Terei eternamente saudades de Kim Tarola.
Antigo vizinho, conterrâneo mais velho que eu e que partilhou comigo as margens do vizela e o Terreiro (onde nasci) na ponte Velha (Romana), homem que nunca me falou de mais nada senão de Vizela: do rio, da grande cheia, da fauna, do parque, da natureza, da luta, de S. Bento...de todas estas coisas de que os vizelenses mais sensíveis falam todos os dias.
A ação de Kim Tarola em prol do concelho de Vizela jamais será devidamente retratada porque ainda hoje há episódios «proibidos» de revelar. Basta dizer que este grande vizelense era um herói, um soldado de boina preta (cavalaria), um boina vermelha (comando), era destemido, arrojado e que adorava Vizela.
Kim Tarola sonhava um concelho participativo: gerado pelo Povo, dirigido pelo Povo.
Hoje sepultou-se um capítulo da história de Vizela; hoje sepultou-se um Homem que sonhava que o mesmo Povo que era capaz de levantar dezenas de metros de carris, seria o mesmo a desenhar o dia a dia de uma nova independência.
Sei que muitos não perceberão isto e outros julgarão puro lirismo, mas atentem-se neste aviso: ai das terras quando perderem o romantismo da luta, ai dos povos quando perderem o sentimento das causas. Definharão.
Kim Tarola, como muitos outros vizelenses, lutaram por uma Vizela livre no futuro, sem vícios, sem oportunismos, sem máculas...sem interesses pessoais acima do bem comum.
Morreu hoje um pouco desse espírito.
Poucas causas no mundo tiveram tanta beleza e sentimento puro como a luta vizelense que o prof. José Matoso fez questão de perpetuar na História Moderna de Portugal, onde não falta um grafismo da forca implantada na rua central e da qual Kim Tarola também ajudou a erguer e a espetar alguns pregos.
Aos poucos enterrar-se-á a história viva da luta de Vizela para dar lugar ao plástico, aos implantes, aos canudos e aos ovnis.
A igreja de S. João esteve repleta
O corpo de Kim Tarola saiu em palmas. Deixem passar quem amou Vizela.
E Kim Tarola foi sepultado na cidade que tanto amou...muitas vezes acima de todas as coisas e que, tal como Zeca Afonso na canção da Utopia, um dia sonhou como uma «cidade sem muros nem ameias, com gente igual por dentro e por fora...»
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota? ZA
- Um beijinho de solidariedade para a sua esposa Maria dos Anjos (Caixeira), seus filhos Miguel, Paulo e Bento (que abracei no cemitério), seus irmãos Fernando, Conceição, Rosa Maria, António e Martinho e toda a família deste herói vizelense e Homem bom. Para ti Vizela, os sentimentos de teres perdido mais um filho que te amava.
MMM