Há cerca de um ano e meio fui convidado para Director Executivo para a Formação (DEF) com o intuito de chefiar o Departamento de Formação (DF) do Futebol Clube de Vizela (FCV) com o objectivo claro de “profissionalizar” esse sector de modo a que no curto/médio prazo pudesse garantir a qualidade suficiente para que a aposta do clube, passasse definitivamente pela formação.
Este processo teria 4 fases: primeiro, avaliação de todo o departamento; segundo, formulação de um projecto a médio/longo prazo; terceiro, a implementação efectiva do mesmo e quarto, a avaliação e ajustamentos (caso necessário) contínuos.
Após a autorização do anterior presidente para o inicio do projecto, foram colocadas em marcha uma serie de modificações visando a melhoria imediata de algumas áreas, consideradas essenciais para um bom funcionamento do departamento. Estas alterações passaram pela criação e reorganização de diversos sectores, que serviriam como traves mestras no sucesso do departamento. Fruto destas modificações, ficou claro que a organização e o nível de exigência tinham aumentado substancialmente resultando assim, na prática, que DF passou de um plano/sector anarca para um plano/sector organizado.
Assim, (1º Motivo) perante uma equipa técnica e atletas de qualidade, todo o nosso esforço recaiu na (re) educação dos dirigentes para estas novas exigências. Com a recusa sistemática de certos directores em melhorar a sua postura e alcançarem parâmetros exigidos para o perfil de director começaram os problemas internos, criando um ambiente de desestabilização que em nada favorecia o DF.
Este ambiente rapidamente se tornou insustentável tornando-se visível que a presença desses elementos não trazia quaisquer benefícios para os atletas e para o clube (não era a mais desejada), no entanto como se tratava de directores com muitos anos de casa e merecedores de todo o nosso respeito esperamos, em nome do tal proclamado amor ao clube que dizem ter, reconhecessem as divergências evidentes e colocassem o seu lugar à disposição, o que não viria a acontecer obrigando-nos a solicitar ao presidente uma decisão clara e efectiva na resolução deste problema. A sua decisão passou pela mudança de lugares, obtendo claramente uma “paz podre” que nada abona em favor de uma saudável harmonia que deve reinar num clube, até porque essas pessoas continuaram a “tentar” controlar situações que não lhes dizia respeito.
Verificou-se uma mudança de estratégia na condução dos destinos e funcionamento do clube (2º Motivo) com a entrada do novo presidente da comissão administrativa. Embora comungue do sonho que perfilou para o futuro do mesmo, não me revejo no caminho que trilhou para atingir esse sonho, provocando uma insatisfação e desmotivação no trabalho do dia-a-dia. No entanto com o decorrer do tempo e pela amizade que nos une, penso que este problema poderia ser facilmente ultrapassado, no sentido de se conseguir um equilíbrio, tão fundamental neste momento que o clube atravessa.
Quando fui convidado pelo anterior presidente para desempenhar as funções de DEF (3º Motivo), foi-me permitido a par das responsabilidades, que são muitas e sempre as assumi, ter poderes e autonomia para dirigir o DF, funções que considero ter estado à altura com nota bastante satisfatória: no plano desportivo, com três campeões (dois campeonatos e uma taça), quatro subidas de divisão, presença na segunda fase nos campeonatos nacionais que julgo só ter acontecido duas ou três vezes na vida do clube e os três escalões nos campeonatos nacionais, entrando assim no lote restrito de 20 equipas de todo o país que atingiram esse feito, como também no plano financeiro com aumento de 66% das receitas e tenho a certeza que também conseguimos uma redução de custos, embora no entanto, não seja possível a apresentação de números por falta de documentação de anos anteriores, sendo assim difícil fazer estudos de comparação. De realçar ainda a existência, pela primeira vez, de um relatório de contas do exercício financeiro do DF (Época 2010/2011), onde se divide por rubricas toda e qualquer actividade realizada e se explica, onde, como e quando se gastou cada cêntimo que entrou no DF.
Paralelamente, quando existe um responsável por uma secção é de esperar que tenha alguma intervenção nas decisões tomadas para os destinos que a envolvem, isso não aconteceu, provocando assim um estado de espírito de desmotivação no cumprimento das minhas funções e que veio abalar o sentimento de pertença e utilidade não reforçando o espírito de grupo tão essencial para o êxito de qualquer instituição/empresa. De salientar que após a entrega do pedido de demissão ao presidente, este, assumiu que realmente neste ponto, embora sem intenção disso, existiu alguma discrepância.
Em forma de conclusão, gostaria de dizer que lamento abandonar o clube neste momento tão crítico da sua existência, mas como devem compreender não tenho condições para realizar um trabalho digno, sério e transparente e gostaria de expressar a minha tristeza, que mais uma vez a mesquinhez e visão redutora não permita que este clube cresça de uma forma sustentada para patamares que merece e dizendo o que alguém me disse em determinado momento que este clube está “a carburar a 20% das suas possibilidades” mas eu vou mais longe e afirmo que “este clube, assim não passará dos 20% das suas possibilidades”.
Gostaria também de agradecer a todos aqueles que durante este ano e meio trabalharam comigo de uma forma competente e transparente, com especial relevo para os técnicos, atletas, massagistas, motoristas e alguns directores, que proporcionaram vivencias únicas de que nunca esquecerei. Uma palavra de apreço e muito sentida aos pais dos atletas que em todas as situações se mostraram receptivos, quer na resolução de problemas quer na angariação de fundos. O meu muito, muito obrigado!
VIVA o FC VIZELA!
Ricardo Oliveira