"Termas batem no fundo e arrastam comércio "

As termas do Luso, Curia e Vale da Mó, na Bairrada, estão a atravessar um período negro. Sem aquistas, o comércio local afundou-se. Muitos fecharam portas. Há autarcas que preveem um futuro muito sombrio. (texto JN)

No Luso, a Maló Clinic (gestora das termas locais, que o JN tentou ouvir, sem êxito), a atravessar um momento financeiro difícil, não está a conseguir tirar partido da aposta feita no termalismo de beleza/bem-estar, em detrimento do termalismo clássico. E isso reflete-se negativamente no pequeno comércio e nas unidades hoteleiras desta vila do concelho da Mealhada.

"Não reconheço este Luso. Primeiro, foi a Sociedade das Águas de Luso a mudar-se para a Vacariça, o que tirou daqui muito movimento nos cafés, restaurantes e lojas. Agora, temos as termas com poucos aquistas tradicionais, o que rebentou com os pequenos comerciantes e com quem arrendava quartos. Os grandes hotéis estão a penar", disse, ao JN, o presidente da Junta de Freguesia, Homero Serra.

Um lojista, do Luso, resumiu o seu drama, ao JN, em poucas palavras: "Vieram com a mania do termalismo para ricos e tias de Cascais e arruinaram-nos o negócio. Agora, nem eles têm clientes, nem nós", garante.

Na Curia, Anadia, onde outrora existiram inúmeras pensões que viviam quase a 100% dos termalistas, hoje resta uma ou duas. "As lojas do centro comercial Borboleta estão quase todas fechadas. Uma pensão passou a hotel sénior, outra foi demolida e o resto fechou ou ameaça fechar. É uma desgraça", afirma o comerciante Eliziário Camelo.

20 anos de atraso

Dono de um dos cafés mais frequentados na Curia, Camelo lembra tempos em que "os aquistas vinham aos rebanhos. Agora, vem um ou dois". "Cheguei a ter cinco funcionários. Hoje, sou só eu e a minha mulher. E é por isso que consigo aguentar a casa aberta", garante.

Eliziário Camelo elogia as obras de requalificação feitas nos espaços públicos da Curia, mas lamenta que tenham chegado "20 anos atrasadas". Esse é, na sua opinião, um dos motivos para a falta de termalistas.

Em Vale da Mó, concelho de Anadia, o cenário é ainda pior. Guilherme Andrade, autarca local, diz que as termas estão "infelizmente condenadas". "Já não há unidades hoteleiras, nem de restauração. Fechou tudo. Resta um pequeno café. Os aquistas são poucos. A Câmara Municipal investiu em obras de requalificação, mas os clientes não aparecem", lamenta o autarca.

Fonte da Câmara de Anadia disse, ao JN, que "o Município, dono das termas de Vale da Mó, tem insistido em campanhas de promoção das termas, mas infelizmente sem resultados".

MIGUEL GONÇALVES (JN)

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