A primeira estrela vizelense e única a gravar canções inéditas (quase todas de Renato Costa) em discos vinil.
Num dia em que se realiza hoje, pela terceira vez consecutiva em Portugal, a edição do Red Bull Air Race, bem no centro da zona ribeirinha do Porto, decidimos também fazer uma viagem à antiga ribeira, onde os costumes e as modas há cerca de 40 anos atrás eram certamente outros. Neste percurso encontrámos a cantora Maria Albina, acompanhada pelo Conjunto Típico de Resende Dias, que através da sua jovial voz presta uma homenagem ao quotidiano da vida à beira rio na cidade Invicta. Naquele tempo, não só as vivências eram outras, como também a própria zona ribeirinha do Porto apresentava uma vida totalmente diferente da actual; se hoje a ribeira é, acima de tudo, um pólo de atracção turística, já o mesmo não se pode dizer em relação à altura da gravação deste disco: sem necessitarmos de recuarmos ao tempo de Douro Praia Fluvial de Manuel de Oliveira, basta-nos escutar este disco para percebermos que nessa altura era a ribeira que fazia girar a vida da cidade do Porto.
Ao longo de todo este disco, encontramos sentidas referências ao bairro da Sé de Porto e suas vielas, aos eternos balões de S. João em cada janela bem como aos saudosos passeios à beira rio. Curiosamente, é num desses passeios que Maria Arminda, certamente se terá inspirado para escrever a letra de “Cuquinho da Ribeira”, que Maria Albina aqui interpreta, espelhando as preocupações das jovens solteiras da época e do seu receio em ficarem solteiras, em contraposição com os tempos de hoje, onde os casamentos acontecem cada vez mais tarde. Da nossa parte, o que nos chamou mais a atenção foi a capa do disco, na qual surge Maria Albina, que gravou este E.P. com apenas 13 anos e que na canção “O Cuquinho da Ribeira”, canta os seguintes versos “Fui um dia passear para os lados da ribeira…/Oh Cuquinho da Ribeira diz-me qual é a maneira de uma marido arranjar/ Sou nova e sou solteira, haverá algum que queira comigo uma dia casar / Oh Cuquinho da Ribeira, quantos anos de solteira tu ainda me ouvirás dar…Fico a triste a meditar... chego até a imaginar que irei ficar solteira”.
Ora, atendendo às novas preocupações (e aspirações) da figura feminina no mundo moderno, seria impensável, nos dias de hoje, uma menina com a idade de Maria Albina, pensar sequer em interpretar de forma tão honesta uma canção com os versos que acima reproduzímos, inspirados numa história popular (no cuco da ribeira que dizia, consoante, o número de vezes que cantava, quantos anos uma menina iria ficar solteira).
Quanto à menina Maria Albina, chegaram-nos recentemente preciosas informações a respeito da sua curta carreira, o que prontamente passamos para a transmitir aos nossos leitores. Natural de Vizela, foi alí que cantou num espectáculo quando tinha apenas 11 anos de idade. Segundo consta, o êxito foi tal, que em Outubro desse mesmo ano foi eleita no Teatro Circo de Braga, "Rainha das Cantadeiras do Minho". Em 1963, cantou no Palácio dos Desportos no Porto, na festa do Campeão Português, que era um programa em que figuravam os grandes nomes da rádio e da TV. Em 1965, confessava à Crónica Feminina que o seu sonho era cantar na TV. Sobre a sua possível aparição na TV não temos qualquer confirmação. Sabemos apenas, conforme nos referiu "fonte" próxima da artista que gravou apenas 3 discos para a etiqueta Rapsódia, do Porto, sendo o que hoje apresentamos o seu disco de estreia, tendo depois abandonado a vida artística.
Maria Albina vive atualmente em Guimarães. Era de Infias. Na foto de baixo está sentada no primeiro automóvel do compositor Renato Costa autor da música do Cuquinha da Ribeira (a letra era de mãe de Maria Albina).
Maria Albina vive atualmente em Guimarães. Era de Infias. Na foto de baixo está sentada no primeiro automóvel do compositor Renato Costa autor da música do Cuquinha da Ribeira (a letra era de mãe de Maria Albina).
TEXTO 2009 DO BLOGUE BARRIO DO VINIL (onde pode ouvir o Cuquinho da Ribeira)