Barck Obama andou meses preocupado em encontrar um cão d’água para as suas filhas. Bastaria mexer um dedo e resolveria toda a situação daquelas crianças do Haiti que não têm família, um tecto, água, comida.
Jesus Cristo já teria dito: «Deixai vir a mim as criancinhas».
O Papa não fala.
Nestas alturas das tragédias os implacáveis egoístas da Terra (artistas, políticos, desportistas, banqueiros e outros para quem o dinheiro é tudo na vida), vêm dar a sua voz, a sua cara ou outra qualquer acção de charme mostrando-se condoídos de pena dos pobrezinhos. As televisões gostam disto.
Os principais provocadores das desigualdades sociais à face da Terra mostram-se humanos por alguns momentos. Deixam de lado as lantejoulas, os salões de ouro e prata e penetram nos escombros da sua própria consciência.
A TV mostra-nos um artista que cobra qualquer coisa como 15 milhões de euros por cada filme, dono de ilhas, palácios e outras coisas opulentas e supérfluas, a apelar a uma plateia de espectadores que «é necessário ajudar». Pois é. Mas não é agora, é sempre.
De quando em vez lá levamos com outros, fazendo um joguinho de futebol com pena da pobreza. Gente que acumula fortunas. Que chaga ao campo de avião particular. Mas o mais ridículo de tudo isto é que são os pobres, aqueles que vão à bola, a desembolsar do seu bolso, na compra do bilhete, a tal ajuda que estes notáveis tanto proclamam.
Após um grande terramoto, uma grande tragédia, surge sempre um terramoto de hipocrisia. É verdade que há gente de boas intenções, autênticos heróis que tudo fazem para colmatar o problema terceiro-mundista do Haiti, sejam louvados, mas a hipocrisia de outros revolta.
As vítimas da tragédia não deviam ser usadas.
Deviam ser ajudadas sério por quem tem posses para o fazer. Ajudadas quanto antes porque daqui a pouco já ninguém mais falará sobre o Haiti. Não falta muito.
DOMINGOS CASTRO