Autárquicas: PS identifica dez câmaras problemáticas e Coimbra é uma delas. Notícia da autoria de Margarida Gomes, PUBLICO, 8/8/2016
Socialistas criam uma Comissão Técnica Eleitoral de acompanhamento do processo das eleições locais
Em Barcelos e Vizela o partido assiste há já algum tempo a divisões fratricidas difíceis de sanar e, a manterem-se as divergências, os socialistas arriscam uma pesada derrota no distrito de Braga nas autárquicas do próximo ano. Em Góis, a presidente Lurdes Castanheira incompatibilizou-se com o seu ex-vice-presidente José Rodrigues, que tem votado ao lado da oposição (Grupo de Cidadãos Independentes por Góis), e em Nelas, o líder da concelhia, Adelino Amaral, está contra a recandidatura do presidente Borges da Silva.
Mas, deste grupo, a grande surpresa é a Câmara de Coimbra. Manuel Machado, que preside à Associação Nacional dos Municípios Portugueses, está formalmente no seu primeiro mandato e, aparentemente, a sua recandidatura não deveria suscitar dúvidas. No entanto, há quem considere que a “forma apagada como tem gerido o município” prejudica o PS e corre o rumor de que há outros nomes a serem testados.
O PÚBLICO questionou ontem o líder da concelhia coimbrã no sentido de perceber se a recandidatura de Manuel Machado estava garantida, mas João Paulo Sousa não deu grandes explicações, referindo apenas que não há uma data para anunciar a candidatura.
“Na altura própria fá-lo-emos. Vamos realizar uma convenção autárquica no dia 5 de Novembro e ver-se-á se é altura para anunciar a candidatura”, admitiu o médico e líder da concelhia socialista. “Neste momento, estamos concentrados na gestão autárquica, o resto virá depois com a própria dinâmica. A minha preocupação é desenvolver o trabalho político”, declarou ao PÚBLICO, evitando responder sobre a eventual recandidatura de Machado. “Terá de perguntar-lhe a ele”, decretou.
Neste quadro, o PSD olha com algum apetite para os municípios onde o PS está em convulsão interna e pretenderá fazer de Coimbra uma aposta estratégica das próximas eleições autárquicas. Álvaro Amaro, o social-democrata que conquistou a Câmara da Guarda ao PS, é o nome que o PSD ambiciona para liderar a lista por Coimbra. O autarca "roubou" ao PS duas câmaras que foram durante muitos anos bastiões do PS – Gouveia e Guarda – é natural de Coimbra e vive em Coimbra, factos que podem ser importantes na hora de decidir.
Ao que o PÚBLICO apurou, o PS vai contar com uma Comissão Técnica Eleitoral para acompanhar o processo eleitoral autárquico. Esta comissão é constituída por 13 figuras do PS e o objectivo que esteve na sua criação foi o de incluir personalidades de quase todos os distritos.
Quatro dos membros deste grupo integram a Comissão Permanente. É o caso de Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta; Luís Patrão, responsável pela parte financeira; Hugo Pires, secretário nacional do PS para a Organização; e Maria de Luz Rosinha, secretária nacional do PS com o pelouro das Autarquias. Desta comissão fazem ainda parte Rui Santos (Vila Real), Duarte Cordeiro (Lisboa), Rui Pereira (Setúbal), Nuno Araújo e João Paulo Correia (Porto), Luís Graça (Algarve), Eurídice Pereira (Setúbal), José Rui Cruz (Viseu), José Manuel Mesquita (Lisboa).
Com um passivo de 21,6 milhões de euros, o PS faz contas à vida a um ano das eleições autárquicas. E porque o combate custará muito dinheiro aos cofres do partido, tenta encontrar uma forma de reduzir gastos, revendo preços e aumentando os prazos de pagamento a fornecedores e tentando chegar a uma previsão de quanto é que vai gastar. Paralelamente, é preciso pôr as estruturas do partido a trabalhar, desde já, na preparação das autárquicas.
Um trabalho recente do Jornal de Notícias revelou que muitas concelhias e federações do PS estão a passar por dificuldades financeiras e que despesas como o pagamento de electricidade e de água estão a ser asseguradas por dirigentes locais. Aliás, a falta de verbas tem levado ao cancelamento de algumas iniciativas. Ainda de acordo com o diário, as distritais de Coimbra, Porto e Setúbal são aquelas onde mais vezes têm sido os dirigentes a pagar as contas.