O último discurso de António Magalhães no 24 junho

Mas não queríamos que Guimarães fosse apenas e só um lugar depositário passivo da memória passada.
Queríamos que Guimarães, um lugar de História e de Memória, fosse um lugar de futuro. Um lugar com passado e com futuro.
Uma figura que está indelevelmente ligada a Guimarães e a quem os Vimaranenses têm sabido honrar, evocando a sua memória em múltiplas formas. Na iconografia, como patrono de uma escola, do estádio de futebol, de comércios, mas, e sobretudo, o evocam na têmpera, na visão e na capacidade de realização destas gentes que habitam este território fundador, que é o de D. Afonso Henriques, que é o nosso e será dos vindouros.

O 24 de junho é uma data simbólica para os Vimaranenses e fazemos dela uma data especial em que se celebra “a primeira tarde portuguesa”, nas palavras de Alexandre Herculano. Uma data em que revisitamos os últimos feitos e eventos que
marcaram este nosso tempo. Uma data em que homenageamos todos aqueles que, por mérito, contribuíram para a valorização, a notoriedade e o prestígio de Guimarães e dos Vimaranenses.

Colocámos a cultura no centro das nossas políticas e das nossas medidas. Começámos pela regeneração do legado ancestral, que chegou até nós como marca intemporal, que quisemos cuidar e devolver-lhe o valor histórico, simbólico e mágico que encerra, ao
mesmo tempo que o devolvemos à fruição dos Vimaranenses e dos visitantes.

Rodeamo-nos dos melhores, de Fernando Távora a Nuno Portas, e cuidámos das praças, das ruas, das vielas, dos palacetes e das casas mais humildes, a que devolvemos vida e atribuímos funções condizentes com o nosso tempo.
Usando os métodos e técnicas tradicionais de construção, valorizou-se o legado e a memória, conferiu-se dignidade e qualidade, reocuparam-se espaços abandonados e decrépitos.

A cidade cresceu e ampliou-se. As praças e vielas ganharam vida e valor material e simbólico para os Vimaranenses e visitantes.
E, depois de um trabalho coletivo aturado e persistente, de visão e capacidade de realização, sob a liderança técnica da Arquiteta Alexandra Gesta, o Centro Histórico foi reconhecido pela UNESCO, em 2001, como Património Cultural da Humanidade.

E não ficámos por aqui, contemplativos e satisfeitos com o trabalho realizado. Continuamos a ambição e a concretização. A cidade continuou a crescer e a ampliar-se. Requalificámos os centros cívicos de vilas e freguesias. Devolvemos a Couros vida e
funcionalidades inovadoras, de formação e investigação, numa parceria estreita e continuada com a Universidade do Minho.
Para que a cidade histórica readquirisse, em plenitude, a vida e o brilho perdido, se renovasse e o espaço público fosse apropriado pelos cidadãos, recuperámos e apoiámos as expressões culturais da nossa singularidade. Apoiámos e criámos um
ambiente favorável ao rejuvenescimento e valorização do artesanato, das festas e romarias, de lendas e histórias, da nossa memória, guardada no Arquivo Municipal, nas igrejas, nas ruas e nas pessoas.

E as gentes reforçaram o sentimento de identidade e de pertença a este território fundador.
Mas não queríamos que Guimarães fosse apenas e só um lugar depositário passivo da memória passada.
Queríamos que Guimarães, um lugar de História e de Memória, fosse um lugar de futuro. Um lugar com passado e com futuro.

Criámos uma agenda cultural contemporânea forte e diferenciadora. E a cidade histórica reconquistou a galhardia e a alma. Ocuparam-se as praças, como lugares de encontro e de convivência, de convergência e de participação cívica. E os outros
começaram a vir e a juntar-se a nós, nas praças e nas ruas, nos espetáculos e nas manifestações de júbilo e
de partilha. E fizeram sua a cidade.

Construímos escolas, criámos infantários, criámos uma rede de bibliotecas escolares, de polos descentralizados da Biblioteca Municipal, implantámos a biblioteca itinerante, instalámos o Arquivo Municipal num palacete recuperado e
equipado para o efeito. Abrimos parques e recuperámos lugares de valor patrimonial, abrimos e
criámos parques desportivos, construímos pavilhões desportivos e piscinas. Rasgámos estradas,
modernizámos e ampliámos o fornecimento de água, melhorámos e alargámos o sistema de saneamento e
a recolha de lixo. Melhorámos e criámos parques junto ao Rio Ave e seus afluentes, devolvendo,
assim, os rios à fruição dos cidadãos.

Soubemos usar os programas e medidas de apoio para criar novos serviços e condições favoráveis a uma vida de mais qualidade e de incentivo à fixação dos cidadãos em todo o território concelhio.

E porque para nós a solidariedade social é um valor e um dever de cidadania, construímos habitações sociais, apoiamos as famílias mais carenciadas, dando particular atenção e apoio aos cidadãos mais velhos, aos portadores de deficiência, às mulheres,
aos emigrantes e imigrantes, e aos jovens, criando medidas e serviços e adaptando espaços para responder aos seus legítimos anseios, na construção duma sociedade inclusiva.

Apoiamos as escolas e as crianças e os alunos oriundos de famílias mais desfavorecidas, possibilitando a todos o acesso e o sucesso educativo. Favorecemos o trabalho colaborativo e em rede com as escolas do concelho. E, numa
década, o abandono escolar em Guimarães passou de mais de 20% para 0,06 e a média do desempenho dos alunos do Ensino Básico passou a ser superior à média nacional.

Saúdo, em primeiro lugar, os professores, pelo seu trabalho inexcedível, de dedicação e empenho, a quem se deve, em primeira mão, estes resultados. Mas saúdo também os pais, porque perceberam que a educação dos seus filhos é fundamental para um
projeto de vida pessoal e coletivo edificante neste nosso tempo. Saúdo ainda todos os alunos, pelo esforço e trabalho, que se espelha nos resultados e na melhoria das suas competências.

Por escolha do Governo Português, liderado pelo então Primeiro-Ministro José Sócrates, no reconhecimento do trabalho excepcional na área da Cultura, Guimarães foi Capital Europeia da Cultura, em 2012.
Antecedido de um trabalho empenhado e entusiasta liderado pela Dra. Francisca Abreu, por decisão da
União Europeia, Guimarães foi palco e cenário do maior e mais relevante projeto europeu para a
Cultura.

Depois de alguma controvérsia e descontentamento, que hoje e aqui não importa relevar, a equipa liderada pelo Professor João Serra, suportada pela equipa da Oficina e de tantas outras instituições de Guimarães, os Vimaranenses fizeram sua a Capital
Europeia da Cultura.

Participaram, envolveram-se, deram o seu melhor, surpreenderam e surpreenderam-se, testaram os seus limites e fizeram da Capital Europeia da Cultura um sucesso, reconhecido nacional e internacionalmente.
A Capital Europeia da Cultura, um evento único e irrepetível, possibilitou a continuação da
regeneração urbana e colocou de novo velhos lugares no mapa de Guimarães e no coração dos
Vimaranenses. Sob a coordenação do Dr. Domingos Bragança, Guimarães cresceu, alargou a regeneração
urbana, cumprindo prazos e orçamentos.

A cidade alargou-se e ampliou-se, ganhou mais prestígio e notoriedade. Guimarães tornou-se um modelo de cidade histórica com futuro, porque soube fazer deste evento uma oportunidade para reforçar a qualidade e a imagem positiva do nosso
território, uma oportunidade para reforçar a ligação da Cultura à Educação, à regeneração urbana e
social, uma oportunidade para reforçar a ligação da Cultura ao Turismo e à Economia.
Ao Professor João Serra a nossa gratidão, primeiro por ter aceite liderar o projeto num momento em que
muitos já não acreditavam que fosse possível.

A nossa gratidão e reconhecimento pela energia, entusiasmo e esperança que soube inspirar a toda a
equipa de trabalho e, sobretudo aos Vimaranenses.
Com o seu saber, o seu modo discreto, mas persistente e cheio de sabedoria, superou as
expectativas e convocou todos a assumirem “Eu faço parte”.
Bem haja, Professor João Serra. Na sua pessoa saúdo todos os colaboradores da Fundação Cidade
de Guimarães, da Oficina, a Universidade do Minho e todas as instituições e associações culturais do
concelho, todos os voluntários, que foram muitas
centenas, todos os Vimaranenses que souberam estar
à altura dos pergaminhos que Guimarães ostenta e
de que tanto nos orgulhamos.

E soubemos acrescentar à memória passada,
memória futura, partilhada por todos, com emoção e
orgulho.
Em 2013, Guimarães é Cidade Europeia do
Desporto, a primeira cidade portuguesa a acolher
este evento. Em 2013 Guimarães não para. E o
desporto contamina todos e convoca todos à
participação e ao envolvimento e à ocupação do
espaço público, de espaços não convencionais e dos
equipamentos desportivos que, ao longo de muitos
anos, construímos ou demos apoio e incentivo à sua
construção. À equipa liderada pelo Amadeu Portilha,
o nosso reconhecimento pelo trabalho que estão a
desenvolver.

Guimarães transformou-se, valorizando a memória e
o património e, em simultâneo, modernizando-se e
respondendo aos desafios dos cidadãos e às
exigências do nosso tempo. Guimarães ganhou
prestígio e notoriedade e internacionalizou-se.
E foi um trabalho de todos, para que todos
contribuíram. Uma equipa no executivo, coesa, com
visão e capacidade de realização, um corpo técnico
da Câmara empenhado e dedicado. Mas deve-se,
sobretudo, aos Vimaranenses, que aqui saúdo, pelo
seu “patriotismo de cidade”, roubando as palavras ao
Dr. Jorge Sampaio.

Que aqui saúdo e presto, mais uma vez, o meu
sentido reconhecimento pelo apoio, incentivo e
liderança que tão bem soube colocar ao serviço deste
desígnio.
Os Vimaranenses souberam fazer seus os projetos de
modernização e regeneração da nossa terra. E
fizeram-no, entregando-se a eles, dando sugestões e
fazendo críticas, desafiando-nos a fazer mais e
melhor pelo lugar que habitamos e pela paixão que
partilhamos.

A Europa e Portugal enfrentam desafios e novos
problemas que nos afetam a todos. Tempos difíceis,
com menos dinheiro e mais desemprego.
Desemprego que afeta muitas famílias e muitos
jovens, muito em especial os mais qualificados,
exatamente no tempo em que Portugal tem a maior
percentagem de jovens qualificados, de sempre.
Precisamos de esperança, de inspiração e energia
positiva para podermos continuar a construir o
futuro. Um futuro que não desperdice as realizações
e conquistas do passado e do nosso presente.

Queremos um futuro com esperança para todos, com
competências e dotados de instrumentos para
enfrentar e vencer os desafios que se nos colocam:
garantir a sustentabilidade dos equipamentos
culturais, de conhecimento, de formação e
investigação, que Guimarães possui;
fomentar a diversificação económica, acolhendo
novas ideias e novos negócios criativos, mas
também reforçar a modernização e a vantagem
competitiva das indústrias tradicionais e, por esta
via, atrair investimento e combater o desemprego;
continuar uma agenda cultural forte e diferenciadora,
ancorada em plataformas colaborativas, que
continue o reforço da atratividade de Guimarães,
para o turismo e para a fixação de talentos;
reforçar a participação em redes de cidades e, assim,
ampliar a internacionalização de Guimarães.
Se formos capazes de levar em frente estes desafios,
continuaremos a reforçar o lugar e a imagem
positiva e competitiva de Guimarães, a nível local,
nacional e internacional.

Queremos um futuro ancorado nas realizações e nas
conquistas do passado e do nosso presente, que
contemple todos os cidadãos, dos mais jovens aos
mais idosos.

Queremos um futuro ancorado na têmpera dos
Vimaranenses, herdeiros da têmpera, da visão e da
força de D. Afonso Henriques, que neste dia especial
evocamos.

24 de Junho de 2013
O Presidente da Câmara
António Magalhães

Partilhar