«O que eu li …
Era ao cair da tarde. E, porque o desaparecer da luz do dia sempre provocou em mim ansiedade, melancolia, saudade, fui procurar, na minha íntima biblioteca, qualquer livro onde pudesse encontrar explicação para tantas emoções de desalento e novas pistas reais a percorrer em busca da plena realização pessoal. Os meus olhos foram poisar no meu «Livro da Vida». Comecei a folheá-lo e reli, período a período, a primeira página da minha vida: amor, carinho, sorrisos, amizades, brincadeiras infantis. Depois o despertar do conhecimento das coisas, das mais belas e das menos belas que, no entanto, eu acariciava. Sonhos que realizei, sonhos que se desfizeram como nuvens ténues no espaço; estudo nos livros escolares que me abriam novos horizontes; romances que me aguçavam a curiosidade; convívios que me acalentavam e despertavam a ânsia de me dar …
Ultrapassei algumas folhas e os meus olhos poisaram na primeira página da minha missão de professora. Tanto entusiasmo, tanta procura, tanta doação... Quantos caminhos percorri, quantas veredas sinuosas a desbravar até encontrar o segredo da autêntica felicidade!... Felicidade que se foi construindo, dia a dia, na realização pessoal que encontrei através do relacionamento com as mais variadas pessoas que eram o meu próximo. E o segredo estava no «Amor» desinteressado que fui repartindo.
Lentamente, fui folheando «o meu livro» até que meus olhos humedeceram ao soletrar a palavra mágica e dolorosa: «Perdas».
Os alunos da Universidade Sénior do Rotary Club de Vizela, acampanhados pelo reitor desta universidade, Prof. António Faria e por Belmiro Martins (enquanto professor e responsável do Rotary) deslocaram-se ontem ao cemitério de S. Miguel das Caldas para prestarem uma singela homenagem a Maria Alcina Claro, professora e grande apoiante de todas as instituições vizelenses, falecida há dois meses.
Ainda segundo informações prestadas ao ddV pela professora Elódia Canteiro «Na Fundação Jorge Antunes está uma exposição com as dedicatórias dos colegas e algumas fotos de participações da D. Maria Alcina».
O texto que encima esta notícia foi lido no cemitério, bem como outro que termina fazendo alusão ao simbolismo das flores que foram colocadas à ex-professora.
Na aula da Cultura Geral da Universidade Sénior, em Novembro de 2008, foi sugerido aos participantes que tecessem um comentário à frase:
“A memória é a coisa mais importante do Homem”
José Cardoso Pires, 1998
Eis a reflexão da D. Maria Alcina:
Penso que a memória não é apenas a faculdade de reter, em mente, o que se ouve ou lê. É também ir revivendo, em determinados momentos, todo o desfiar da vida principalmente quanto de positivo ou negativo nos marcou.
Maria Alcina Claro
Na sequência deste desafio escreveu o texto “O que eu li…” reflexo do seu nobre carácter e de abnegação na partilha da sua experiência de vida.