EVOCAÇÃO DE UM JUSTO
JOSÉ VAZ
(1918-2009)
Não sei com que imagem quero ficar de ti, meu caro José:
· Se a do cidadão irrepreensível, amante da paz, da ordem, da justiça;
· Se a do pai bondoso ou do avô ternurento, sempre mais dado à compreensão e à bonomia do que ao julgamento e ao castigo;
· Se a do crente, sem mácula nem hesitações, que via o mundo como “Vontade de Deus;
· Se a do marido apaixonado, até ao fim do mundo, pela sua “Quininha do Sino” – a sua “Rapariga” – a quem mimava ternamente e com quem mantinha conversas intermináveis, lendo-lhe nos olhos o que os lábios já não diziam…
Vou guardar isso tudo, certamente. Mas, acima de tudo, guardarei a imagem da pessoa simples e tranquila que via em tudo uma razão para ser feliz e dar graças a Deus:
· Pelas vinhas que plantou;
· Pelos filhos que criou;
· Pelos netos e bisnetos que apareceram;
· Pela chuva – que nunca foi tanta que não prometesse uma aberta…
… Até na dor – que nunca foi tão forte que tolhesse o sorriso.
Como “Homem de Deus”, sempre soubeste que, na Sua Vontade, não caberia nunca o deses pero. Creio mesmo que, se a soubesses, cantarias, com a tua bela voz de coralista de igreja, a canção de Violeta Parra / Mercedes Sosa: “Gracias a la Vida / que me há dado tanto…”: “Obrigado, Vida. Tu deste-me tanto…”
Creio, por fim, ter percebido esta tua partida: No dia de S. Valentim, colheste, maroto, uma flor para levares à “Quininha”… Não sei o que se passou. Embora tenhas voltado, já não quiseste ficar. E partiste.
Tal como a Lídia o foi para Ricardo Reis / Fernando Pessoa, és-nos “suave à memória”…
Descansa em paz, meu querido velho!
In Memoriam
Temos saudades suas, meu pai!
Ecoa ainda em nossos corações
o seu sorriso,
As suas palavras calorosas,
bem-dispostas, amigam.
Faz-nos falta esse esteio,
A sua alegria e dedicação ao trabalho,
Aos outros e à vida.
Extingue-se a sua voz clara e
firme
Cantando na Igreja ou a caminho de Fátima.
Mas como ainda ontem vocemecê dizia:
“Que seja enquanto Deus quiser!”
E Deus quiz que continuasse a cantar as Suas glórias
No Céu.
Sentimo-nos órfãos e tristes.
Mas prometemos continuar o seu trabalho
E fazer com que as sementes do Bem
Que nunca se cansou de deitar à terra
Germinem e dêem fruto.
Nós sabemos que no Céu
Continuará a velar pela colheita.
Até sempre, meu Pai!