Promovida pela Casa do Povo de Vizela e com a colaboração da Câmara, a desfolhada à portuguesa voltou a revelar-se uma grande sucesso com os vizelenses mais idosos a recordarem o que era antigamente, a par das vindimas ou da monda do linho, a verdadeira festa da terra, e os mais jovens recebendo lições dos milagres da terra.
Baltazar Oliveira, o único agricultor de Vizela e presidente da Casa do Povo, transmitia aos mais novos a arte das desfolhadas. Alguns dos presentes juntaram-se aos cantares ao desafio e puxaram eles também algumas desgarradas.
A desfolhada, que Ary dos Santos tão bem escreveu num dos mais famosos poemas portugueses, viveu-se esta noite no centro da cidade de Vizela.
DESFOLHADA
Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha água e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.
É trigo loiro
é além tejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.
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Simone de Oliveira : Desfolhada
Música: Nuno Nazareth Fernandes
Letra: Ary dos Santos
"UNL - Literatura portuguesa"
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Música de Nuno Nazareth Fernandes. Escrita em 1968. Foi inicialmente patenteada com o título Desfolhada Portuguesa, modificado pelo autor em 1969 para Desfolhada. Interpretada por Simone de Oliveira, concorreu ao Festival da RTP em 1969, obtendo o 1º lugar. Interpretada por Simone de Oliveira no disco Valentim de Carvalho PEP 1276.