"Foi, no dia 25 de Março de 1809, que o 31º regimento, às ordens do General Henri-Antoine Jardon, para esta Ponte foi destacado.
Como os atiradores Franceses estavam a ser parados pelos cerca de 900 Portugueses, escondidos atrás das árvores, e a batalha inconquistável, o General Jardon impaciente com esta oposição, pega na sua arma, e parte à frente, atirando para todos os lados. De repente, o General vê um português de setenta anos, que tinha ficado na margem direita e que tinha atirado várias vezes. Corre para o idoso, pondo o no chão, parte-lhe a arma. Sentimentos de dores e de piedade que lhe tinha sido recomendado pelo Marechal quando tinha posto os pés em Portugal. Poupou a vida ao velho homem, fazendo-lhe entender que os Franceses não estavam em guerra contra o povo, mas sim contra as tropas regulares. Mas o velho, que tinha a casa perto, volta para ela agarra noutra arma e põe fim a vida de quem o tinha poupado. O General recebe a bala no canto do olho direito, dizendo a um granadeiro do 86º regimento, de nome Fagart, que estava ao lado dele, de avisar o Coronel Méjean, do 31º, a fim de tomar o comando da brigada. Um quarto de hora depois ele expira e é inumado no mesmo lugar, na margem do rio.
A sua morte encheu de dor o 31º regimento que, testemunho da sua bravura, decidiu vingá-lo. Os soldados Franceses, animados de um ardor que nada pode parar, passam o rio, uns segurando no ar a espingarda e giberne, tendo água até a cintura, os outros montados na garupa atrás dos cavaleiros, todos cedem perante os Franceses, a artilharia é tomada, os Portugueses que não conseguem fugir, são imolados.
Mais de duzentos homens jazem na praça.
Este sucesso abre às divisões Franceschi e Mermet, a passagem pela Ponte, permitindo de fazer a junção com a coluna do centro.
Este facto fez com que o General Vallongo fosse repreendido por não ter tomado as medidas necessárias, sendo-lhe imputado o sucesso dos Franceses. Não contente por o massacrar, os Portugueses cortaram-no aos bocados que foram colocados em estrume.
Assim passaram os franceses a denominada “Ponte de Negrellos”. Este facto está registado no Livro de Óbitos da Freguesia.
Aludimos à resistência heróica, bem digna de Afonso Henriques, que o povo de São Martinho do Campo, Salvador e arredores opôs às tropas Francesas.
De São Martinho do Campo, pereceram:
• António Ferreira, casado com Joana Martins, do lugar de “Paderne”;
• Joaquim Ferreira, casado com Joana Martins, do lugar do “Carvalhal”;
• Domingos Francisco, viúvo, da “Ponte de Negrelos”;
• José Francisco, casado com Angélica Ferreira, da “Ponte de Negrelos”;
• José da Cunha, casado com Custódia Machado, da “Bonna Vista”;
• Manuel Ferreira, casado com Josefa Maria, do “Outeiro de Jinso”;
• Joaquim, solteiro, filho de Maria Teresa, viúva que ficou de Custódio Machado, da “Torre”;
• Pedro da Cunha, viúvo, da “Escorregadoura”;
• António Alves, casado com Antónia Maria, do “Monte;
• Francisco Pereira, casado com Maria Martins, de “Rubais”;
• Constantino, solteiro, e António, solteiro, ambos criados do Abade de São Martinho.
Uma curiosidade deste episódio tem a ver com o facto de, nesse mesmo dia, noutro ponto da Freguesia terem aparecido quinze corpos, cuja proveniência ninguém conhecia, mas que foram piedosamente enterrados no lado Sul do adro da Igreja de São Martinho. Segundo contam as gentes da terra, durante muito o local era perfeitamente reconhecido, uma vez que a relva se conservava ali mais verde e viçosa. A verdade é que em 1891, o Abade João Pinto dos Reis, no Jornal de Santo Thyrso dizia “parece um protesto mudo da natureza contra a ingratidão dos homens, que deixaram no olvido esses martyres, sem ao menos lhes erguerem um modesto mausoléu: uma simples cruz.”
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Fotos: Testemunhos da BATALHA, Ponte de Negrelos, Igreja de S. Martinho do Campo, Arco Triunfo (Paris),Genreal Jardon.
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ANTÓNIO BRÁS MENDES PEREIRA (de Moreira de Cónegos)