A Biblioteca Municipal Fundação Jorge Antunes e a Hora da Poesia têm a honra de o/a convidar para a apresentação da Obra Completa de Alda Lara, no próximo dia 1 de Março pelas 21h00. A apresentação estará a cargo da Dra. Conceição Lima.
" de tudo o que é passado e porvir
a Pátria das palmeiras e dos dongos ficará...
,,,sobre a campa dos Homens que se foram
e sobre o berço dos Homens que hão-de vir..."
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MÃE NEGRA
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
Alda Lara (1930-1962) |
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem ouve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada..
Lisboa, 1951 (Poemas, 1966)