Maria (de vestido rosa) ao lado das suas amigas vizelenses em Portugal |
Em 2011, o Instituto de Cooperação e da Língua lançou um concurso para professores e leitores de língua e cultura portuguesa para o estrangeiro. Nesse ano, o concurso foi cancelado, mas Maria não desistiu e voltou a concorrer no ano seguinte. O processo de selecção foi rigoroso. Depois de saber que tinha ficado como leitora em Boston, houve uma série de documentos a tratar. Todo este processo burocrático demorou dois meses e Maria só conseguiu ir para os EUA em Janeiro de 2013.
Com uma comissão de serviço de dois anos, que se pode prolongar até seis, Maria não pretende voltar a Portugal. "Estou a tornar-me inevitavelmente ausente das minhas raízes, mas a motivação que me trouxe até cá foi demasiado forte para agora largar tudo", explica. O regresso a Portugal "vai demorar e só vai acontecer se arranjar emprego lá", acrescenta a professora.
Maria é uma contadora de histórias, criadora de sentidos, guardadora de momentos, desafiadora de certezas. O que a caracteriza é a multiplicidade. Na área, fascina-lhe o facto de ter “a oportunidade de criar, através de palavras, cenários de aprendizagem académica e pessoal”. Nunca pensou tornar-se professora. “Foi um acaso motivado pela paixão pela literatura”, conta ao P3.
Do Minho a Boston
Depois de ter concluído a licenciatura em Português e Inglês na Universidade do Minho, Maria foi assistente de línguas na Bretanha, ao abrigo do programa Sócrates-Comenius. Ao fim de um ano, no regresso a Portugal, aterrou “na realidade desesperada de milhares de professores portugueses: o desemprego”.
Para não ficar de braços cruzados começou a dar explicações e aprendeu a desenrascar-se. Apesar da formação académica inicial ser de 3.º ciclo e ensino secundário, decidiu fazer “uma aprendizagem muito valiosa com o 1.º ciclo”. Aprendeu que, “se houver uma oportunidade, o melhor é agarrá-la”, de forma a aprender sempre alguma coisa, “quanto mais não seja saber o que não queres fazer”, explica.
Após ter conseguido duas colocações anuais, Maria viu-se mais uma vez no desemprego. “Dominada por um certo abatimento, não me deixei vencer, e fui tirar um Mestrado em Português Língua Não Materna na Universidade do Minho”, refere. Lá acabou por ser convidada para leccionar Português para estrangeiros.
Maria tem vários projectos para o futuro: “Desafiar os politicamente correctos, escrever, voltar a estudar e deixar a marca de Portugal e a minha, aqui em Boston.”
Texto de Patrícia Magalhães • jornal Público 09/04/2013