Comissão de Festas da Cidade promoveu ontem pelas ruas da cidade a realização da I Feira Romana que se realiza nos dias 8, 9 e 10 de Junho em Vizela.
É uma iniciativa que vem ao encontro da história de Vizela sendo atribuída aos romanos a descoberta das termas locais e a construção dos primeiros balneários (em colmo) na Praça da República.
* Enquadramento Histórico
Já desde os primórdios da civilizações que viveram em Vizela, nomeadamente os Romanos, que alcançam o nosso território no século II a.c.. A conquista conclui-se no tempo de Augusto. Com a pacificação do território, alterações profundas introduziram-se na vida sócio- económica das populações pré-romanas da região, por isso foram muitos, os vestígios e fragmentos arqueológicos encontrados em território vizelense, devido às constantes movimentações do solo, a fim de obras civis/ públicas, vão sendo destruídos ou então, são salvaguardados para estudo de peritos especializados no assunto, chegando-se a prever que o destino de alguns destes achados não tenha sido feito com clareza e dentro da legitimidade.
Sugeriu-se que a utilização dos recursos termais de Vizela, terá sido iniciada pelos romanos, nos inícios do século primeiro antes de Cristo, apesar dos indícios de que se dispõe sobre a romanização local não apontarem para tal antiguidade.
Contudo, estes achados arqueológicos, encontrados na área circundante de Vizela, em que se destaca um castro situado no monte de S. Pedro(conhecido por Monte da Garrafinha), em S. João e um outro localizado no monte da Senhora da Tocha, em Santo Adrião e que foram encontrados vestígios de materiais romanizados na freguesia de Santa Eulália, entre os lugares do Paço e Rielho, como em muitas cidades a nível nacional, em que as tradições são de certa forma semelhantes ou então, obtém um valor enorme, devem ser preservados, e salvaguardados como um espólio do passado e como peça fundamental da história da cidade, onde é encontrado, porém não parece que tenha acontecido isso, em terras vizelenses. Chegam mesmo a vir a Vizela, entendidos e peritos no assunto, e que ficam desiludidos com a falta de tacto e consideração com todo o espólio de valor encontrado em Vizela.
Após um longo período de esquecimento, a exploração termal é reiniciada nos finais do século XVIII, mais precisamente em 1880, para o que são construídas instalações. É aliás, durante este processo que muitos dos dados arqueológicos de que hoje dispomos foram postos a descoberto, entre os quais se destacam, um mosaico romano, do qual ficaram desenhos na Sociedade Martins Sarmento, pertencente a um balneário. Posteriormente, foi encontrado outro mosaico, sendo parte integrante de uma estrutura de banhos.
Outros vestígios romanos foram encontrados em Vizela, e são algumas peças de epigrafia latina e estão depositadas no Museu Martins Sarmento. São elas, as duas epígrafes em honra do deus Bormânico ( uma proveniente das termas e outra da Lameira ), epígrafes de carácter cultual e votivo, encontrada perto da igreja de S. Faustino de Vizela, e também em Rielho, Santa Eulália, e na igreja de Santo Adrião, dedicada aos deuses MANES. E por fim outra de carácter funerário, encontrada nas imediações da igreja de S. Miguel, e entretanto desaparecida, outra peça de importante relevo, é uma arquitrave em granito, pertencente a um edifício termal, encontrada no Largo da Lameira nos princípios do século XVIII.
A sugestão de que Vizela teria sido a sede de Paróquia visigótica “ Oculis Calidarium”, referido em vários documentos de 1014, não é mais que um indicador do prestígio que este núcleo terá tido na época da Romanização até á Idade Média.
Esteve, em Caldas de Vizela, de visita, o ilustre Dr. Sande Lemos, catedrático da Universidade do Minho, tendo como principal objectivo, a apreciação de diversos locais ligados à História de Vizela. Teve como principal itinerário, a ponte velha, as pontes de Negrelos e a velha ponte do Pombeiro e onde foram encontrados alguns vestígios de origem romana, a Praça da República e também à Igreja de S. Miguel.
Nesta última parte deste itinerário arqueológico, o Dr. Sande Lemos, encontrou vestígios de origem romana, compostos por muros, fustes, cerâmica, criticando o processo de movimentação dos terrenos, onde se encontram o Centro Paroquial e Social de S. Miguel, afirmando que no seu entender, a antiga civilização romana de Vizela situada na via de “ Bracara Augusta”, a “Emérida Augusta”, estendia-se desde a actual Praça da República até á Igreja Velha de S. Miguel. Considera-se que a área situada entre a Igreja de S. Miguel e as termas na qual existe um risco potencial de qualquer remoção de subsolo pode vir a afectar, os presumíveis vestígios arqueológicos.
Dr. Sande Lemos visitou também a Capela de Nossa Senhora da Tocha ( St.º Adrião), com bastante admiração e satisfação.
Vizela situa-se na área de expansão daquela cultura, sendo muito numerosos os vestígios encontrados nas freguesias envolventes relativamente a fortificações ou em elevações de extrema dificuldade nos acessos.
Os trabalhos de urbanização nesta área deverão, por isso, rodear-se das cautelas necessárias, caso exista empenho na preservação do Património Arqueológico, em detrimento de simples inviabilização de qualquer renovação urbanística. A importância que Vizela teve no passado como núcleo termal e urbano, a juntar à bem conhecida busca de identidade cultural e autonomia administrativa na actualidade, justificam que se promova a preservação e estudo dos vestígios da História Local.
E face à situação do destino de todos, os vestígios, que demonstram a maneira de viver e as condições de vida destas antigas civilizações referidas anteriormente, e à maneira como são abordados, deve-se ter consciência e em consideração o seu valor e significado histórico e cultural, enriquecendo assim, a localidade onde se insere, neste caso, em Caldas de Vizela, numa perspectiva saudável de conciliar a conservação dos vestígios arqueológicos com a renovação harmoniosa do especto urbanístico, presente e futuro, de Vizela.
In Semanário "Notícias de Vizela, 2002
Vizela " 600 anos de História,- 1998
* Principais Pontos da Cultura Castreja em Vizela
1 - Castro no Monte de S. Pedro, na freguesia de S. João de Vizela, de que existem restos ainda visíveis, da muralha que o delimitava. No século passado alastravam pelo monte fragmentos de louça. Em penedos próximos quando removidos, era frequente o aparecimento de vasilhas de carvão, estas constituem urnas funerárias e algumas delas foram encontradas ainda inteiras ;
2 - Castro do Monte da Nossa Senhora da Tocha, na freguesia de Santo Adrião, neste local ocorrem fragmentos de telha romana e de cerâmica. A tradição popular refere a ligação por “estrada subterrânea” do castro até ao rio. Este castro era um antigo acampamento militar e onde se tem encontrado diversas tijolarias, casas, ruínas dos romanos, entre outro tipo de achados do género ;
3 - Castro no Lugar de Cristelo, em Santa Comba de Regilde, onde existiu uma pequena povoação castreja apoiada no pequeno outeiro com o mesmo nome, aqui encontram-se alguns vestígios de fragmentos de telha de rebordo e de cerâmica;
4 - Presumível povoação castreja em S. Martinho de Penacova, próximo da Igreja de S. Martinho e nos campos contíguos à igreja surgem alguns fragmentos de telha romana;
5 - Castro no Monte de Polvoreira, na extremidade oposta ao Monte de Lijó, no cimo na sua vertente oriental foram encontrados alguns fragmentos de telha romana e fragmentos de louça semelhantes aos da Citânia de Sanfins e nos campos adjacentes são encontrados alguns restos de carvão, e por fim na Bouça da Quinta é frequente o aparecimento de fragmentos de telha e de vasilhame;
6 - Castro do alto da Penha, nos finais do século passado eram ainda visíveis vestígios de uma fortificação de terra. Neste local é frequente o aparecimento de cerâmica com ornamentação. Próximo, pouco acima de Vilar e não longe do Penedo do Escrivão, encontrou Martins Sarmento restos de urnas funerárias de cerâmica ornamentada.
Moita, Irisalva - " A Toponímia Castreja"
Distribuição e Significado, in Lucerna, vol. , 1996
* Principais achados Arqueológicos
1 - “Covinhas”, junto da igreja de S. Paio de Vizela, atribuídas geralmente à Idade do Bronze;
2 - Penedo com mais de trinta “covinhas” atribuídas também à Idade do Bronze, vulgarmente conhecido como o " Penedo" ou " Penedinho " de S. Gonçalo situado no campo do Pessegueiro em Tagilde;
3 - “Covinhas”, no monte de S. Bento, sobranceiro a Vizela, e junto da capela de S. Bento;
4 - “Covinhas”, num penedo a poente da Igreja de S. Paio de Vizela;
5 - Gruta Funerária, situada no monte de Lijó, em Polvoreira;
6 - Entre outros situados nos arredores da região de Vizela.
Paço, Afonso "A Citânia de Sanfins"
Fundo Pré - Histórico
* Principais Inscrições encontradas em Vizela
1 - Inscrição proveniente da Lameira, actual Praça da República, consagrada ao deus Bormânico;
2 - Inscrição do Banho do Médico, no Mourisco, dedicada também ao deus Bormânico;
3 - Lápide com inscrição, proveniente de Vizela, de local não identificado e referida por Pereira Caldas em Notícia Arqueológica das Caldas de Vizela;
4 - Inscrição encontrada por Martins de Sarmento, em 1844, em local de Vizela não identificado;
5 - Inscrição polítea, actualmente perdida, tendo sido descoberta no século XVIII por Mascarenhas Neto, embutida nas paredes de uma casa do Lugar de Sobrado, na freguesia de S. Miguel;
6 - Inscrição de Aldão, assim conhecida mas proveniente de Vizela, e encontrada pouco depois do ano de 1600, no sítio da Lameira, actual Praça da República.
Leal, Pinho, " Portugal Antigo e Moderno"
Páginas 1935 e 1936