(Autores da notícia JN ANTÓNIO SOARES, ANA CORREIA COSTA E CARLOS RUI ABREU)
Um rapaz,de 15 anos, que estava desaparecido desde segunda-feira, da sua casa, em Vizela, foi resgatado anteontem, pela Polícia Judiciária do Porto e pela Polícia espanhola, perto da cidade galega de Ourense. O seu destino era o trabalho escravo. Há três detidos.
Segundo a PJ, "o menor terá sido vítima de maus tratos e agressões físicas, por parte de vários indivíduos estrangeiros, sobre os quais recaem fortes suspeitas de envolvimento no tráfico internacional de seres humanos". Pelo contrário, a Polícia espanhola disse, em comunicado que os três detidos são portugueses e residem há longos anos em Ourense. Já têm antecedentes pelo mesmo tipo de crimes.
Ao que o JN apurou junto de vizinhos e amigos do rapaz, na rua onde mora, esta poderá ser mais uma história de burla via internet. O menor poderá ter sido seduzido por promessas de uma vida melhor. "Na segunda feira foi, como de costume, com um amigo para junto do quartel dos bombeiros onde esperam pela carrinha da escola mas, segundo consta, ele saiu logo na primeira paragem", recordou a vizinha, Laurinda da Costa. João (nome fictício) estuda numa escola profissional em Riba d´Ave onde está a tirar um curso de serralheiro.
Ao fim da tarde, quando o amigo chegou à rua sem o João, a mãe deste ficou assustada e, passado umas horas, comunicou o desaparecimento à GNR. Desde então, teve apenas um contacto telefónico do filho, no dia seguinte. Segundo o relato de Laurinda da Costa, telefonou para a mãe a dizer que estava no Porto e se encontrava bem e para não ficar preocupada. Quando a mãe tentou saber mais, a chamada foi interrompida abruptamente. "Não o deixaram falar mais, coitadinho", desabafou.
Mas terá sido precisamente uma chamada telefónica, efectuada pela mãe para o telefone do rapaz, que colocou a PJ no seu encalço e permitiu às autoridades ficar a saber que o adolescente estava em Ourense, mais precisamente na localidade de Santa Mariña do Monte, perto do quartel da Guardia Civil.
Cerca das 15 horas de anteontem, polícias dos dois países, chegavam à casa onde se encontrava o rapaz, que estava fechado na cave, bastante maltratado e rodeado de lixo e electrodomésticos velhos, e dormindo num colchão andrajoso. O rapaz terá recebido tratamento médico e foi ainda ontem entregue à sua mãe, que foi a Ourense.
Em Espanha, após as três detenções - um casal e um terceiro indivíduo - as investigações continuam para perceber a extensão da rede de trabalho escravo, uma vez que terão sido localizados mais jovens, de nacionalidade espanhola, nas mesmas condições.
Família problemática
Os vizinhos não sabem ao certo quantos filhos tem Ester, mãe do João, mas conseguiram identificar pelo menos seis. Três filhos menores já estiveram à guarda da Segurança Social mas, há cerca de dois anos, voltaram para mãe, que não trabalha. O pai só está uma vez por mês já que trabalha em Barcelona.
Quem conhece bem a realidade deste agregado é Rui Almeida, irmão da mãe do colega de escola do João e que vive do outro lado da rua. "A minha irmã é a encarregada de educação e dá-lhe muitas vezes de comer e algum dinheiro", frisou. "Ele pode ter sido iludido por uma vida melhor", sustentou.