Ligado ao Departamento de Futebol Sénior há sete anos, Sérgio Coelho saiu por vontade própria do Clube como explica no seu blog Sentir Vizela numa extensa missiva com o título "Apito Final". O cargo vai ser ocupado por Alfredo Cunha que já desempenhou funções similares naquele clube e no CCD de Santa Eulália.
Sérgio Coelho foi guarda-redes do FC Vizela várias épocas inclusive na I Divisão Nacional como documenta a foto.
"Apito final
Exmo. Senhor Presidente da Direcção do FC Vizela (ou a quem possa interessar)
Servi o clube nos últimos 7 anos. Um longo e inesperado percurso. E gratificante, se apenas levar em conta o prazer e o nível do trabalho que realizei.
Bati-me e porfiei para que o clube ao longo deste período se modernizasse e criasse condições para se projectar no futuro. Sobretudo através da criação de uma estrutura forte e à prova de abalos, que permita, em situações de crise, minimizar-lhes o impacto e impedir que os seus efeitos se reflictam negativamente na operacionalidade do Clube, com especial incidência nos resultados da equipa de futebol.
Entendo que o clube, nos últimos anos, deixou escapar essa oportunidade de se transformar. Constato isso com pena mas também com a consciência de que não me cabe nenhuma responsabilidade no assunto.
Nem os estímulos nem os factores externos permitiram alterar uma estrutura cheia de vícios e ancilosada cujos funcionários (e também dirigentes e colaboradores), na sua maioria, ineficientes e acomodados, parecem mais preparados para mandar que para servir e são exímios em fugir ao trabalho e às responsabilidades. Talvez porque são avaliados e recompensados, não em termos de competência ou de desempenho, mas em obscuros critérios de antiguidade, bajulice e subserviência. Modelo em que não me revejo e em que não me quero converter.
Mas o que fiz ou pretendi fazer não é para aqui chamado, pois fui pago por isso. Embora quase sempre tarde e mal...
Ao longo deste tempo, trabalhei com dezenas de jogadores a quem sempre apoiei e à maioria dos quais me ligam laços de amizade. Colaborei com várias equipas técnicas às quais sempre devotei respeito e lealdade. Servi todas as direcções com honestidade e dedicação. Embora nem sempre com empatia em relação a certos elementos ou em concordância com determinadas linhas de orientação. Mas acho que não será ético da minha parte acrescentar qualquer tipo de comentário ou emitir qualquer juízo de valor em relação às pessoas e às respectivas gestões. Pelo menos, por enquanto…
Neste momento, após um processo turbulento de descida de divisão, cujos responsáveis continuam impunes e inimputáveis, mas cujas consequências tanto se fazem sentir, receio pelo presente e pelo futuro do clube.
Demitiu-se o Presidente da Direcção com o qual eu tinha um acordo verbal para continuar. Mais não me resta, até porque não tenho qualquer vínculo laboral com o clube, que seguir-lhe o exemplo e deixar ao seu sucessor a liberdade de contratar quem bem entender para as funções que tenho vindo a desempenhar.
Aliás, há dirigentes que pensam e dizem ser esse um cargo perfeitamente dispensável. E, em altura de crise, sempre será menos um encargo…
Prolongamento
Já agora, caro leitor, mais um pouco de paciência. Eu sei que o texto vai longo mas ainda aguenta duas ou três linhas.
Se isto é um adeus, e de certeza que é um fim de ciclo, não posso esquecer quem, durante este tempo, me apoiou e também quem me desafiou; quem chorou comigo e quem me fez rir; quem me estendeu a mão e quem me ensinou a levantar sozinho; quem caminhou a meu lado e quem me arrastou consigo…
E ficar profundamente reconhecido a todos os que me deram a prenda da sua amizade.
E embora não recorde todos os nomes tenho a certeza que algures cá dentro há uma pequena parte de mim que também lhes pertence.
Para os outros eis uma pequena história:
“ Numa equipa de futebol, o guarda-redes é para os colegas a derradeira esperança e para os adversários a última barreira. Para um dos lados é o alvo a abater e para o outro, apenas, o bode expiatório. É o saco de pancada e a vítima maior das circunstâncias.
Cai e ergue-se vezes sem conta. Aliás as quedas são, muitas vezes, artifícios e as melhores ferramentas para o seu desempenho. Quando o julgamos batido eis que se levanta, enraivecido e, mais forte e motivado, continua.
Muitas vezes armado em cavaleiro solitário de cruzadas inúteis."
Pontapé de saída
Não era minha intenção abrir o blogue desta maneira. Até já tinha o post de apresentação mais ou menos alinhavado… mas como se diz, Deus ri-se dos nossos planos, quando lhos contamos. E a nós, simples humanos, mais não resta que refazer o texto, mudar de linha e seguir em frente, só para não dar mostras que sermos derrotados pelos fados ou pelos deuses ou pelos outros, seja o fim do caminho.
Este espaço estaria reservado a outros projectos, mais dirigidos à coisa pública, tal como, aliás, consta no subtítulo. Estou consciente que este assunto não merece tamanha distinção mas também reconheço que é capaz de ter provocado a curiosidade de alguma gente. Mais a mais no decorrer de uma silly season em que é costume nada acontecer. E assim sendo…
No passado dia 14 de Agosto, após ter dado conta da minha intenção ao Presidente da Direcção do FC Vizela, sr. Paulo Pinheiro, entreguei na secretaria do clube, uma carta dirigida ao presidente da Direcção do FC Vizela “ou a quem o substitui” como achei por bem acrescentar entre parênteses. Isto porque, como é do conhecimento geral, o Presidente encontra-se demissionário. Face à ausência de resposta do presidente que, de partida para férias, ou por falta de tempo ou por achar que extravasava as suas competências, não encontrou vaga na agenda para tratar assunto tão comezinho, ou da não resposta do seu presidente-adjunto que 3 dias depois me confessou não se ter dado ainda ao trabalho de ler a missiva, decidi de "motu proprio", cessar as minhas funções no clube.
E pronto!
Achei por bem dar-me ao trabalho de redigir este esclarecimento porque como é usual nesta terra (talvez em todo o lado seja assim), até as coisas mais simples são passíveis de subjectivas interpretações e dão azo às especulações mais fantasiosas».
Sérgio Coelho