TOMADA DE POSSE NOS BOMBEIROS: dia 06 de Janeiro de 2013
Por volta do ano de 1876 um punhado de cidadãos vizelenses, incentivados por Armindo Pereira da Costa, fundador da Associação e mais tarde o 1.º Comandante da Corporação, teve um sonho: constituir uma associação que integrasse e sustentasse um corpo de bombeiros, para assim poder acorrer às mais diversas situações de socorro: aos incêndios que regularmente deflagravam e aos afogamentos registados no Rio Vizela, essencialmente provocados e devidos às condições de precaridade, ambientais e habitacionais existentes à época. Em 08 de Maio de 1877, dando corpo a este desiderato e sentimento colegial foi constituída a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vizela em que, hoje, 06 de Janeiro de 2013, 135 anos após a sua fundação, ainda por estas mesmas razões, estando aqui reunidos, vamos celebrar este feito e perpetuar a vida desta Associação de Bombeiros Voluntários, numa prova inequívoca de cidadania ativa.
Exmo. Sr. Presidente da AG e Digníssima Mesa
Exmo. Sr. Presidente da Câmara, Dinis Costa
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Neste ato solene de Tomada de Posse dos novos Órgãos Sociais da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vizela, gostava de, independentemente da realidade e da vertente associativa em que o acontecimento se insere, tecer alguns considerandos sobre: o movimento associativo em geral, a situação política e social atual de Portugal, a situação da Associação – presente e futuro e, por último, a interacção de todos os que interferem direta e indirectamente na atividade e na missão da Associação e Corporação:
1 – Movimento Associativo
Em 2011, celebrou-se o ano europeu do voluntariado.
Neste ano de 2013, celebramos “o Ano Europeu dos Cidadãos”, que será oficialmente lançado no próximo dia 10 do corrente pela Comissão da União Europeia.
Portugal tem uma sociedade civil organizada com milhares de associações e movimentos, mas tem uma cidadania pouco participativa e interventiva e, genericamente, muito dependente. É – pois - preciso educar para a cidadania; é preciso romper com a cultura individualista; é preciso criar mais união, tornando mais forte a voz da sociedade civil, voz essa que progressivamente ajudará à mudança da cultura de intervenção política. O poder político, infelizmente, trabalha quase exclusivamente para as eleições, razão pela qual, logo após os atos eleitorais, se divorcia completamente da opinião dos cidadãos.
A falta de intervenção positiva e ativa da sociedade civil acaba, assim, por torna-se muito grave em períodos de acentuada crise económica e social, como é aquela em que Portugal vive atualmente, o que pode – in extremis – pôr mesmo em causa a própria democracia.
Hoje em dia, não é difícil a qualquer português ser cidadão da Europa, embora a Europa não considere neste universo de 27 países que integram a União Europeia todos os cidadãos europeus como cidadãos de primeira. As próprias cisões registadas já, entre o Norte e o Sul da Europa, se não forem rapidamente ultrapassadas, poderão vir a gerar alguns fenómenos xenófobos, e isto – naturalmente – é tudo menos cidadania europeia.
Tenho um sonho: que todas as associações e movimentos cívicos vizelenses pugnem por uma partilha de conhecimentos, que trabalhem em espírito de interajuda e que os cidadãos mais esclarecidos sejam mais atuantes e mais exigentes, por forma a encontrar-se e a chegar-se a uma maior cooperação e uma maior coesão e união numa aposta clara e afirmativa nas mais diversas áreas de ação: cultural, desportiva, económica, política e social.
2 – Situação política e económica atuais
Portugal tem uma das maiores desigualdades de rendimento europeu, apresenta uma taxa de desemprego bem acima da sua média, sofre duma das menores taxas de natalidade do mundo, com um registo de 19.000 abortos legais por ano, tem taxas de casamento mínimas e sofre duma das mais elevadas taxas de divórcios, num sinal evidente de crise nas famílias, com a consequente perca de valores religiosos e morais.
Portugal passou por um elevado desenvolvimento nas últimas décadas do século XX, mas a falta de lucidez, de regulação, de controlo e de educação/cultura acabaram por ser os fatores que mais estiveram associados ao menor desenvolvimento atual, no século XXI, agravado pelo facto dos cidadãos terem atribuído demasiada importância à política, por demasiado tempo.
Durante muitos anos, nós, portugueses, esbanjamos o dinheiro que tínhamos e o que recebemos; mais: acumulamos dívidas, destruímos a agricultura e as pescas, deslocalizamos e destruímos a indústria e a produção e lançamos o país numa grave crise económica e financeira, fortemente agravada por sermos um país pequeno, marginal e aberto, demasiado exposto aos constrangimentos e às crises externas, essencialmente dos países para onde exportamos. Sentimos, hoje, tudo isto duma forma dramática: afinal, tudo causado pela falta de cultura, pela ineficiência na justiça, pela burocracia, pela irresponsabilidade de alguns, pela ambição desmesurada de outros, pela corrupção e pela cegueira, o que nos impediu de conhecer o que na realidade nos poderia ter garantido o crescimento, a paz social e o desenvolvimento em geral.
Agora, independentemente, ou não, das imposições da Troika, só nos restam duas coisas: ajustar o consumo que temos ao que produzimos e reduzir os custos públicos e sociais ao nível das receitas do Estado, sem esquecermos os encargos que temos com os nossos credores, mas tendo sempre em devida atenção o esforço a exigir aos cidadãos, pois tudo deve assentar em princípios de equidade e de racionalidade.
Tudo isto vai durar anos, até se conseguir restabelecer o equilíbrio financeiro; até lá, teremos de apertar bem o cinto e registar crescimentos abaixo do que seria desejável e normal, o que vai afastar-nos ainda mais, e durante algum tempo, do desenvolvimento da Europa e do mundo.
Como cidadãos do mundo, temos de ser responsáveis, e sem defraudarmos a memória dos nossos antepassados, não poderemos dar sustentação às palavras de Galga, general romano, referindo-se aos Lusitanos: “há, na parte mais ocidental da Ibéria, um povo muito estranho que não se governa, nem se deixa governar”.
Tenho um sonho: que temos de ser positivos e acreditar que há capacidade das democracias resolverem os seus próprios problemas. Acreditar, ainda, que há sempre uma capacidade de regeneração, até porque a história repete-se e, conhecendo a história, perceber e compreender que há sempre possibilidade de se ultrapassar as dificuldades e as crises, desde que se aprenda com os erros e se faça em tempo o que deve ser feito; assim, temos de acreditar que Portugal vai ultrapassar mais ou menos rapidamente as suas dificuldades económicas, financeiras e essencialmente sociais, sem criar mais desemprego e sem ter mais exclusão social, ora fruto das medidas diretas tomadas pelo nossos responsáveis governamentais, ora pelas medidas excepcionais a serem finalmente aceites e assumidas pelos nossos credores e pela Comunidade Europeia, no que toca às responsabilidades contratuais e aos juros dos nossos compromissos, sem que com isso percamos a credibilidade, a confiança e a idoneidade futuras.
3 – Situação da Associação: atual e futura
A Associação está controlada: económico-financeira e socialmente falando, tendo sido os últimos 3 anos extremamente marcantes e afirmativos, dos mais importantes até na já longa História da Associação, quer nos recursos humanos, quer nas estruturas físicas, nos meios móveis e nos equipamentos individuais, quer – ainda - na organização interna e na imagem oficial e pública que oferece.
O reconhecimento público e oficial, traduzido no recebimento da Medalha de Mérito Proteção e Socorro, grau ouro, cor azul, atribuída pelo Ministério da Administração Interna, na pessoa do Sr. Ministro Dr. Miguel Macedo, a Fénix de Honra, com Diploma, atribuída pela Liga dos Bombeiros Portugueses, na pessoa do Sr. Presidente Comandante Jaime Marta Soares, e a Inauguração da Estátua em “Homenagem ao Bombeiro”, iniciativa da Câmara Municipal de Vizela, em cumprimento da promessa feita em 1998, e presidida pelo Sr. Dinis Costa, são um testemunho evidente e claro desta realidade, facto que muito nos orgulha e mesmo nos encoraja a continuarmos esta nobre e enlevada missão, embora bem conscientes do elevado grau de conhecimentos, de sacrifícios e de capacidade e rigor de execução que exige.
Tudo isto só foi possível com o empenho, a dedicação e o trabalho de todos, de cada um dos Diretores nas suas áreas de responsabilidade, a quem publicamente agradeço com muita amizade.
Mas como a vida é sempre presente, porque o passado já passou e o futuro nunca o temos garantido, como diz o Dalai-lama: “nunca saberemos o que chegará primeiro, se o dia de amanhã, se a próxima vida”, temos de pensar sempre presente, fazendo-o duma forma positiva e construtiva, solidária e de esperança, de felicidade e de paz. Mesmo nos momentos de grande preocupação, de grandes dúvidas e mesmo de aflição, devemos ser positivos e acreditar que somos capazes e que, duma forma ponderada e sustentada, iremos ultrapassar as dificuldades.
A Direção cessante apresentou, no passado dia 30 de Novembro, o Plano e Orçamento para o ano de 2013, que foi unanimemente aprovado pela Assembleia Geral e que – em princípio – vai ser ratificado pela atual Direção. Trata-se dum plano realista, ponderado e equilibrado, que à partida poderá ser executado, mesmo numa situação de crise como já referido no ponto 2 acima.
Tenho um sonho: que o ano de 2013 não vai ser pior que o de 2012, que todos os novos elementos dos Corpos Sociais estão conscientes da atual realidade, que se vão empenhar pessoal e colectivamente na resolução de todos os problemas, em tempo, e que vão trabalhar sustentadamente para se atingir os objetivos planeados e traçados.
4 – Interação geral e fatores diversos
Sendo a atividade da Associação exclusivamente virada para o socorro, para o bem-estar dos cidadãos e para a salvaguarda dos seus bens pessoais e materiais, numa missão e função exclusivamente de carácter público, em coordenação e cooperação com o Governo (ANPC) e as Autarquias naquilo que é a sua função, existe da parte destes a obrigação de contribuírem adequadamente para a sua sustentabilidade, em partes iguais = 1/3 cada, o que não tem minimamente acontecido, como se pode verificar no último orçamento atrás referido e aprovado, em que a contribuição financeira total da Associação atinge os 57% do seu orçamento.
Era bom que, quer o Governo, quer as Autarquias, começassem a olhar para as Associações/Corpos de Bombeiros duma forma absolutamente diferente, diferente mesmo da que olham para todas as outras associações, pela responsabilidade direta que o socorro lhes impõe e obriga.
Este desfasamento de responsabilidades e obrigações, exige que a Direção e os bombeiros, independentemente da administração e gestão dos recursos e dos meios, por parte da Direção, e da ação de formação e socorro, por parte dos nossos bombeiros, ambos se tenham de empenhar forçadamente no encontro dos meios financeiros necessários junto dos Sócios: Honorários, Beneméritos e Benfeitores, e de toda a população em geral, sem exceção, doutra forma a Associação não teria o mínimo de condições financeiras para poder subsistir.
Tenho um sonho: que a Direção e os bombeiros irão continuar a empenhar-se, que os Párocos e as Comissões de Paróquias manterão o apoio até agora dado, que os Sócios: Honorários, Beneméritos e Benfeitores continuarão a disponibilizar fundos e meios e que a população em geral vai continuar a corresponder, dentro das suas possibilidades, com os seus donativos.
Por último, para os nossos bombeiros:
O verdeiro bombeiro voluntário é o melhor homem do mundo.
Assim, bombeiros, respeitai sempre a farda que vestis; sede sempre dignos dela e nunca esqueçais que o melhor agradecimento do mundo é o sorriso feliz e o obrigado de quem foi salvo, ou de quem foi atempada e devidamente socorrido.
Todos juntos, e de mãos dadas, seremos mais fortes.
Todos juntos encontraremos sempre formas de ajudar, interagir e atuar.
Acreditem: todos juntos encontraremos sempre soluções.
Que Deus abençoe a Associação e os seus bombeiros.
Que Deus abençoe Vizela e as suas gentes.
Que Deus abençoe Portugal.
João Costa