Carta aberta aos autores do Manifesto “Um Novo Rumo”

Envio para vosso conhecimento a Carta aberta aos autores do Manifesto “Um Novo Rumo” assinada por mim, como Presidente da JSD e por Ana Margarida Craveiro, politóloga de 29 anos. DUARTE MACHADO




Carta aberta aos autores do Manifesto “Um Novo Rumo”

Manifesto pela mudança para que tudo fique na mesma

Na véspera da greve geral, foi anunciado aos Portugueses mais um Manifesto, assinado por um conjunto de personalidades, de um ou de outro modo, ligadas ao Partido Socialista. Reivindicam um “novo paradigma”, mas sobre esse salvífico “novo paradigma” não são claros: apenas nos dizem que seria bom que ele aparecesse. Querem um caminho diferente, dizem, e discordam das escolhas que hoje fazemos. A posição é legítima. Ora, convém recordar que uma boa parte deste caminho foi acordado com os nossos parceiros europeus, negociado pelo Governo PS e sufragado pelos restantes partidos do arco governativo. Parece, pois, que muitos na família socialista se comprometeram com algo que já esperavam não ter de cumprir.



Porém, na nossa opinião o vosso Manifesto chega bastante atrasado. Por isso, perguntamos hoje onde estavam V.Exas nos últimos anos, quando o endividamento aumentava apesar de a nossa economia estar estagnada. Onde estavam quando o nosso país se assumia como o campeão da desigualdade e último classificado na mobilidade social? Onde estavam quando o crescimento económico de Portugal estagnou, mas os investimentos megalómanos não paravam de aumentar? Onde estavam quando se assinaram contratos ruinosos que endividaram as gerações futuras dos próximos 50 anos? Onde estavam quando a nossa dívida líquida externa se tornou a maior do mundo inteiro?



Continuamos sem saber que novo paradigma afinal defendem. Sabemos que querem um paradigma diferente. Mas qual? Fica apenas a desconfiança de que o que pretendem é apenas manter o mesmo paradigma, o velho paradigma que nos trouxe até aqui.



Nesse velho paradigma, sabemos, eram sempre as mesmas empresas a ter sucesso, eram sempre os mesmos grupos sociais a ser protegidos ou sacrificados, eram os mais desfavorecidos que empobreciam, e os mais jovens que tinham de pagar a dívida sem fim. No velho paradigma, a justiça andava devagar, prejudicando os cumpridores, beneficiando os prevaricadores. No velho paradigma, falava-se muito de escola pública, ao mesmo tempo que se fazia tudo para a arrasar. Degradámos a exigência em nome das boas estatísticas. E com isso empobrecemos mais um pouco.



Contra isso, sim, protestamos e nos indignamos. Protestamos, sim, contra um paradigma de governação que está comprovadamente ultrapassado, esgotado e que não é sustentável. Que conduziu o País à sua crise actual e comprometeu o nosso próprio futuro.


Hoje, dizemos que não basta apelar ao passado. Se queremos manter as conquistas, se queremos manter o que temos, é preciso mudar alguma coisa. Queremos mais, queremos um país sustentável que olha para o futuro sem medos. Não queremos um futuro sacrificado, queremos um futuro com confiança. É preciso mudar. Reformar o País e as suas instituições é uma missão dura e difícil, mas é o único caminho com futuro.



Duarte Marques, Presidente da JSD Ana Margarida Craveiro, Politóloga

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