Nos 150 anos da Vizela Hodierna à Contemporaneidade - De 1869 a 2019

Foi sem dúvida, a partir de finais da década de sessenta, do séc. XIX, que Vizela voltou - um novo começo - a despertar. Isto, após o que se poderá chamar de um longo período de sono, de adormecimento desde a sua primeira fase refulgente, nos tempos da passagem dos romanos por terras da Galécia e Lusitânia, por volta dos anos cem, da nossa era, d.c. POR TORCATO FARIA

Fora pois, em 1869 que um grupo de vizelenses de gema, nados e criados nas duas freguesias das Caldas, por certo, já nessa altura, enviesados com a madrasta Guimarães, enviou uma carta ao rei de então, Luís Filipe Maria Fernando Pedro de Alcântara António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis João Augusto Júlio Valfando, mais conhecido tout court, por D. Luís I, e em que lhe solicitavam que os libertasse, liberasse do jugo (tirania) e opressão da então à época, Vila de Vimaranes.


Claro que não foi um sentimento repentino. Foi uma ideia que foi ganhando forma, raiz, matriz, substrato. Mas, pode dizer-se que foi a partir desse ano de 1869 que renasceu, ressurgiu com mais vigor, o sentimento de emancipação, sempre adiado, desde os tempos da antiga Oculis Calidarum, então e agora sempre com as termas, as águas sulfurosas cálidas como dínamo, motor de arranque, locomotiva, spotlight. E para justificar essa tese, dizer que após 1869, Vizela começou a ganhar formato, configuração citadina de urbe cosmopolita, com a construção de edifícios modernos, arruamentos, estruturas de apoio.


Em 1873, forma-se a Companhia dos Banhos de Vizela SARL com capital inicial de 100.000$00 réis. Em 1877, nascem os BV Vizela com 30 bombeiros e 12 sócios iniciais. Em 1878 surge a primeira empresa privada de exploração termal – Os Banhos do Mourisco; ainda em 1878, surge o Telégrafo em Vizela, que funciona só de Maio a Outubro; em 1882, nasce a Filarmónica Vizelense com 22 executantes e uma vistosa farda (que depois, em 1945 seria refundada, agora com o nome mais cumprido e pomposo de Sociedade Filarmónica Vizelense); em 1883, no último dia do ano, chega a Vizela o primeiro comboio. Surgem mais hotéis, restaurantes, cafés; o Pão-de-ló-de Vizela, ou Bolinhol de formato rectangular ganha forma e é apresentado na Exposição Industrial de Guimarães em 1884; em 1886, ergue-se o Parque a complementar as Termas, com mais de centena e meia de árvores distintas, autóctones e originárias dos quatro cantos do mundo, dos cinco continentes, dos sete mares.

Depois mais tarde o Hospital e a Misericórdia, fruto de um benemérito emigrante de Moreira Cónegos, Francisco Guimarães, que em terras do Brasil, deixou em testamento dinheiro e terreno para a sua construção. E de novo mais hotéis, casinos, cafés, botequins e até uma praça de touros. Tudo isto contribuiu para que Vizela ganhasse o epiteto de Rainha das Termas de Portugal, ou a Cauterets portuguesa, estatuto que iria deter até finais dos anos 20, do século passado, com o declínio das termas devido em parte ao surgimento, moda, trend dos banhos de mar, das idas à praia e também, com a cassação das licenças dos jogos em casinos e do boom da indústria.

E eis-nos em 2019 já do séc. XXI… 150 anos depois (com Vizela finalmente autónoma – há 20 anos) e a Rua das Termas requalificada. Mera, feliz coincidência, a justificar esta prosa, mas, sem dúvida, ponto de partida, para uma nova fase, época de grandeza. Se juntarmos a isso, a nova piscina termal, o novo prato típico a turistar, a projetada Ponte da Aliança… podemos dizer que sim, que vem aí uma nova era, um novo elan para Vizela. Os vizelenses agradecem.

Torcato Faria


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