O funeral de Alice Queiroz realiza-se esta quarta-feira, dia 3 de janeiro em Rio Tinto-Gondomar.
Alice Queiroz para além do perfume da poesia onde revelava grande talento trazia sempre consigo a Vizela um ramo de violetas que oferecia a Conceição Lima autor do programa Hora da Poesia da Rádio Vizela.
Amigos poetas estão a organizar uma homenagem póstuma à mulher que amava a poesia.
Com o marido e poeta Rogério Barbosa |
ÚLTIMA MENSAGEM DE ALICE QUEIROZ NO SEU FACEBOOK
De passagem, porque ainda estou muito debilitada, vim para deixar o meu mais grato e sentido abraço, a todas as pessoas que se dispunham partilhar comigo, amanhã, um momento muito especial.
Mal posso crer, mal posso aceitar, tal é a minha tristeza…
Aceitem as minhas desculpas. Fico à espera do vosso perdão com a esperança de que os “Sopros de Poesia”, mais tarde irão expandir-se num abraço por aí!
Eu mereço isso, por mim e por todos os que me respeitam e acarinham.
Bem hajam.
Ana Albergaria, Alice Queiroz e Conceição Lima...e as violetas. |
Mensagem de Conceição Lima
Por mais rasteiras que a vida lhe tenha pregado, por mais medos que a tenham assolado, Alice Queiroz nunca desistiu de sorrir e de espalhar afectos..Ficará para sempre connosco, porque se deixou inteira , VIVA, nos poemas...Recordá -la é lê - la. ...
" Morrer não é o maior problema, pior é saber o que vou ser! Nuvem, flor, borboleta?E queria ainda, Música e Poesia porque com elas vivi..."
Homenagem do poeta Virgílio Gonçalves A Alice Queiroz partiu...deixou em nós os que partilhávamos a sua companhia nas mais diversas situações um sentimento de perda irreparável...ninguém morre em nós, quando o sentimento, os laços afectivos são tão marcantes...tão profundos...apenas viaja à nossa frente como percursor de um caminho que inevitavelmente um dia nos levará ao reencontro algures...VOU MANDAR FAZER UMA SAUDADE PARA MARCAR DE ALGUMA FORMA O CARINHO DOS SEUS AMIGOS E ADMIRADORES DA COMUNIDADE POÉTICA.
Quem desejar contribuir para a mesma, agradeço que o comunique aqui mesmo.
Muito Obrigada.
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POESIA DE ALICE QUEIROZ
História sem Tempo
Abri a porta para melhor contemplar o entardecer.
É abril, abril de primavera ridente.
É abril, abril de primavera ridente.
Mas podia ser maio, junho, estio ou mesmo outono, tu estavas lá, como sempre, em cada dia de cada ano da minha existência...
É abril e, talvez por isso, tudo é vida em efervescência!
O jasmim cresceu por todo o lado e inconscientemente atira-me para os teus braços.
O aroma, forte, a flor delicada, a folhagem balançando ao sabor da brisa, lembram-me as tuas mãos, os teus dedos,
o emaranhado das tuas palavras perfumadas ao meu ouvido.
É abril, mas podia ser maio, porque em maio, os campos são mais verdes e há papoilas vermelhas que gritam alucinadas o teu nome.
São gritos de fome e de sede, a mesma sede que tenho da ti. E haverá pampilhos amarelos às centenas que o vento generosamente irá semear diante do meu olhar, só mesmo para te relembrar. E, como se tudo isto não bastasse para me avivar a memória, maio, chegará carregado de alfazema, para sacudir e perfumar de novo a nossa história e quiçá dar origem a um poema.
E o poema, o poema serás sempre tu! Tu escondido sob uma capa negra de estudante, só, no meio duma multidão.
Um Anjo porque assim me parecias, Demónio porque o teu olhar ardia e, afinal, não passarias de um ladrão pois nesse dia,
ali mesmo, me roubaste habilmente o coração.
Quando o amor é cego, nada mais existe e o poema, o único poema, ficou escrito no tempo, há muito, muito tempo,
em forma de dois corações entrelaçados gravados a canivete numa árvore. Só não ficaram gravadas as promessas que por serem tantas e não caberem nesse espaço, as guardei no peito atadas com um laço feito de um (e)terno abraço.
Ainda agora, quando estou triste, vou buscar à lembrança o esvoaçar das borboletas alvoroçadas que coradas iam poisar nas urzes para nos espiar...
E até ouço o murmúrio do pequeno ribeiro cúmplice deste nosso afecto que, corria indiscreto, espreitava e gravava as imagens,
para depois entusiasmado, beijar a hortelã que lhe perfumava as margens. É abril, mas podia ser outro mês qualquer. Quando se ama, ouvem-se tocatas no silêncio e até surgem estrelas ao princípio da tarde!
A chuva não molha, queima, arde! O sol toma o lugar da lua e até eu, que nunca o fui, continuo para além do tempo a ser tua.
É primavera! A vida muda o rumo dos braços, dos abraços, dos caminhos e dos carinhos. Passou tanto tempo!
Tantas estações passaram já! Percorri todas, alcancei o inverno que tomou o meu corpo, abrandou os meus passos
e tornou menor minha ambição como seria natural, mas o meu espírito não, o meu espírito, continua igual.
Quando o amor é cego, não vê o caminhar do tempo... Por isso na memória fica sempre o eco de alguns passos,
o calor de alguns abraços e o som duma voz que o vento generoso e cúmplice, às vezes traz. Ficou também o vazio da partida,
e a incerteza do significado da palavra "felicidade" e também esta paz imensa de poder lembrar, falar ou contar uma história
que pertencendo à lonjura perdura, porque quando o amor é cego, não tem cura.
Alice Queiroz