uma classificação entre os primeiros lugares da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
Caso esta inversão no modelo da SAD não ocorra, não só se revelará cada vez mais difícil combater, ano após ano, as assimetrias com aqueles clubes que tradicionalmente ocupam os lugares cimeiros na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, como veremos também clubes tradicionalmente de dimensão muito inferior à do Vitória aproximarem-se, cada vez mais, dos nossos resultados desportivos, justamente por terem criado condições que tornem tais clubes atrativos ao investimento.
Far-nos-ão a elementar justiça de reconhecer que sempre reiterámos que este cenário apenas poderá ser corrigido com novo investimento externo, rigor na gestão desse investimento e conhecimento de mercado, circunstâncias que, se conjugadas, permitirão que a SAD não tenha de continuar a recorrer a receitas extraordinárias, resultantes da venda dos seus principais activos, para, com isso, poder garantir uma boa execução orçamental, bem sabendo que essa boa execução orçamental terá como consequência previsível um menor sucesso desportivo.
Durante os seis anos de existência da SAD, os seus accionistas, que não o Vitória Sport Clube, investiram na sociedade um total global de dois milhões e setecentos mil euros na subscrição de capital social.
Tal investimento permite aos referidos accionistas deterem hoje, em conjunto, 60% do capital social da Vitória Sport Clube – Futebol, SAD.
Não parece aceitável a esta Direcção que tal nível de investimento dos accionistas possa ter, hoje, como contrapartida a detenção de 60% do capital social da SAD.
Este investimento, que foi fundamental na altura da sua realização para estabilizar a situação económico-financeira do Vitória Sport Clube, é hoje claramente insuficiente.
Aliás, importará ter bem presente que o último investimento feito pelos accionistas no capital social da Vitória Sport Clube – Futebol, SAD ocorreu em Julho de 2016, ou seja, precisamente há três anos.
Há três anos que a Vitória Sport Clube – Futebol, SAD não recebe qualquer financiamento dos seus accionistas, o que até se compreende atenta a indisponibilidade para alterações do modelo de governo da SAD, que resultou clara na Assembleia Geral Extraordinária de 8 de Setembro de 2018.
Sem financiamento accionista, que, tal como hoje é claro, só pode ser feito se e quando for alterado o modelo de governo da SAD, muito dificilmente poderão ser obtidos melhores resultados desportivos porque a mesma não consegue gerar receitas ordinárias que lhe permita manter, ano após ano, os seus principais activos desportivos e proceder, ao mesmo tempo, ao seu reforço.
A exigência dos sócios e adeptos do Vitória Sport Clube não é compatível com esta falta de investimento.
Mesmo sabendo que sob a nossa liderança foi possível, desportivamente, nos últimos sete anos, no futebol:
Criar uma equipa B, considerada, a nível nacional, a que melhor aproveitamento faz na promoção de jogadores e uma equipa de sub-23;
Participar em duas finais de Taça de Portugal;
Participar em duas Supertaças;
Igualar o máximo histórico de pontos obtidos numa só época desportiva;
Ganhar um Campeonato Nacional de Juvenis, título que nos faltava nos escalões de formação;
Vencer uma Taça de Portugal;
E alcançar, por quatro vezes, o apuramento para as competições europeias;
E de, nas modalidades amadoras, termos conquistado centenas de títulos regionais, nacionais e internacionais, de onde se destaca uma Medalha de Bronze nos Paralímpicos do Rio de Janeiro.
Mesmo tendo consciência do investimento de muitos milhões de euros, realizado em infraestruturas, após mais de década e meia de estagnação, na reabilitação da Academia do Vitória, do Pavilhão e do estádio D. Afonso Henriques, tomando como exemplo o estádio, onde falta apenas a substituição das cadeiras para termos um estádio completamente requalificado, com dois novos écrans gigantes e capaz de responder aos mais exigentes desafios, como é o caso da Liga das Nações, ou o da Academia, que apesar de já não ser suficiente para a actual dimensão do Vitória, possui o mais alto nível de certificação, dispondo agora de novos relvados, refeitório e novas áreas técnicas compatíveis com os exigentes padrões actuais, bem como novas residências para os atletas da formação.
Mesmo sendo um facto que, ao nível das áreas comercial e de marketing, foi possível, nos últimos anos:
Triplicar o número de Vitória Store’s;
Iniciar a realização das Galas do Vitória televisionadas, superando o que de melhor se faz em Portugal;
Criar um novo conceito de Kit de sócio;
Intensificar as acções solidárias através do Vitória Solidário;
Aumentar a presença digital e criar a Webstore;
Realizar o maior contrato de Sponsor Técnico de sempre com a Macron e os maiores contratos de Main Sponsor;
Criar da marca e a sociedade Conquistadores Seguros
Apostar no reforço da notoriedade da marca, como é disso exemplo o restyling do autocarro da equipa principal de futebol;
Apostar no reforço identitário dos sócios, tomando como referência a produção da música de entrada em campo “Sou Vitória”;
Bater recordes sucessivos do número médio de assistências no estádio D. Afonso Henriques, consolidando o quarto lugar de forma expressiva;
Aumentar, ano após ano, o número de sócios e de vendas de lugares anuais no estádio;
Alcançar valores históricos de vendas em merchandising;
Bater recordes de vendas em camarotes e areas VIP;
Aumentar de forma exponencial o número de parceiros comerciais, que se traduz em vantagens para os sócios;
Realizar os primeiros Streamings dos canais oficiais do clube;
Lançar a primeira App do clube, a Vitória Live;
Lançar o novo Cartão Tecnológico de sócio, a introduzir na próxima época;
Mesmo sendo patente que o Clube está hoje financeiramente estável, e cumpridor das suas obrigações, quer perante os seus funcionários, quer perante os seus fornecedores e logrou recuperar, junto de todas as instâncias desportivas, o prestígio e respeito que infelizmente outros haviam desbaratado;
Mesmo conhecendo tudo isto, e que, em apenas um ano já cumprimos 80% do programa eleitoral sufragado para o triénio, existe uma franja de sócios que persiste em alimentar ataques de natureza pessoal, fomentar insultos inaceitáveis, tudo numa lógica de ascender ao poder.
Esta franja de sócios do Vitória Sport Clube deixou bem claro na já referida Assembleia Geral Extraordinária do Clube realizada no passado dia 8 de Setembro de 2018 que pretende manter inalterado o actual modelo de SAD, condenando o Clube à estagnação.
E dizemos estagnação porque, hoje, à Vitória Sport Clube – Futebol, SAD e, por inerência, ao Vitória Sport Clube, não é possível oferecer, seja aos actuais, seja a futuros accionistas, condições mínimas de investimento que permitam, em cada época, o desenvolvimento de um projecto desportivo ambicioso.
Volvidos mais de oito meses sobre a pronúncia dos sócios, é hoje claríssimo que ou se muda o paradigma, ou o nosso Vitória irá marcar passo face à concorrência.
Mas se essa é a vontade dos sócios, seja. Não é seguramente o projecto desta Direção, nem se pode exigir aos seus membros que continuem a suportar um ambiente que mais parece indiciar que usurpámos as nossas funções, que não ganhámos legitimamente as últimas eleições.
Após a recusa da proposta que apresentámos na Assembleia Geral Extraordinária de Setembro de 2018, manifestámos disponibilidade para realizar sessões de esclarecimento com vista a refletir com os Associados sobre o caminho que preconizámos para o futuro do Vitória.
Porém, não foi preciso esperar muito para ter a certeza que uma tal discussão estava inquinada à partida, que não estavam reunidas as condições mínimas para uma reflexão aberta e serena, de que resultassem argumentos – contra e a favor do nosso modelo - sobre os quais os Associados pudessem ponderar para depois decidirem.
Ao invés, o que estava criado era um clima que não era de discordância quanto a este ou aquele projecto, mas tão-somente um clima de ódio pessoal, de sede de poder e de rancor, alimentado por quem insiste em não aceitar o resultado sufragado pela maioria dos Associados em eleições livres e amplamente participadas.
Foi o espírito do dia 26 de Maio de 2013 que nos deu o alento e a convicção de que o crescimento era possível.
Foi a crença vitoriana de querer sempre mais que nos deu força nos últimos sete anos.
Foi a união dos vitorianos que nos permitiu ultrapassar as muitas dificuldades que foram sendo colocadas no nosso caminho.
Mas hoje, decorrido pouco mais de um ano sobre as últimas eleições, o clube está dividido, com permanentes conspirações e posturas de descrença e desunião, tais como aquelas que ocorreram, de forma inacreditável, no fim de mais uma brilhante vitória do nosso Vitória, que permitiu alcançar o quinto lugar na classificação final e obter mais uma qualificação europeia, a quarta em sete anos, o que constitui novo máximo histórico para o Clube.
Em dia que deveria ter sido de festa, os festejos foram substituídos pelo insulto e pela postura conspirativa, em que alguns associados manifestaram a sua insatisfação pelo facto do nosso Vitória ter ganho e ter alcançado um objectivo estabelecido desde o inicio de época.
Nada mais nos prende ao Vitória Sport Clube que não seja a paixão pelo Clube e o desafio de o tornar cada vez maior e mais merecedor da fé e da paixão dos vitorianos. Não o podemos fazer, porém, neste permanente clima de guerrilha, alimentado por uns poucos, que mais não fazem do que apoucar as pessoas que foram legitimamente eleitas para os órgãos sociais.
É por esse amor ao Vitória Sport Clube que apresentamos, em conjunto, a nossa renúncia aos cargos que exercemos no Vitória Sport Clube, tendo já sido dado conhecimento ao Senhor Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Clube para que desencadeie os mecanismos necessários para o agendamento de processo eleitoral tendo em vista a eleição de novos Corpos Sociais para o Clube, assegurando, até à sua realização, o exercício das funções na sociedade anónima desportiva, da qual nos afastaremos logo após as referidas eleições no Clube, assegurando, naturalmente, a preparação da nova época desportiva da forma responsável que sempre nos caracterizou.
Desejamos que o processo eleitoral possa decorrer nas melhores condições possíveis, que seja a demonstração do espírito vitoriano e que, no final, seja qual for o resultado, todos os vitorianos possam comungar da vontade de elevar o nome do Vitória Sport Clube.
Por fim, gostaríamos de deixar uma palavra de apreço a todos aqueles que desde sempre nos manifestaram a sua confiança, seja através do seu voto, seja através da solidariedade e respeito democrático que dedicaram aos órgãos democraticamente eleitos.
Viva o Vitória.”