Ex.mos Senhores Deputados,
A Freguesia de Tagilde é uma freguesia do Concelho de Vizela, Distrito de Braga, com a área de 2.74 Km2 e 1861 habitantes (censos 2011), o que se traduz actualmente numa densidade populacional de 679 habitantes por Km2.
Esta Freguesia que a UTRAT pretende aniquilar, não pode ser colocada no mesmo patamar que tantas outras de Portugal, porquanto, não se trata de mais uma freguesia do nosso Portugal, mas sim de uma Freguesia que marcou a sua História.
Para que melhor se entenda aquilo de que estamos a falar, a seguir faremos uma resenha dos acontecimentos mais relevantes que tiveram lugar na nossa freguesia e também do seu património histórico:
1. COMO SURGIU O NOME DE TAGILDE
O nome da nossa freguesia (Tagilde), conforme escreveu Francisco Xavier da Serra Craesbeeck no seu livro “Memórias Ressuscitadas da Província Entre Douro e Minho no ano de 1726”, procedeu de Atanagildo, um Rei Godo do século VI.
Por sua vez o Abade de Tagilde (João Gomes de Oliveira Guimarães) escreveu que o
nome de Tagilde provém de um senhor chamado Atanagildo, nome vulgar da época,
que construiu a sua torre neste local. No seu livro “Tagilde Memória Histórico – Descriptiva” refere que na altura existia ainda na freguesia o nome da casa e quinta
da Torre: “Protegidos pela torre de Atanagildo e ligados a alguma pobre ermida que os antigos povoadores, convertidos ao christianismo, houvessem edificado, (…) os colonos foram augmentando pouco a pouco, constituindo-se assim a parochia que de Atanagildo recebeu o nome por que é conhecida”.
2. ACONTECIMENTOS HISTÓRICOS
Tagilde foi palco de um dos mais importantes acontecimentos históricos portugueses e talvez mesmo mundiais:
O Tratado de Tagilde
O Tratado da Aliança entre Portugal e Inglaterra, também denominado de Tratado de Tagilde, foi assinado a 10 de Julho de 1372, na Igreja de S. Salvador de Tagilde, entre o Rei D. Fernando (o Formoso) e representantes do Duque de Lencastre (filho de Eduardo III de Inglaterra).
Este tratado é um dos mais importantes acordos políticos de Portugal e a mais antiga aliança militar do mundo que ainda vigora.
Na génese deste processo, esteve a Guerra dos Cem Anos (1339 a 1453) entre a França e a Inglaterra, vendo-se esta última obrigada a procurar aliados em Castela, Aragão e Portugal.
Em 1953 foi colocado um obelisco evocativo da aliança entre Portugal e Inglaterra, junto à Igreja Paroquial de S. Salvador de Tagilde (imagem acima)
TEXTO DO TRATADO DE TAGILDE
«Em nome de Deus amen. Sabhamquamtos esta carta de perduravelfirmidoem virem como na Era de mil quatrocentos e dez annosconvem a saber dez dias do mes de julho na Egreja de Sam Salvador de Taagilde de Arcebispado do Bragaastandohi presentes o muito alto e mui nobre dom Fernando pela graça de DeosRey de portugal e do Algarve E JohamfernandezAndeyrocavaleyro e Roger hoorscudeiromesegeiros e procuradores do muito alto e mui nobre dom Joham per essa meesma graça Rey de Castela e de leon e duc de Lencastre e outrosymesegeiros e procuradores da muita alta e mui nobre Senhora Reynha dona Costãça sua molher per humaprocuraçom dos ditos Senhores Rey e Reynha de Castela da qual o teor adeantescripto… o dito senhor Rey de portugal em Seu nome e da muita alta e mui nobre Senhora Reynha dona leonor sua molher e de todos seus sucessores e herdeiros e os ditos procuradores Johamfernandez e Roger hoor em nome dos ditos Senhores Rey dom Joham e Reynha de Castela e de todos seus sucessores e herdeiros per poder da dita procuraçomfirmaromantresy amizades e lianças pera senpre valedoiras na maneira que se segue: Primeiramente prometerom que seromprouguelhis e outorgarom que fossem boons leaaesfieles e uerdadeiros amigos pera senpre e que se amassem bem e uerdadeiramente e que em nenhuumtenpo non fossem huum contra o outro nem contra seus Regnos e sucessores e herdeiros per sy nem per outrem e que cadahuum deles fezesse.
3. ACONTECIMENTOS RELIGIOSOS
Também relacionado com Tagilde, está S. Gonçalo, que nasceu nesta freguesia, em 1187, na casa do Paço de Gonçalo Pereira, no antigo Lugar de Arriconha e actualmente Rua de S. Gonçalo. Sabe-se que os seus pais eram nobres e profundamente religiosos, legando, por isso, em S. Gonçalo três heranças preciosas: a dos bens materiais, a nobreza da família e a fé.
Embora não se saiba os seus nomes, sabe-se no entanto, que o seu pai se chamava Gonçalo.
A tradição reza que no baptismo S. Gonçalo (oito dias após o nascimento), esteve presente uma cruz de prata, em estilo gótico de um alto valor artístico e que constitui uma valiosa peça de ourivesaria portuguesa do século XII ou XIII.
Segundo o Abade de Tagilde esta cruz é em prata sobreposta em madeira ostentando em alto-relevo ornamentações de folhas de vide e terminando as hastes em forma de flor-de-lis; na frente, no transepto tem letras I.H.S. e quase na extremidade medalhões sobrepostos com gravuras em alto-relevo que representam: no alto da cruz, uma figura masculina nimbada sustentando um livro na mão; no braço direito um livro na mão; no braço esquerdo, uma imagem da Virgem; no fundo, um anjo com um papel de música nas mãos; na parte posterior tem outros quatro medalhões, não sobrepostos com símbolos dos Evangelistas; no alto da cruz, a águia; no braço direito o anjo; no esquerdo o leão; no fundo o boi de asas.
Consta-se que por altura do 25 de Abril de 1974, a cruz foi entregue à guarda dos Tesouros da Sé de Braga. Até então, e devido ao seu valor permanecia escondida em diversos lugares da freguesia.
4. PATRIMÓNIO HISTÓRICO DA FREGUESIA DE TAGILDE
4.1. Santuário de São Bento
O Santuário do S. Bento situa-se no Monte de S. Bento, a uma altitude de 410 metros. Hoje existem no Santuário de S. Bento duas capelas: a chamada “Capela Velha” (datada do séc. XIV), a mais antiga e que sofreu obras de recuperação ao longo dos tempos e outra “Capela Nova” inaugurada a 10 de Julho de 1971. O monte de S. Bento foi elevado a Santuário em Junho de 1999 por D. Eurico Dias Nogueira, Arcebispo de Braga.
4.2. Igreja de Tagilde
A Igreja Paroquial de Tagilde situa-se no Largo Abade de Tagilde. Esta não é a igreja onde foi celebrado o Tratado da Aliança entre Portugal e Inglaterra, pois a anterior foi demolida. Por volta de 25 de Janeiro de 1618, a Igreja de Paroquial de S. Salvador de Tagilde foi uma das primeiras igrejas do arciprestado de Guimarães a ter um sacrário permanente. O pároco Padre Constantino Matos de Sá foi nomeado Pároco in solidum, ficando como Moderador, com o Padre Cândido Armindo da Silva Magalhães, Sacerdote do Instituto Missionário da Consolata (IMC).
4.3. Obelisco evocativo da Aliança Portugal-Inglaterra
Obelisco evocativo do Tratado da Aliança entre Portugal e Inglaterra, colocado a 10 de Julho de 1953, pela Câmara Municipal de Guimarães, aquando o 581.º aniversário deste Tratado.
4.4. Capela de S. Gonçalo
A Capela de S. Gonçalo fica situada no final da actual Rua de S. Gonçalo e no antigo Lugar da Arriconha, local onde terá nascido este Santo. Esta capela foi construída em 1657 com as esmolas dos devotos que aí as depositaram. Existe também um penedo e uma fonte ligada a este santo. O Penedo de S. Gonçalo, é uma pedra granítica onde as pessoas dizem que S. Gonçalo jogava à bugalha. A Fonte de S. Gonçalo foi construída em 1881 em homenagem ao Santo, que em vida bebia desta água. Este local é tido pelos populares como um sítio ligado à lenda de S. Gonçalo que partia as "cantarinhas" às moças.
4.5. Cruzeiro de S. Gonçalo
O Cruzeiro de S. Gonçalo situa-se no início da Rua de S. Gonçalo e é datado de 1907. Contudo, foi já restaurado diversas vezes.
4.6. Ponte Nova
Embora a maior parte das pessoas pense que esta ponte é Romana, tal não é verdade. Esta ponte é a principal via de ligação entre a Freguesia de Tagilde e Sto. Adrião. Sendo recentemente recuperada está vedada ao trânsito de veículos pesados.
4.7. Cruzeiro Paroquial do Cemitério de Tagilde
No cemitério de Tagilde encontra-se o Cruzeiro Paroquial, datado de 1571, que segundo o Abade de Tagilde, foi construído "à custa do Abbade Manoel da Cunha, como se vê da inscrição que se lê na base".
4.8. Casa de Vila Corneira
A Quinta de Vila Corneira é uma propriedade privada que outrora pertenceu a membros da nobreza. Quer a casa, quer a capela
que dela fazem parte encontram-se em bom estado de conservação. É já tradição anual a realização uma missa aberta
à população da freguesia, na capela da quinta, no dia 08 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição.
5. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
Terminada esta breve resenha feita à história e ao património da freguesia de Tagilde, analisemos agora a proposta da UTRAT, no caso concreto das freguesias do Município de Vizela.
Segundo consta na proposta da UTRAT, caso do Município de Vizela seja classificado como Município de Nível III, é proposta a agregação da freguesia de Tagilde com a freguesia de Vizela S. Paio, mantendo para o efeito o ponto três da proposta e alterando o ponto dois da mesma, onde estava prevista a agregação de Caldas de Vizela S. Miguel, Caldas de Vizela S. João e Infias, retirando esta última freguesia da agregação (conforme pontos 5.5, 5.6 e 5.7 da proposta da UTRAT)
Esta tomada de posição por parte da UTRAT que, em caso de reclassificação prefere a agregação da nossa freguesia com a Freguesia de Vizela S. Paio, e não a agregação das três freguesias (Caldas de Vizela S. Miguel, Caldas de Vizela S. João e Infias), que se situam, duas delas em área urbana e a outra (Infias) numa área estratégica para a expansão do centro urbano de Vizela, sendo que todas essas freguesias são atravessadas por uma estrada nacional, com boas acessibilidades, servidas por transportes públicos com regularidade, com industrialização e comk muito mais desenvolvimento que a nossa freguesia, apenas demonstra que a UTRAT não conhece nem a realidade das Freguesias que pretende agregar, como é o caso de Tagilde, nem a história de Portugal.
Tagilde, para além da importância histórica, que não convém apagar do mapa nem dos livros de história, trata-se de uma freguesia rural, com fracas acessibilidades, quase não servida de transportes públicos, em que a agregação proposta, em muito vai dificultar a vida à população, que tem na Junta de Freguesia a primeira instância de recurso quando pretendem resolver alguma questão.
Por isso senhores ilustríssimos deputados da Assembleia da Republica, questionamos a proposta da UTRAT, que na nossa opinião não está a ter em devida consideração os interesses dos cidadãos senão vejamos:
1. Será benéfico para as populações, agregar uma freguesia rural com outra freguesia rural, sendo que ambas as freguesias quase não se encontram servidas por transportes públicos?
2. Será coerente que uma freguesia, como é o caso de Infias, para onde a malha urbana de Vizela se estenderá a curto prazo, com boas condições ao nível de acessibilidades e servida de transportes públicos de 30 em 30 minutos seja, em prejuízo da nossa população retirada da agregação (ponto 5.5 e 5.6 da proposta da UTRAT)?
3. Será patriótico apagar do mapa a importância histórica da nossa Freguesia, e com isto apagar também a História de Portugal, no que se refere ao Tratado de Tagilde?
4. Será coerente agregar uma freguesia com fracas acessibilidades, onde grande parte das vias não permite que se cruzem um automóvel e um autocarro (conforme fotos anexas)?
5. Será que esta agregação foi proposta tendo em salvaguarda o benefício das populações e para facilitar o seu contacto com a freguesia?
Senhores Ilustríssimos Deputados da Assembleia da República, a resposta às questões acima parece óbvia, no entanto a UTRAT entendeu fazer diferente na proposta apresentada, pelo que, em nome do bom senso e da coerência que deve imperar no nosso país, que atravessa um momento tão difícil, apelamos, em nome do Povo de Tagilde, que V. Exas. intercedam na Assembleia da República, no sentido de ser alterada a referida proposta, retirando da mesma a agregação da Freguesia de Tagilde, com a Freguesia de Vizela S. Paio (Ponto 3) e mantendo a agregação das Freguesias de Caldas de Vizela S. João, Caldas de Vizela S. Miguel e Infias (Ponto 2 que a UTRAT pretende alterar), cumprindo-se assim os critérios de Município Nível III e salvaguardando-se pelas razões acima apontadas, o benefício das populações destas duas freguesias rurais, sem prejudicar as demais freguesias.
Atentamente,
A Presidente - Paula Lima, Dra.