Adolescente de Vizela resgatado na Galiza está em casa e reconheceu suspeitos
ANTÓNIO SOARES *
As autoridades estão convencidas de que estão a lidar com um grupo que se dedica ao "tráfico internacional de seres humanos", eventualmente destinados a trabalho escravo.
Inicialmente, a PJ e a Polícia espanhola tinham anunciado a captura de dois homens e uma mulher e a libertação do rapaz, que estava na cave imunda de uma casa propriedade dos detidos, em Santa Mariña do Monte, Ourense. Os suspeitos têm antecedentes pelo mesmo tipo de crime. Ontem, foi detido um cidadão português, fora da Galiza ao que o JN apurou. A operação que está a ser levada a cabo pelas autoridades espanholas ainda não terminou e deverá haver mais detenções.
Ontem ainda, o rapaz voltou a Ourense, para identificar os autores do alegado sequestro, mas já regressou a casa. "Ele está bem ", disse a mãe ao JN, sem mais comentários. A PJ referiu, em comunicado, que o rapaz foi alvo de "maus- -tratos e agressões físicas por parte de vários indivíduos estrangeiros", mas não faz referência a qualquer agressão de índole sexual. João (nome fictício) tem ainda alguns hematomas resultantes das agressões.
A família recusar falar sobre o caso e a vizinhança, em Vizela, limita-se a especular sobre o que aconteceu ao rapaz, mas parece já claro para as autoridades que João terá saído de Vizela, na segunda--feira, por vontade própria e na sequência de um contacto que terá efectuado na Internet. Ainda naquele dia, o adolescente terá sido visto, perto de Guimarães, com dois indivíduos, seguindo sem constrangimentos, pelo menos aparentemente.
"Ele só usava a Internet quando a sala estava vazia e evitava mostrar o que estava a fazer quando chegava alguém", disse ao JN um vizinho que costumava vê-lo na sala pública de Internet de um café. Daí a convicção de que o rapaz terá conhecido alguém online e marcado encontro, eventualmente de cariz sexual, e depois aliciado com promessas de trabalho em Espanha.
Durante a ausência, a mãe de João recebeu dois telefonemas. Um foi curto, de um desconhecido, pedindo-lhe apenas para confirmar o seu nome. Outro foi do próprio rapaz, que garantiu ser bem tratado e prometeu enviar dinheiro. Mas quando a progenitora quis saber mais pormenores a chamada foi desligada. Foi este telefonema que permitiu à PJ localizar o rapaz e libertá-lo, na passada quinta-feira.
João vivia numa cave, rodeado de lixo e dormindo num colchão andrajoso, mas os vizinhos da casa de Santa Mariña do Monte garantem que ele se movimentava livremente, referindo-se aos donos da residência - negociantes em sucata e agricultores - como tios. Os suspeitos negaram as acusações.
* COM ANA CORREIA COSTA