20 anos de Guimarães Jazz

Roy Haynes, Steve Swallow, Cedar Walton, Ralph Alessi, McCoy Tyner, Henry Threadgill e William Parker são alguns dos nomes que se juntam à celebração do 20º aniversário do Festival




O Guimarães Jazz cumpre, este ano, 20 anos de existência. Inscrevendo-se as escolhas musicais desta edição numa linha de continuidade em relação a uma ideia de programação desenvolvida há algum tempo, é importante realçar que, sem efectuar rupturas com o seu passado, o Guimarães Jazz revela sinais de vitalidade, resultantes de um crescimento sustentado - algo comprovado e legitimado pela afluência de um público heterogéneo e comprometido com as propostas neleapresentadas.



Uma retrospectiva destes 20 anos do Guimarães Jazz não poderá ignorar a abrangência, a abertura e o carácter multifacetado dos seus alinhamentos. Mais do que qualquer outro factor, terá sido a relação de exigência e gratificação mútuas, estabelecidas entre o festival e as pessoas, aquilo que mais contribuiu para a definição da sua identidade singular, permitindo-lhe evitar a erosão e odesgaste inevitáveis da passagem do tempo.



Arranca já na próxima semana a 20ª edição do Guimarães Jazz. É já na próxima terça-feira (08 Novembro), pelas 21h30, no Forúm Fnac – Guimarães, que o lançamento do livro comemorativo “Guimarães Jazz 20 anos” dá início a esta marcante edição, seguido de uma sessão de Café Falado no mesmo local.



O concerto de abertura, no dia 10 de Novembro, apresentará The Roy Haynes Fountain of Youth Band - quarteto formado pelo baterista Roy Haynes, figura fundamental da história do jazz que tocou com os maiores músicos deste género (os exemplos são intermináveis: Lester Young, Miles Davis, Charlie Parker, Eric Dolphy, John Coltrane, Chick Corea e, mais recentemente, Pat Metheny e Kenny Garrett) e ocupa hoje um lugar de preponderância na tradição da bateria. Do quarteto fazem parte o pianista Martin Bejerano, o contrabaixista David Wong e o saxofone alto Jaleel Shaw. Este espectáculo constitui um momento de cruzamento geracional entre um representante do passado vivo do jazz e jovens instrumentistas, força actual desta música.



Para o dia seguinte (11 de Novembro) apresentamos o The Swallow Quintet, com a presença incontornável de Carla Bley (órgão) e um conjunto de músicos de grande nível como Chris Cheek (saxofone tenor), Steve Cardenas (guitarra) e Jorge Rossy (bateria). Steve Swallow, líder do grupo, possui uma carreira impressionante, quer como instrumentista, quer como compositor (as suas composições foraminterpretadas, entre outros, por Gary Burton, Art Farmer e Stan Getz). Devesalientar-se o seu importante contributo para que o baixo eléctrico tenha atingido no jazz uma maior dimensão artística, emancipando-se enquanto instrumento dotado de voz própria. Da sua longa biografia/discografia destaca-se a colaboração com Gary Burton, no álbum Hotel Hello (ECM), com John Scofield em diversas gravações e com Paul Motian e Chris Potter, além da sua longa e profunda relação de cumplicidade com Carla Bley.



No primeiro sábado do festival (12 de Novembro) propomos, à imagem do que foi feito em edições anteriores, revisitar uma das mais exploradasconfigurações clássicas do jazz: um trio de piano, contrabaixo e bateria: o pianista Cedar Walton, acompanhado por David Williams no contrabaixo e por Willie Jones III na bateria.Deste pianista pouco haverá a dizer para além da sua impressiva discografia, da qual se destacam os seus trabalhos com Kenny Dorham, J.J. Johnson, o Art Farmer/Benny Golson Jazztet e com Art Blakey and the Jazz Messengers. Pode referir-se ainda a sua carreira em nome próprio, iniciada em 1966 com Cedar.



O Projecto TOAP/Guimarães Jazz terá, este ano, a sua sexta edição. Sendo uma criação do festival, afirma-se como uma das suas propostas fundamentais. O Projecto terá a sua apresentação no dia 13 de Novembro e reunirá em palco, como sempre, músicos portugueses e estrangeiros com experiência e percursos diferentes: Akiko Pavolka (voz, Fender Rhodes), Nate Radley (guitarra), Óscar Graça (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Jochen Rueckert (bateria). Como tem vindo a acontecer, este concerto será gravado e lançado em edição discográfica, no festival do próximo ano.



A segunda semana será inaugurada pelo grupo Ralph Alessi and This Against That with Tony Malaby, Andy Milne, Drew Gress and Mark Ferber (16 de Novembro). Ralph Alessi é um trompetista amplamente reconhecido no contexto do jazz contemporâneo, tendo colaborado com muitos dos músicos mais representativos da actualidade. Será acompanhado por Tony Malaby (saxofone tenor), Andy Milne (piano), Drew Gress (contrabaixo) e Mark Ferber (bateria). A escolha desta formação está intimamente relacionada com a actividade intensa de Ralph Alessi, enquanto pedagogo. Combinar-se-á a possibilidade de se assistir à sua actuação em concerto com o seu desempenho na orientação das jam’s sessions. Esta formação terá a seu cargo a direcção da semana de workshops e a preparação do concerto habitual com a Big Band daESMAE. Da actividade artística de Ralph Alessi podem destacar-se as suas colaborações com Ravi Coltrane, Uri Caine e Steve Coleman. Dos seus trabalhos em nome próprio, devem referir-se os discos “This Against That” e “Look”, ambos aclamados pela crítica de jazz.



Para o dia 17 de Novembro está reservado um momento de retorno simbólico a uma obra fundadora do jazz. McCoy Tyner Trio with special guests José James & Chris Potter, no seu projecto A Contemporary Exploration of John Coltrane & Johnny Hartman pretende revisitar e reinventar o disco de John Coltrane e Johnny Hartman, no qual o pianista participou. McCoy Tyner mantinha com Coltrane uma relação de proximidade e cumplicidade, tendo feito parte do The John Coltrane Quartet, um dos grupos seminais da história do jazz - acontecimento com um lastro histórico e uma densidade musical criativa impensável, naquela época. Para além de McCoy Tyner no piano, constarão músicos de grande nível como Chris Potter (saxofone tenor), José James (voz), JoeFarnsworth (bateria) e Gerald Cannon (contrabaixo). Da carreira de McCoy Tyner será importante destacar o seu trio com Avery Sharpe (contrabaixo), Aaron Scott (bateria) e, pontual mas significativamente, com Michael Brecker.



A noite de 18 de Novembro será preenchida pelo concerto de Henry Threadgill e o seu projecto Zooid. Henry Threadgill é saxofonista, figura de referência da cena jazzística de Chicago (fazendo inclusivamente parte da AACM) e autor de um jazz mais livre e experimental, com incursões em sonoridades abstractas, tendo a improvisação como vector de referência de todas as explorações musicais, protagonizadas pela sua formação. Em palco, Henry Threadgill (saxofone alto, flautas, arranjos e composição) será acompanhado por Christopher Hoffman (violoncelo), José Davila (trombone e tuba), Liberty Ellman (guitarra), Stomu Takeishi (contrabaixo) e Elliot Kavee (bateria). Dos seusinúmeros projectos como líder, podemos destacar o trio Air, o Sextett, a Society Situation Dance Band e, mais recentemente, o grupo Very Very Circus.



No dia de encerramento (19 de Novembro) realizar-se-ão dois concertos. À tarde, a Big Band da ESMAE, dirigida por Ralph Alessi e pelos elementos da sua banda, irá interpretar composições escritas e arranjadas para o efeito, produto final de uma semana de ensaios. Será um momento importante e significativo para os jovens músicos em formação, aos quais o festival quer estar associado, no seguimento do trabalho pedagógico que tem vindo a realizar há alguns anos. À noite, aquele que será o último concerto desta 20a edição deste festival, William Parker “Essence of Ellington”. William Parker (n. 1952, Nova Iorque) é amplamente reconhecido como um dos mais importantes músicos do jazz contemporâneo, destacando-se quer como compositor quer como improvisador, sendo hoje apontado como o contrabaixista maior das correntes mais vanguardistas e free da cena jazzística. O seu percurso, no entanto, é o de um artista extraordinariamente prolífico e multifacetado, não se encontrandovinculado a nenhum estilo ou movimento estético, tendo, ao longo da sua carreira e em paralelo ao seu trabalho ao lado de músicos com proveniências diversas ou em formações clássicas do jazz, composto para óperas, dança, teatro, cinema e performances a solo. No concerto que temos a honra de apresentar nesta edição do Guimarães Jazz, William Parker apresenta uma formação alargada em formato orquestra, propondo-se homenagear o lendário Duke Ellington com a composição “Urgency for Peace”, um espectáculo musical que se ancora numa revisitação da história do jazz e da sua reactualização e releitura à luz das linguagens musicais contemporâneas – um momento de celebração da memória e, simultaneamente, de antecipação e descoberta do futuro.



Nas actividades paralelas do festival destacamos as jam sessions e os workshops dirigidos pelos músicos Ralph Alessi, Tony Malaby, Drew Gress, Andy Milne e Mark Ferber. Ambas constituem iniciativas, baseadas na necessidade de gerar processos de interacção entre músicos consagrados, público e músicos em formação, e ambas se têm vindo a afirmar e a consolidar, sendo hoje uma parte fundamental do programa do Guimarães Jazz. As actividades paralelas completam-se com duas sessões de Café Falado (actividade habitual dos serões de terça no Café Concerto do CCVF) e dois encontros com duas figuras carismáticas do universo do jazz em Portugal com dois momentos de À conversa com o Jazz.





A marcar a 20ª edição do Guimarães Jazz - um festival consolidado no panorama cultural português e já com afirmação além-fronteiras, pela qualidade da programação, pela diversidade e quantidade de propostas que apresenta ao seu público, pelo crescimento sustentado e continuado e pela adaptação a novos desafios e às profundas mudanças que o contexto em que se realiza sofreu, a várias escalas - é merecida uma visão retrospectiva ampla não só do que aconteceu nas diversas edições, mas, principalmente, dos parâmetros, das condições, das opções e dos acasos que lhes deram origem e o sustentam no tempo. A pensar nisso, o livro “Guimarães Jazz 20 anos” é com certeza uma das melhores formas de assinalar este momento e prestar uma justa homenagem ao Guimarães Jazz e a todos os que otornaram possível nestes 20 anos. O Café Concerto do CCVF é o espaço reservado para o lançamento desta edição especial.



Todos os concertos do Guimarães Jazz acontecem no Centro Cultural Vila Flor, às 22h00, excepto o concerto da Big Band da ESMAE que se realiza às 18h00. Os bilhetes para a 20ª edição do festival podem ser adquiridos no Centro Cultural Vila Flor, nas lojas Fnac e no site www.ccvf.pt onde é possível consultar toda a programação.

É possível usufruir do serviço de baby-sitting durante o período dos espectáculos (1€), o qual poderá ser requerido junto da bilheteira.



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