O Hospital da Senhora da Oliveira Guimarães, através do seu Serviço de Cardiologia, passou a integrar um reduzido grupo de hospitais com capacidade para o tratamento da fibrilação auricular através de técnica de isolamento das veias pulmonares: ablação da fibrilação auricular. No passado dia 13 de dezembro, a equipa do Laboratório de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia do Serviço de Cardiologia tratou com sucesso os dois primeiros doentes com esta nova técnica.
«O Serviço de Cardiologia está fortemente empenhado no reforço das suas capacidades técnicas e no reforço e diferenciação do Serviço Nacional de Saúde, tendo a preparação para este tipo de intervenções começado há cerca de 2 anos. Estes doentes eram referenciados ao Laboratório de Electrofisiologia do Hospital de Gaia (cerca de 100 doentes por ano), prevendo-se que essa referenciação seja progressivamente reduzida ao longo do próximo ano. Até agora apenas era possível a concretização desta técnica em sete hospitais centrais do SNS: Lisboa, Porto e Coimbra. O que limitava, de um modo significativo, a acessibilidade de um número considerável de doentes a esta técnica de tratamento», refere o Responsável do Serviço de Cardiologia, António Lourenço.
Esta técnica electrofisiológica é altamente complexa, exige grande diferenciação dos profissionais que a realizam, bem como necessita de equipamentos diferenciados para a sua realização, nomeadamente meios de mapeamento electroanatómico e TAC’s de alta definição (como o de 128 cortes que foi recentemente adquirido pelo Hospital de Guimarães).
A este propósito, o cardiologista do Laboratório de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia do Hospital, João Primo, afirma que «a fibrilação auricular é o distúrbio de ritmo mais frequente nos humanos, sendo a sua prevalência bastante variável consoante os estudos e métodos usados. Em Portugal a prevalência numa boa amostragem da população portuguesa foi fixada em 2,5%, contudo se usarmos registos eletrocardiográficos de 24 horas a prevalência total pode ser chegar aos 12,4%. Sabemos que quanto maior o tempo de monitorização maior é a probabilidade de esta arritmia ser detetada, pois, por vezes, é silenciosa, ou seja, não sintomática. Mas o facto de esta arritmia ser por vezes silenciosa não faz dela menos perigosa. Esta arritmia preocupa muito os médicos, pois é responsável pelo aumento em duas vezes da taxa de mortalidade, seis vezes mais tromboses cerebrais (AVC embólico) e de demência de instalação lenta, afetando não só os idosos mas também os mais jovens. A fibrilação auricular é de facto muito mais frequente nos mais idosos, aumentado exponencialmente ao longo das idades, o que não quer dizer que formas muito sintomáticas e intermitentes não sejam comuns também nos mais jovens, como referido. É considerada uma das epidemias do século XXI».
Em virtude desta realidade, os médicos aconselham o rastreio desta patologia, conseguido por palpação do pulso e registos de electrocardiograma, que assume já grande importância, pois só assim a fibrilação auricular pode ser tratada ou prevenidas as suas consequências.
Muitos fatores contribuem para a existência de fibrilação auricular: a obesidade, a apneia do sono, a hipertensão, o sedentarismo, o exercício em excesso e certas atividades desportivas, a hipertensão, a diabetes e a insuficiência cardíaca congestiva.
«Contudo, muitas vezes as causas da doença não são conhecidas. Todos estes fatores podem ser tratados ou melhorados, contribuindo para reduzir a possibilidade da arritmia aparecer. Frequentemente é necessário tratar com medicação antiarrítmica, que tem um sucesso limitado e, mais recentemente, com a ablação por cateter em que se pretende conseguir o isolamento elétrico das veias pulmonares», diz o Responsável do Laboratório de Arritmologia, Pacing e Electrofisiologia do Hospital, o cardiologista Victor Sanfins.