Prefácio
O ‘Prémio Ação Comunitária SOS Azulejo 2010’ entregue a 17 de junho de 2011 à Confraria S. Bento das Peras ficará para sempre gravado, de modo indelével, na minha memória e na dos restantes membros do júri que o atribuiu. Nunca antes - nem depois – nestes prémios de caráter anual, surgiu uma ação popular e comunitária ligada à azulejaria portuguesa como esta, ou que sequer dela se aproximasse.
De facto, nunca antes nem depois surgiu uma ação comunitária azulejar com a envergadura, o grau de envolvimento, o entusiasmo e a entrega de toda uma coletividade a uma ideia, um grande evento e, sobretudo, a uma obra de enorme impacto visual que perdura e perdurará perante os olhos presentes e vindouros de quem passe no túnel rodoviário de Vizela.
A obra em causa - mais de dois mil metros quadrados de azulejos coloridos pintados pelas crianças da região – desafia todos os cinismos contemporâneos e prova-nos, contra todas as expectativas, que em pleno séc. XXI, um sonho bom, espontâneo e quase infantil se pode tornar uma realidade concreta e palpável.
Com efeito, uma ideia que no princípio parecia perfeitamente irrealizável e onírica foi concretizada, literalmente, à custa do esforço, da vontade, da capacidade de colaboração e interajuda, da perseverança – e sobretudo da alegria - de centenas de pessoas, entre dirigentes da Confraria, professores, colaboradores, alunos, e industriais da zona.
Impressiona ver os testemunhos fotográficos das várias etapas bem planeadas, organizadas e sistematizadas desta gigantesca empreitada levada a cabo por amadores e que envolveu tantas entidades e pessoas, num trabalho aparentemente desmesurado que aos poucos foi tomando forma, não sem momentos de ansiedade, mas também proporcionando aos envolvidos uma enorme satisfação e um merecido orgulho final.
Impressiona o colorido da obra em si e a sua celebração pura da infância, com uma simplicidade que a não deixa cair no kitsch fácil de tantos amadorismos, mantendo-a no registo imponderável da grande frescura e espontaneidade infantis.
Impressiona, finalmente, ver os coloridos festejos finais da inauguração: uma genuína e feérica celebração popular, uma gigantesca festa coletiva que junta, com música e bombos, todas as classes etárias e sociais, em redor de uma obra verdadeiramente coletiva. Eu não estava lá – e, no entanto, tenho de confessar que me sinto emocionada com as imagens de toda aquela alegria sã, simples e contagiante – como no final feliz de um conto de fadas.
Mais do que um conto de fadas, porém, este mar de azulejos coloridos e infantis vai perdurar não só no imaginário, mas também no quotidiano concreto de quem, durante séculos, passar por aquele túnel.
Leonor Sá
Coordenadora do ‘Projeto SOS Azulejo’