Morreu atropelada a caminho da escola
Menina de nove anos tinha acabado de se despedir da mãe
José Vinha (JN)
Acabara de se despedir da filha de nove anos, que ia para a escola. Atravessou a rua. Ao entrar na fábrica onde trabalha, ouviu um estrondo e olhou para trás. A filha tinha sido atropelada por um carro em despiste e morreu. Penacova, Felgueiras, está de luto.
Eram 13.45 horas. Como era rotina diária, Cristina Xavier Silva, de 39 anos, acompanhou, ontem, a filha mais nova, desde a casa onde moram, em S. Martinho de Penacova, Felgueiras, até à entrada da fábrica de calçado “Ricap”, onde trabalha há cerca de seis anos. Percorreram 900 metros a pé. Defronte à entrada da fábrica, do outro lado da rua, mãe e filha despediram-se com um habitual “até logo”.
A pequena Ana Francisca Silva Monteiro deveria continuar em frente, mais cem metros, para chegar à escola básica de Seixo, onde estudava no quarto ano, mas um “Smart”, conduzido por uma mulher de 23 anos, moradora na freguesia vizinha de Regilde, entrou em despiste. O carro mudou de faixa de rodagem e apanhou a menina de costas, empurrando-a sobre uma vedação.
A criança foi projectada para o interior de um terreno, vinco a morrer. Em pânico, a condutora saiu do carro e tentou socorrer a menina. O “Smart” começou a andar desgovernado e só parou numa pequena ribanceira. A mãe da criança e colegas de trabalho ainda tentaram salvar a pequena Ana Francisca, mas sem êxito.
Algumas crianças e algumas operárias viram o acidente, como foi o caso de uma menina de quatro anos, que seguia mesmo ao lado de Ana Filipa, e que precisou de receber ontem apoio psicológico.
A condutora do automóvel foi transportada pelos Bombeiros de Felgueiras ao hospital ,vindo a ter alta. Ontem, cerca das 17.45 horas, regressou ao local do acidente, acompanhada por militares da GNR. Ao que o JN apurou, a mulher não encontra explicação para o despiste, evidenciando ter sido alguma distracção fatal.
“Poderia ter levado mais gente”, desabafava um homem de meia-idade, justificando que, àquela hora, o movimento de pessoas aumenta, sobretudo com a entrada e saída de trabalhadores da fábrica de calçado. Na empresa “Ricap” a tarde de trabalho iniciou-se a um ritmo lento e pesaroso.
“Algumas operárias foram embora porque entraram em pânico”, revelou fonte da fábrica. Operárias disseram que houve colegas a desmaiar e outras a chorar compulsivamente, ao longo da tarde.
A notícia deixou em estado de choque a comunidade escolar. A professora da menina deslocou-se ao local do acidente. O estabelecimento de ensino tem apenas 33 alunos e todos se conhecem, alguns até são familiares uns dos outros. Os pais começaram a ir buscar os filhos à escola e o estabelecimento de ensino encerrou.
A DREN enviou dois psicólogos para auxiliar a família e alunos. “A direcção da escola fez o que nestas circunstâncias é recomendável. O ambiente era muito pesado e tivemos de dar a notícia triste, mas com serenidade para evitar maior perturbação”, relatou a educadora de infância, Maria Alcina Roxo.
Em casa da família, o padrinho e tio da pequena Ana Francisca recordava “uma menina feliz, alegre como todas as crianças felizes”, mas “infeliz ao ser colhida daquela maneira”. “É muito difícil lidar com esta dor”, concluiu João Salgado.
Dependendo da autópsia, a ser feita no Instituto de Medicina Legal de Penafiel, o funeral da menina poderá realizar-se ainda hoje e envolverá toda a comunidade num profundo ambiente de luto.